Rio chuva

Tragédia em Petrópolis: 'A morte desviou na minha porta', lembra sobrevivente do Morro da Oficina

Lean Peixoto e sua mãe, de 101 anos, deixaram a casa onde moram
Lean Peixoto carrega pertences em uma mala deixando sua casa no Morro da Oficina Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Lean Peixoto carrega pertences em uma mala deixando sua casa no Morro da Oficina Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

RIO — Debaixo da chuva que caía na tarde desta segunda-feira, no Morro da Oficina, em Petrópolis, na Região Serrana, Lean Peixoto deixava sua casa carregando apenas uma mala com roupas da sua mãe, de 101 anos. Os dois conseguiram se salvar com outras duas pessoas que lanchavam na casa em que moram, localizada na esquina da Rua Frei Leão — devastada pelo deslizamento. Apesar de não querer deixar a residência ou a região que mora há 48 anos, Lean sabe que escapou por pouco da tragédia: "a morte desviou na minha porta".

Na última terça-feira , ele viu da janela de casa os carros sendo empilhados, pedras caindo e a lama se aproximando. E foi com a ajuda de vizinhos que foi feito um "cordão humano" para conseguir retirar de casa a idosa, que já não consegue andar.

— Sempre falei para nossos vizinhos que o nosso lugar era seguro. Eu achava que era. A gente acha que nunca vai ocorrer com a gente, mas um dia acontece. A morte desviou na minha porta — diz.

Lean e a mãe estão nos últimos dias na casa de seu irmão, mas ele pretende voltar para sua residência. Caso não consiga, vai se inscrever no Aluguel Social.

— Compramos a casa há 28 anos. Antes morávamos em outra casa na parte mais alta do morro. Perdi mais de 50 amigos nessa tragédia. É uma tristeza muito grande. Todo mundo parava na minha porta — conta.

Missa de sétimo dia

Nesta sexta-feira, familiares e amigos de vítimas da tragédia acompanharam uma missa de sétimo dia em memória dos mortos. Até o momento há 181 óbitos confirmados e mais de 100 pessoas desaparecidas. Logo no início da cerimônia, uma pessoa passou mal e precisou ser atendida socorrida para fora da igreja. Outras pessoas precisaram ser acolhidas por amigos e parentes devido à forte emoção da cerimônia.

A missa foi presidida pelo bispo de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, na Igreja Santo Antônio, no Alto da Serra, a poucos metros do Morro da Oficina, uma das áreas mais atingidas pela enxurrada. A igreja também é ponto de acolhida de desabrigados da região.