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GERADO EM: 05/09/2024 - 04:31

Conflito no Arquivo Nacional por gatos: equilíbrio entre preservação e cuidado animal

Funcionários do Arquivo Nacional entram em conflito devido à presença de gatos no prédio, que podem danificar documentos históricos. A diretora busca equilíbrio entre preservação e cuidado com os animais. Outras instituições também lidam com dilemas similares, como a presença de gatos em prédios públicos e privados. O cuidado com animais abandonados é um desafio enfrentado em várias universidades no Brasil.

A entrada do prédio histórico em estilo neoclássico onde funciona o Arquivo Nacional, no centro do Rio, é guardada por dois imponentes leões esculpidos em rocha. Eles não são os únicos felinos ali. Na área do estacionamento, nos fundos do edifício erguido em meados do século XIX, seus primos distantes, os gatos, reinam. Deitados à sombra dos carros, esticados nos degraus de uma escada externa, são tratados a pão de ló por funcionários apaixonados pelos bichanos (e quem não seria?). Embaixo de um caminhão encostado no pátio, ração de qualidade e em abundância, brinquedinhos pendurados e caminhas arrumadas. Nada demais, a não ser pelo fato de que logo ali do lado estão os depósitos onde ficam guardados milhares de documentos importantes da História do Brasil.

Gatos que moram em instituições públicas e são cuidados por funcionário. Na foto, gatil no estacionamento do Arquivo Público, no Campo de Santana — Foto: Márcia Foletto
Gatos que moram em instituições públicas e são cuidados por funcionário. Na foto, gatil no estacionamento do Arquivo Público, no Campo de Santana — Foto: Márcia Foletto

Como é da natureza dos gatos não conhecer limites, eventualmente um ou outro foi visto, e fotografado, serpenteando pelas caixas do arquivo e deixando pequenas marcas de sua presença. Os responsáveis pela conservação do acervo, claro, ficaram de orelhas em pé. A situação criou uma celeuma interna e dividiu os funcionários entre os pró e contra a presença dos gatos na instituição, como mostrou o podcast Rádio Novelo Apresenta. De tão séria, a questão é tratada em dois processos internos — abertos em fevereiro de 2021 e agosto de 2023 —, cujo conteúdo está atualmente fechado para consultas externas.

A direção do Arquivo Nacional afirma que promoveu uma campanha de adoção dos animais no ano passado. Depois disso, a população de felinos no endereço diminuiu, mas temporariamente. O caso é que o prédio está localizado em frente ao Campo de Santana, conhecido local de concentração não apenas de gatinhos, mas de outros animais, como cotias e pavões, por exemplo. Para os gatos, basta atravessar a rua. A acolhida é certa. Depois que o podcast foi ao ar, nem o grupo que é a favor da permanência dos gatos no espaço, nem a turma do contra parecem querer falar mais sobre o assunto. Já a direção decidiu se manifestar.

De acordo com a historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, que desde março do ano passado está à frente do Arquivo, foram instaladas telas nos telhados e reforçadas medidas para evitar que os bichanos entrem pelas portas nos depósitos de documentos. Até o fim do mês, é esperada a assinatura de convênio com entidades de proteção animal para acelerar o processo de adoção. A diretora-geral, no entanto, sabe que a batalha está longe de terminar.

— Tínhamos que tomar providências quanto à principal finalidade do Arquivo Nacional que é cuidar do patrimônio ali custodiado. Se naturalizou essa presença (dos gatos), e estamos num esforço de conscientização para que se reduzam as tensões entre os grupos. Não queremos um ambiente conflagrado, mas com cuidado para não ser interpretado como a tomada de partido por um grupo ou outro, e deixando bem claro que ninguém está autorizado a praticar qualquer violência contra os gatos — diz a diretora.

Porta não barra Doralice

O delicado equilíbrio entre o respeito aos gatos — e ao sentimento genuíno e altruísta dos seus cuidadores — e a necessidade razoável de manter os felinos longe do acervo levou à instalação de um foro de discussão interno, em maio de 2022, onde os dois grupos se sentaram para conversar. A coisa não foi muito adiante. Em determinado momento, a turma pró-gatos, em sinal de boa vontade, chegou a se cotizar para comprar uma mola capaz de garantir a vedação das portas de um dos depósitos, mas o fato é que Doralice (nome de uma das gatas residentes) e seus amigos continuaram a circular para desespero dos guardiões do arquivo.

