RIO — Policiais da 16ª DP (Barra da Tijuca) cumpriram, no início da manhã desta sexta-feira, mandados de busca e apreensão em quatro endereços ligados ao engenheiro Leniel Borel de Almeida, à professora Monique Medeiros da Costa e Silva e ao médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade). Eles são, respectivamente, o pai, a mãe e o padrasto de
Henry Borel Medeiros
, de 4 anos, morto na madrugada do último dia 8.
As diligências foram à casa de cada um deles, em endereços no Recreio dos Bandeirantes, na Barra da Tijuca e em Bangu, bairros da Zona Oeste do Rio. Equipes estiveram também na residência do policial militar e deputado estadual Jairo de Souza Santos, o Coronel Jairo (MDB), pai de Jairinho, também em Bangu.
Foram apreendidos cinco celulares e um computador na casa em que Dr. Jairinho estava. Na residência de Leniel, os investigadores encontraram dois celulares e um computador. Já na de Monique, houve apreensão de quatro celulares.
Os mandados foram deferidos pela Justiça na quinta-feira, depois de um pedido feito pelo delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP, no inquérito que apura as circunstâncias da morte do menino. De acordo com o laudo de necropsia, Henry sofreu hemorragia interna e laceração hepática e seu corpo apresentava lesões como equimoses, hematomas, edemas e contusões.
Laudo do Instituto Médico- Legal (IML) constatou muitas lesões espalhadas pelo corpo do menino, infiltrações hemorrágicas nas partes frontal, lateral e posterior da cabeça, contusões no rim, no pulmão e no fígado. A mãe afirmou acreditar que ele tenha caído da cama e batido a cabeça Foto: Reprodução / Instagram
Coletiva sobre a conclusão do inquérito sobre a morte do menino Henry Borel. Da esquerda para a direita estão:
Marcos Kac (promotor do caso), o delegado Antenor Lopes (diretor da DGPC), Henrique Damasceno (delegado titular da 16ª DP), Denise Rivera (perita criminal) e Ana Paula Medeiros (delegada-adjunta da16ª DP) Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
O delegado titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), Henrique Damasceno, deu uma entrevista coletiva sobre a conclusão do inquérito que apurou a morte de Henry. "A única pessoa calada foi o Henry. Ele pediu ajuda e não foi ajudado", disse o investigador Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Henry, exibe a tatuagem feita para esconder uma homenagem ao ex-marido nas redes sociais. O desenho foi feito no dia em que Monique pediu que Jairinho "pagasse suas coisas" para não prejudicá-lo Foto: Reprodução
Os avós de Henry com o menino ainda bebê. 'Me sinto muito culpada', disse mãe do menino ao pai uma semana após morte. Conversa com o avô da criança faz parte do conteúdo recuperado pela polícia no celular de Monique: 'Tudo foram escolhas minhas', disse ela em outro trecho Foto: Reprodução
Henry em sua última festa de aniversário: pai compartilhou foto nas redes sociais no dia em que o menino faria 5 anos Foto: Arquivo pessoal
Monique revela 'humilhações e agressões' em carta sobre a relação com Jairinho. Carta foi escrita na última sexta-feira (23), no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde recebe tratamento contra a Covid-19. A professora descreve uma rotina de violências, humilhações e crises de ciúmes do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido) Foto: Reprodução
Dr. Jairinho e Monique Medeiros, em fotos feitas no ingresso do casal no sistema penitenciário Foto: Reprodução / Agência O Globo
Vereador Dr. Jairinho, preso, ao lado de diretor de presídio. Na imagem ele come um sanduíche que o diretor entregou para ele Foto: Reprodução
O advogado André Françao, que representava Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, Barreto renunciou à defesa do vereador no caso Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Doutor Jairinho durante discurso na Câmara de vereadores, onde os sete membros do Conselho de Ética da Câmara dos Vereadores decidiram, por unanimidade, abrir o processo de cassação do mandato do vereador Foto: Renan Olaz / Agência O Globo
