RIO — A manhã da primeira segunda-feira após o início das obras na pista principal do Aeroporto Santos Dumont começou com trânsito pesado nas vias que dão acesso ao Galeão-Tom Jobim, para onde foram transferidos 214 voos. Longas filas de veículos se formaram nos dois sentidos da Linha Vermelha e da Avenida Rio de Janeiro, e houve reflexos na Avenida Brasil. A solução encontrada pela CET-Rio para tentar facilitar a vida de quem estava atrasado para viajar foi a liberação da pista do BRT aos táxis. A medida, no entanto, não chegou a diminuir os engarrafamentos e surpreendeu a concessionária que opera o sistema. Em nota, ela alertou para o risco de a iniciativa provocar acidentes.
Não se pode dizer que, nesta segunda-feira, a prefeitura também foi pega de surpresa: os transtornos podiam ser previstos desde junho, quando foi anunciado o início das obras no Santos Dumont, que vão até 21 de setembro. Especialista em engenharia de transportes, o professor Ronaldo Balassiano, da Coppe/UFRJ, criticou a alternativa emergencial adotada pela CET-Rio:
— Era algo que deveria ser esperado. O número de passageiros no Galeão praticamente dobrará durante o mês de obras. Mas usar o corredor do BRT para qualquer outra coisa que não seja a circulação dos ônibus é totalmente fora de propósito. É acabar de matar um sistema que já vai de mal a pior, por diversos fatores. Não se resolve um problema provocando outro, vai contra o planejamento de transporte, é um risco que não faz o menor sentido.
Balassiano destacou que não há solução a curto prazo, mas afirmou que, se houvesse um planejamento melhor dos transportes públicos, os transtornos poderiam ser minimizados.
— Estamos falando de um problema de um mês de duração, e acho que não haveria muito a fazer, a não ser medidas paliativas para uma região que normalmente sofre com o trânsito pesado. Não existe uma solução mágica, ela só viria com investimentos em transportes coletivos, como puxar o VLT da rodoviária até o Galeão. Isso melhoraria o acesso ao aeroporto e também resolveria a vida de muitas pessoas que precisam chegar à Maré e ao Fundão — disse o especialista. — De qualquer forma, o problema deverá ser minimizado ao longo dos próximos dias. As pessoas que não têm outras opções vão começar a se acostumar com a situação e buscarão alternativas para se deslocarem.
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Uma outra medida tomada pela prefeitura para tentar diminuir o impacto das obras na pista do Santos Dumont foi a interdição da estação terminal Galeão 2 do BRT. Ali, a pista utilizada pelos ônibus articulados estão servindo para desembarque e embarque de passageiros de táxis e veículos de aplicativos. Quem precisa utilizar o BRT para chegar ou sair do Galeão deve ir até o Terminal 1 do aeroporto, que está fechado desde 2016. Foram disponibilizados carros elétricos gratuitos para os passageiros.
Corridas ‘no tiro’
Nesta segunda, um outro problema foi a falta de fiscalização. Do lado de fora do Terminal 2 do aeroporto, a equipe de reportagem do GLOBO foi abordada três vezes por motoristas de táxis e de aplicativos que ofereciam corridas com valor definido antes do embarque.
Em nota, a concessionária Rio Galeão afirmou que instalou uma sinalização especial indicando as adaptações realizadas no aeroporto para o período de obras na pista principal do Santos Dumont. A empresa frisou que está em contato permanente com órgãos de segurança pública e ordenamento urbano, responsáveis por coibir a oferta ilegal de serviços de transportes. A prefeitura não se manifestou sobre o assunto.