Embora não haja uma lei específica que trate do caso, o “Plano de Gerenciamento de Riscos, Salvaguarda & Emergência”, da Biblioteca Nacional, preconiza que se deve “evitar alimentar animais como pombos, gatos etc, no entorno do prédio”.

Gato se abriga embaixo de um veículo no pátio do Arquivo Nacional — Foto: Márcia Foletto
Gato se abriga embaixo de um veículo no pátio do Arquivo Nacional — Foto: Márcia Foletto

A acolhida a gatos em prédios públicos ou de grandes instituições privadas não é fato raro. A diferença é que nem todos têm um acervo histórico — muitas vezes frágil — que precisa de cuidado extra. Ainda assim, a polêmica sempre dá um jeitinho de se instalar.

— Sempre tem gente que não gosta. Eu não consigo entender, mas tem. A gente aqui cuida, alimenta, adota quando dá. Eu mesmo adotei o Tom há dois anos. Eles (os gatos) são incríveis — exulta Suzie de Oliveira, de 53 anos, que trabalha na sede da prefeitura, na Cidade Nova.

No prédio do Centro Administrativo São Sebastião, a colônia tem cerca de 150 gatos, boa parte deles batizados pelos diferentes grupos que se reúnem espontaneamente para garantir alimentação aos animais. Muitos ficam tão chegados que ganham nomes dos “donos”. Batem ponto por lá, em cima de uma casinha charmosamente desenhada, dentro de um caixote improvisado e até no vão de uma coluna do prédio, o Laurinho, o Breu, o Catatau, a Broa, a Odete, o Tang, a Marmelada e a Frida. De acordo com a Secretaria municipal de Proteção e Defesa dos Animais, os inquilinos do pedaço foram esterilizados, microchipados e vacinados.

Funcionária da PUC, onde trabalha há 28 anos, Adriana Santos, de 55, cuida de 110 gatos, dos quais 50 povoam os pilotis e jardins da universidade, além da área vizinha da futura estação Gávea do metrô. Os outros 60 são do vizinho conjunto habitacional conhecido como Minhocão. Para alimentar e cuidar da saúde de tantos animais, Drika, como é conhecida, estima ter uma despesa mensal em torno de R$ 5 mil. Para dar conta dos bichanos, costuma realizar rifas, sorteios, bazares, brechós e outras atividades.

— É um trabalho solitário. Ninguém imagina a dificuldade que a gente passa. As pessoas não compreendem — diz Adriana, que faz questão de castrar todos os gatos.

Em igreja e universidade

Na Catedral Metropolitana, fiéis convivem com os cerca de 90 gatos que transitam pelo local. Segundo o pároco, o cônego Cláudio Santos, há um grupo de mulheres que cuidam dos animais voluntariamente.

— Elas vêm de manhã e à noite. Colocam água e comida diariamente para eles. São pessoas que cuidam deles por afeição — diz o religioso.

Gatinho no entorno da sede da prefeitura do Rio: grupos de felinos recebem cuidados dos servidores do municípío — Foto: Márcia Foletto
Gatinho no entorno da sede da prefeitura do Rio: grupos de felinos recebem cuidados dos servidores do municípío — Foto: Márcia Foletto

Muitas das pessoas que cuidam de animais abandonados enfrentam dificuldade em admitir o que fazem, por medo de que isso estimule ainda mais o abandono. Prefeito da UFRJ, Marcos Maldonado afirma que o abandono de animais é um problema de difícil solução e enfrentado por outras universidades brasileiras:

— Na USP, por exemplo, onde já fui visitar o programa de monitoramento de abandono de animais, o problema cresce nas proximidades das férias, quando as pessoas querem viajar, mas não desejam levar os pets.

Somente no campus da Praia Vermelha, na Urca, há cerca de 70 animais abandonados. Apesar dos avisos espalhados pelo local, alertando que a prática é crime federal, todos os meses animais são deixados lá por seus tutores, que não se intimidam nem com as câmeras de monitoramento.

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