Dr. Jairinho foi preso junto com Monique, mãe do menino Henry, por tentar interferir na investigação do caso. Segundo a polícia, o casal será indiciado por tortura e homicídio duplamente qualificado, além de poder perder o mandato na Câmara dos Vereadores do Rio Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Hnery cumpre prisão preventiva e será indiciada por tortura e homicídio duplamente qualificado Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Peritos chegam ao edifício Majestic para fazer a reconstituição da morte do menino Henry Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Câmera encontrada por policiais da 16ª DP (Barra da Tijuca) no quarto de Henry. Anotação recuperada em celular de Monique Medeiros da Costa e Silva expõe sua vontade de instalação do equipamento dentro de imóvel no Majestic Foto: Reprodução
Edifício Majestic, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde o menino Henry vivia com a mãe e o padrasto Foto: Reprodução / TV Globo
Henry no colo da mãe enquanto Dr. Jairinho faz um carinho nele Foto: Reprodução
A mãe de Henry, Monique Medeiros, e o padrasto, o vereador Dr. Jairinho, chegam à 16ª DP (Barra) para ser ouvidos como testemunhas Foto: Reprodução / TV Globo / Agência O Globo
Polícia cumpre mandado na casa da família de Monique, em Bangu, Zona Oeste do Rio Foto: Fabiano Rocha em 26/03/2021 / Agência O Globo
Leniel Borel de Almeida em entrevista ao Fantástico: 'Acordo de manhã chorando. Tem que ter muita força, cara. E o que eu sei é que esse menino não pode ter morrido em vão' Foto: Reprodução / TV Globo
Dr. Jairinho na Câmara dos Vereadores do Rio. Ele era padrasto de Henry Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo - 23/05/2019
Henry Borel Medeiros tinha 4 anos quando morreu na madrugada do dia 8 de março em condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde morava com a mãe e o padrasto. A causa da morte, segundo laudo do IML, foi "hemorragia interna causada pelo rompimento do fígado" Foto: Reprodução / Instagram
O pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, que é separado da mãe do menino, tem publicado fotos e mensagens para o menino. Ela diz ainda esperar respostas Foto: Reprodução / Instagram
Em trocas de mensagens entre o pai e a mãe, Monique Medeiros, foi revelado que Henry não gostava de voltar para a casa, onde vivia com Monique Medeiros e o padrastro, o vereador Dr. Jairinho Foto: Reprodução / Instagram
Monique com o filho Henry Foto: Reprodução TV Globo
Além dos mandados de busca e apreensão, a Justiça também deferiu as quebras de sigilos telefônicos e telemáticos de Leniel, Monique e Jairinho, além da interdição do imóvel no Condomínio Majestic, na Barra, onde o menino estava, por 30 dias.
Em depoimento, Monique contou que assistia a uma série na televisão com Jairinho, na sala do apartamento em que o casal morava com Henry, quando, por volta de 3h30m, encontrou o menino caído no chão do quarto, com mãos e pés gelados e olhos revirados. A professora disse acreditar que o filho possa ter acordado, ficado em pé sobre a cama e se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona.
Jairinho confirmou as informações prestadas por Monique aos policiais. Ele contou ter dormido após tomar três medicações que faz uso há cerca de dez anos e, ao ser acordado pela namorada, foi urinar. Com os gritos da mulher, ele disse ter caminhado até o quarto. No local, o vereador informou ter colocado a mão no braço de Henry e notado que o menino estava com temperatura bem abaixo do normal e com a boca aberta, parecendo respirar mal.
O vereador disse que acreditou que Henry havia bronco-aspirado, mas seu quadro evoluía mal, já que no caminho para o hospital não respondeu à respiração boca a boca nem aos estímulos feitos por Monique. Jairinho contou que, apesar de ter formação em Medicina, nunca exerceu a profissão e a última massagem cardíaca que realizou foi em um boneco, durante a graduação.
O casal levou Henry à emergência do Hospital Barra D'Or mas, de acordo com as três médicas pediátricas que o atenderam, o menino já chegou morto a unidade de saúde e com as lesões descritas no laudo de necropsia.
Até o momento, a Polícia Civil já ouviu 14 testemunhas do caso, incluindo parentes, vizinhos e funcionários da família.
O que dizem os advogados
De acordo com o advogado André França Barreto, que defende Monique e Jairinho, embora ainda abalado com a morte de Henry, o casal recebeu a polícia de maneira “tranquila e solícita” e permanece “confiante e seguro” de que provará sua inocência.
“A busca e apreensão realizada também na casa do pai, Leniel, ao contrário do que afirma o seu advogado, mostra que a polícia segue investigando todas as hipóteses”, disse o advogado, em nota.
Já o advogado Leonardo Barreto, que defende Leniel, considerou o cumprimento dos mandados de busca e apreensão “excelente” e um passo importante para elucidação do caso.