Rio Petrópolis

Tragédia em Petrópolis: O desespero em ônibus engolidos pela enxurrada

Caixa Daniela da Silva Viana, de 30 anos, voltava do trabalho quando o ônibus em que estava foi atingido pela chuva
O desespero de passageiros tentando sair de ônibus engolidos pelas águas do temporal em Petrópolis Foto: Reprodução
O desespero de passageiros tentando sair de ônibus engolidos pelas águas do temporal em Petrópolis Foto: Reprodução

RIO — Entre as dezenas de desaparecidos após o temporal que castigou e matou mais de cem em Petrópolis , na Região Serrana do Rio, na terça-feira está a caixa Daniela da Silva Viana, de 30 anos. Ela voltava do trabalho quando o ônibus em que estava foi atingido pela chuva. A mulher chegou a fazer imagens do veículo, mas sumiu em seguida.

"Estou com medo. Sério. O ônibus está estalando. Deus me proteja", escreveu ela ao fazer o vídeo e enviar a parentes.

 

Daniela da Silva Viana, desaparecida em Petrópolis Foto: Reprodução
Daniela da Silva Viana, desaparecida em Petrópolis Foto: Reprodução

Desde então, familiares procuraram por Daniela nos hospitais e estão no Instituto Médico-Legal (IML) de Petrópolis.

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— Ela mora no Valparaíso e trabalhava no Armazém do Grão do Bingen. Quando começou a encher, ela ligou e falou com a minha mãe que estava no ônibus e daí em diante perdemos o contato — disse Matheus de Almeida Santos, primo de Daniela.

Desespero dos passageiros

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o desespero de passageiros em ônibus que são arrastados pela correnteza de lama durante o temporal da última terça-feira. Muitos deles aparecem tentando sair pelas janelas dos veículos, quase submersos. Um deles, um adolescente chamado Gabriel, de 17 anos, foi identificado por parentes nas imagens como tendo sido arrastado pela água. Seu tio, Donizete, esteve nesta manhã no Instituto Médico-Legal (IML) buscando por informações sobre o jovem, que continua desaparecido.

"Pelo amor de Deus, orem por todos nós dentro do ônibus. Todo mundo está em pânico. Estamos ilhados", escreveu ela em uma rede social. A mulher está desaparecida. O forte temporal que caiu na tarde desta terça-feira, dia 15, em Petrópolis, na Região Serrana, deixou ao menos 78 mortos na cidade, segundo o governador Cláudio Castro. A prefeitura decretou estado de calamidade pública.

'Guerreiro desde pequeno'

Outro desaparecido é Rafael Xavier de Castro, de 42, que lutou pela vida desde cedo. Ainda adolescente, aos 11 anos, o garoto simpático , alegre e muito feliz, como era descrito por familiares, sofreu foi atropelado quando buscava uma bola de futebol na rua de casa. Durante dois meses fico em coma em um hospital de Petrópolis. Após receber alta, ele ainda ficou mais dois anos em cima de uma cama e precisou reaprender a andar, falar e comer sozinho. Anos depois, o rapaz sofreu um segundo acidente. Quando seguia para Itaipava bateu o carro em que estava.

Hospitalizado, precisou passar por uma cirurgia. No entanto, a operação foi mau sucedida e ele teve que amputar a perna esquerda. Novamente, teve que reaprender a andar. Com uma prótese, ele era o xodó das sobrinhas.

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— Meu irmão era a melhor pessoa do mundo. Guerreiro e lutou pela vida desde pequeno. Não merecia o que passou — conta Felipe Xavier, irmão mais novo, que reconheceu o corpo nesta tarde.

Rafael, que trabalhava no Supermercado Assaí, voltava para casa no Quintanilha, e quando passava pela Coronel Veiga o ônibus em que estava foi arrastado pela correnteza. Desde ontem, o vendedor Filipe Xavier peregrina por hospitais em busca do irmão. Ele foi informado que o corpo do irmão está no caminhão frigorífico:

— Meu irmão ficou preso no ônibus que a correnteza levou. Fizemos um pré cadastro e temos que mandar uma foto para eles fazerem o reconhecimento dos corpos com as fotos. Meu irmão não merecia isso.

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Idoso está sumido

O aposentado Heitor Carlos dos Santos, 60, também era um dos passageiros de um ônibus que caiu em um canal do município durante o temporal. De acordo com parentes, não se sabe se ele estava indo para o Centro ou voltando para casa no Quitandinha. Eles contam que, quando a chuva começou a subir, ele ligou para a mãe, uma idosa de 82 anos, e disse que estava no transporte. Em seguida, ele sumiu.

— O último contato foi com a minha avó e ele disse que estava no ônibus. Meu tio tinha 60 anos, é aposentado, solteiro e cuida da minha avó — conta a professora Jaqueline Santos, sobrinha de Heitor.

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Na manhã desta quarta-feira, os parentes de Heitor foram ao IML de Petrópolis em busca de informações.

— A gente não sabe se ele está vivo ou não — relata Jaqueline.

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