Estratégico, destino de pacientes vindos de diversas áreas do Rio e da Baixada Fluminense, o Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) está prestes a mudar de mãos. O Ministério da Saúde deve anunciar nas próximas semanas a transferência da unidade, que fica às margens da Avenida Brasil e perto do Complexo da Maré, para o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), empresa pública que administra três hospitais, uma UPA e 15 postos no Rio Grande do Sul. Os desafios do novo gestor serão reabrir o pronto socorro, fechado há anos, concluir obras paradas e recompor a equipe. Ontem apenas 45% dos 412 leitos do Bonsucesso estavam ocupados.
Andaraí fica para depois
A mudança faz parte da estratégia do Ministério da Saúde de sair da administração de seus seis hospitais gerais no Rio. O Andaraí foi o primeiro a ganhar novo destino: uma portaria do governo federal, do início de julho, pretende transferir a unidade para o município. A medida prevê a gestão compartilhada por um período de 90 dias, passível de renovação. No entanto, o acordo só deve sair do papel depois da eleição municipal, no fim de outubro.
Com a transferência do Bonsucesso, uma filial do GHC será aberta no Rio até o fim do ano. Todos os detalhes desse projeto já foram aprovados pelo Conselho de Administração do grupo. Ao assumir a unidade, a empresa vai se deparar com os serviços da sala amarela, utilizada para atender pacientes no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) da emergência, fechado, além da falta de médicos. Esses setores foram afetados por um incêndio em 2020, em que três pacientes morreram, e não voltaram a funcionar. Além disso, servidores do hospital estão em greve desde 4 de agosto, em protesto contra a descentralização.
Gestão compartilhada: além da 'municipalização' do Hospital Federal Andaraí, outras cinco unidades devem ser transferidas; entenda
— Essa transferência de gestão pode ser vista como uma aposta ousada do governo federal, mas também como um reconhecimento tardio de que o sistema, como estava, havia falhado. Se por um lado há expectativas de melhorias na qualidade do atendimento e na gestão hospitalar, por outro, fica a dúvida: será que um novo modelo de administração vai ser suficiente para reverter anos de descaso e devolver ao hospital a importância que ele merece? — questionou uma médica, que prefere não ser identificada.
Especialista em saúde pública e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lígia Bahia disse que a transferência do Bonsucesso é uma tentativa de o Ministério da Saúde “dividir responsabilidades”.
— A decisão de trazer um grupo de fora para um hospital como o Bonsucesso pode ser considerada uma extravagância do governo. Não tivemos aumento no orçamento da Saúde e muito menos vimos mudança nos cenários político e técnico. Portanto, as promessas de melhorias teriam que ser mais consistentes. É preciso ter uma sinalização muito mais objetiva do governo, algo que vá além do anúncio da mudança de gestão. A hierarquia de um hospital é complexa. Essa ideia de mudar por cima não resolve o problema — opinou.
Nessa transição de toda a rede, o Ministério da Saúde discute ampliar as atribuições de seu Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), que desde abril centraliza as compras dos seis hospitais gerais. A ideia é que o órgão tenha autonomia para assumir a gestão de recursos e a gestão dos contratos dessas unidades do Rio. Para isso, o departamento ganhará seis novos coordenadores, um assessor de ensino e pesquisa, oito chefes de divisão e um pregoeiro.
Depois do Bonsucesso, o Hospital Federal dos Servidores do Estado deve ser transferido para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Nessa divisão, o Hospital Federal da Lagoa ficaria com a Fundação Oswaldo Cruz ou o governo estadual. O destino do Hospital Federal de Ipanema é incerto, e existe uma intenção do Ministério da Saúde de negociar que o Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, fique com a prefeitura. Antes, no entanto, será preciso acertar os detalhes do Andaraí. O Ministério quer que o município do Rio assuma o controle total do hospital, cujo orçamento seria de R$ 400 milhões por ano.
‘É uma integração’
Procurado, o secretário de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Adriano Massuda, afirmou que a pasta está buscando maneiras de fazer com que os seis hospitais voltem a funcionar:
— O que nós estamos fazendo não é um fatiamento, é uma integração. A pressa em fazer esses acordos é porque a gente quer resolver o problema, mas existe cautela para evitar qualquer problema. Faz sentido, dentro da regra do SUS, descentralizar e buscar gestões que tragam mais eficiência
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