Desde o dia 29 de fevereiro de 2024, uma pergunta continua sem resposta. Onde está a advogada e estudante de psicologia Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 55 anos? Ela sumiu após sair a pé de um shopping, em Petrópolis, na Região Serrana. Quatro pessoas suspeitas de envolvimento no desaparecimento da advogada estão presas. Um pagamento de resgate no valor de R$ 4,6 milhões chegou a ser feito pela família da vítima, mas ela nunca retornou para casa. A polícia concluiu, num relatório de inquérito do caso, que a advogada foi possivelmente assassinada.
Nesta quinta-feira, o mistério sobre onde está Anic completou seis meses. Apesar de buscas terem sido feitas por policiais da 105ªDP (Petrópolis), o corpo da advogada nunca foi localizado. O caso, no entanto, pode ter uma reviravolta. A defesa do técnico de informática Lourival Correa Netto Fadiga, principal suspeito do crime e um dos quatro presos pela polícia, prometeu fazer revelações, nos próximos dias, sobre a existência de um suposto mandante do desaparecimento. Uma tratativa para tentar viabilizar um acordo de colaboração premiada também estaria em andamento, segundo a defesa.
Segundo a advogada Flávia Froés, uma das responsáveis pela defesa de Lourival, ele deverá ser ouvido pelo Ministério Público do Rio já nesta sexta-feira, no Complexo de Gericinó, onde está preso, em Bangu.
O relatório da investigação do caso, feito pela Polícia Civil, revela ainda a proximidade entre o suspeito e a vítima, que segundo depoimento de uma testemunha, mantinham um caso extraconjugal. Ele também conclui que Anic teria entrado em um carro dirigido por Lourival, após ter sido vista pela última vez caminhando pelo Centro do município de Petrópolis, no fim da manhã do dia 29 de fevereiro de 2024.
Quatro pessoas, entre elas Lourival, foram presas preventivamente por ordem da 2ª Vara Criminal de Petrópolis, após serem denunciadas pela Promotoria de Investigação Penal (PIP) como suspeitas de envolvimento no desaparecimento de Anic. A família da vítima pagou a quantia de R$ 4,6 milhões, exigida por uma pessoa que fez contato por mensagens de texto com o telefone de Benjamim Cordeiro Herdy, de 78.
Marido da estudante, ele é casado há cerca de 20 anos com a advogada, além de ser um dos herdeiros do fundador de um complexo educacional que originou uma universidade particular, vendida para outro grupo educador, em 2021. Apesar do pagamento, ela não voltou para casa. A polícia trabalha com a hipótese de a advogada ter sido assassinada.
"Assim, Lourival Correa Netto Fadiga foi o idealizador do falso sequestro, tudo com fim de extorquir Benjamin a pagar o resgate de um sequestro que não ocorreu. Há fortes suspeitas que Anic, em razão desse relacionamento extra conjugal, tenha aderido ao plano criminoso de Lourival, ao menos inicialmente, certo é que ela de fato não foi mais vista, não havendo notícias de seu paradeiro, o que indica que ela possa ter sido assassinada", diz um trecho do relatório feito por policiais da 105ªDP (Petrópolis), responsáveis pela investigação.
As investigações feitas pela Polícia Civil e pelo MPRJ mostram que Lourival era responsável pela segurança pessoal da família de Anic, além de ter instalado câmeras de vigilância na casa onde a vítima e o marido moram, em Teresópolis. A advogada desapareceu após sair de um shopping, sendo vista pela última vez, por volta das 11h34, próximo ao cruzamento entre as Ruas Marechal Deodoro e General Osório, no Centro de Petrópolis.
Imagens feitas por câmeras de segurança mostram que um carro dirigido por Lourival estava nesse mesmo local. "(...) Perceba que o carro de Lourival passa neste último local às 11h49min48seg, ou seja, um minuto após passar no local da câmera anterior (11h48min52seg), sendo que o trajeto é muito curto, aproximadamente 300m, sendo normal fazê-lo em 30 segundos. Assim é possível concluir que o carro de Lourival faz uma parada para Anic entrar", diz outro trecho do relatório.
A quantia exigida em dólares, reais e bitcoins para liberar Anic — no total de R$ 4,6 milhões — foi paga pela família da vítima no dia 11 de março de 2024. Uma parcela do dinheiro em reais foi depositada em 40 contas usadas por doleiros. Outra parte serviu para comprar bens como uma picape de luxo, uma motocicleta e 950 celulares que iriam abastecer uma loja de produtos eletrônicos de Teresópolis. Deste total, a polícia recuperou cerca de R$ 800 mil que havia sido depositados numa conta de bitcoins, um carro e uma motocicleta.
Os dois veículos foram comprados por Lourival e estão apreendidos à disposição da Justiça. A compra da Picape foi feita pelo suspeito, em espécie, no mesmo dia do pagamento do resgate.
A maior parte da quantia para pagar pelo resgaste de Anic foi colocada em uma mochila e seria entregue por Benjamim e Lourival no dia 11 de março em um shopping, na Zona Oeste. Quando a dupla estava a caminho do local, Lourival alegou ter recebido em seu celular uma mensagem determinando que levasse o dinheiro até uma cesta de lixo do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes, enquanto o marido de Anic aguardaria no shopping indicado pelo retorno da mulher. Anic, no entanto, nunca reapareceu.
A polícia apurou que o suspeito não esteve em nenhuma comunidade e sim numa concessionária, onde comprou uma picape. Os quatro presos respondem por crime de extorsão mediante sequestro.
Além de Lourival estão presos um filho e uma filha de Lourival, além de uma ex-namorada do suspeito. Todos são acusados de participar de alguma maneira no desparecimento de Anic.
Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio