Veja cinco pontos de relatório para a cassação de Jairinho

Conselho de Ética da Câmara do Rio vota pela perda do mandato de vereador nesta segunda-feira
Dr. Jairinho, após ser preso Foto: Guito Moreto / Agência O Globo / Arquivo

RIO — A cassação do mandato do vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), pelo Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio, que será votada nesta segunda-feira, foi pedida pelo vereador Luiz Ramos Filho (PMN). No documento, entregue pelo relator aos membros do conselho no último dia 18, foram citados o homicídio triplamente qualificado de Henry Borel Medeiros, de 4 anos, em 8 de março, tortura e agressões contra o menino, além de tentativa de tráfico de influência e uso político em causa própria.

Jairinho e a namorada, Monique Medeiros da Costa e Silva de Almeida, mãe do menino, estão presos desde 8 de abril acusados pela morte da criança de 4 anos, no apartamento em que viviam, na Barra da Tijuca. O documento, que pede pela cassação do vereador, afirma estar baseado nas provas colhidas ao longo da investigação, a cargo da 16ª DP (Barra da Tijuca), bem como nos depoimentos de testemunhas e dos envolvidos ao delegado titular Henrique Damasceno, na perícia técnica e na conclusão do inquérito. Veja os principais pontos que fizeram o relator pedir a cassação :

Homicídio duplamente qualificado

Em 3 de maio, o delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), concluiu o relatório do inquérito no que foram indiciados a mãe do menino, Monique, e o namorado dela, Jairinho, pelo crime de homicídio duplamente qualificado, por emprego de tortura e impossibilidade de defesa do menino.

O relatório cita trecho do inquérito policial: “Não restam dúvidas de que Henry foi vítima de homicídio duplamente qualificado, por emprego de tortura e meio que impossibilitou a defesa da vítima, quando estava apenas na companhia de Monique e Jairo. Também não restam dúvidas que Jairinho agredia Henry. A própria extensão das lesões, em sua gravidade e quantidade, demonstra ação brutal contra a criança, culminando com a morte dela, antes da chegada ao hospital”.

O vereador também foi indiciado duas vezes por tortura, e a professora uma vez, por conta de outros episódios de violência praticados contra Henry — inclusive um relatado pela babá em tempo real à professora, durante a tarde de 12 de fevereiro.

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Laudo nega acidente

Desde a morte de Henry, na madrugada de 8 de março, no apartamento em que viviam na Barra da Tijuca, Monique e Jairinho sustentavam a versão de que teriam encontrado a criança no chão do quarto desacordada. Em depoimento, eles contaram que, na ocasião, assistiam televisão quando, por volta de 3h30, acordaram e encontraram Henry caído, com mãos e pés gelados e olhos revirados. A mãe do menino disse acreditar que ele tivesse acordado, ficado em pé sobre a cama, se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona e caído no chão.

O casal levou Henry para a emergência do Hospital Barra D’Or. De acordo com as médicas que o atenderam, o menino já chegou morto à unidade e com as lesões descritas nos laudos de necropsia. Os documentos apontam hemorragia interna e laceração hepática, provocada por ação contundente, além de equimoses, hematomas, edemas e contusões não compatíveis com um acidente doméstico .

“Concluiu o laudo pericial complementar de necropsia que foram descartadas as hipóteses de acidente doméstico ou morte por lesões causadas durante ressuscitação”, diz o relator. “A perícia indicou, ainda, que as várias lesões encontradas no corpo de Henry não poderiam ter sido causadas em um único trauma ou acidente, como sustentam o representado e sua companheira”.

Influência para a liberação do corpo

O executivo Pablo Meneses, vice-presidente de operações e relacionamento da Qualicorp e conselheiro no Instituto D’Or de Gestão de Saúde, prestou depoimento ao Conselho de Ética da Câmara em que relatou o conteúdos das mensagens e dos telefonemas que recebeu de Jairinho na madrugada de 8 de março, dia da morte de Henry. Os contatos foram realizados enquanto o vereador e a namorada, Monique, mãe do menino, estavam no Barra D’Or, unidade para onde a criança foi levada para ser socorrida ao estar desacordada. Segundo contou, Jairinho fez diversos pedidos para que o corpo da criança fosse liberado sem ser encaminhado para autópsia no Instituto Médico Legal.

O relator destaca no documento: “Não se pode negar que estes acontecimentos relatados à autoridade policial denotam a intenção do representado de evitar a atuação do IML no esclarecimento dos motivos que levaram à morte da criança”. E segue: “Claramente utilizou-se de seu prestígio e posição política para tentar obter vantagem indevida ao tentar interceder”.

Laudo do Instituto Médico- Legal (IML) constatou muitas lesões espalhadas pelo corpo do menino, infiltrações hemorrágicas nas partes frontal, lateral e posterior da cabeça, contusões no rim, no pulmão e no fígado. A mãe afirmou acreditar que ele tenha caído da cama e batido a cabeça Foto: Reprodução / Instagram
Coletiva sobre a conclusão do inquérito sobre a morte do menino Henry Borel. Da esquerda para a direita estão: Marcos Kac (promotor do caso), o delegado Antenor Lopes (diretor da DGPC), Henrique Damasceno (delegado titular da 16ª DP), Denise Rivera (perita criminal) e Ana Paula Medeiros (delegada-adjunta da16ª DP) Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
O delegado titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), Henrique Damasceno, deu uma entrevista coletiva sobre a conclusão do inquérito que apurou a morte de Henry. "A única pessoa calada foi o Henry. Ele pediu ajuda e não foi ajudado", disse o investigador Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Henry, exibe a tatuagem feita para esconder uma homenagem ao ex-marido nas redes sociais. O desenho foi feito no dia em que Monique pediu que Jairinho "pagasse suas coisas" para não prejudicá-lo Foto: Reprodução
Os avós de Henry com o menino ainda bebê. 'Me sinto muito culpada', disse mãe do menino ao pai uma semana após morte. Conversa com o avô da criança faz parte do conteúdo recuperado pela polícia no celular de Monique: 'Tudo foram escolhas minhas', disse ela em outro trecho Foto: Reprodução
Henry em sua última festa de aniversário: pai compartilhou foto nas redes sociais no dia em que o menino faria 5 anos Foto: Arquivo pessoal
Monique revela 'humilhações e agressões' em carta sobre a relação com Jairinho. Carta foi escrita na última sexta-feira (23), no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde recebe tratamento contra a Covid-19. A professora descreve uma rotina de violências, humilhações e crises de ciúmes do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido) Foto: Reprodução
Dr. Jairinho e Monique Medeiros, em fotos feitas no ingresso do casal no sistema penitenciário Foto: Reprodução / Agência O Globo
Vereador Dr. Jairinho, preso, ao lado de diretor de presídio. Na imagem ele come um sanduíche que o diretor entregou para ele Foto: Reprodução
O advogado André Françao, que representava Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, Barreto renunciou à defesa do vereador no caso Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Doutor Jairinho durante discurso na Câmara de vereadores, onde os sete membros do Conselho de Ética da Câmara dos Vereadores decidiram, por unanimidade, abrir o processo de cassação do mandato do vereador Foto: Renan Olaz / Agência O Globo
Dr. Jairinho foi preso junto com Monique, mãe do menino Henry, por tentar interferir na investigação do caso. Segundo a polícia, o casal será indiciado por tortura e homicídio duplamente qualificado, além de poder perder o mandato na Câmara dos Vereadores do Rio Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Hnery cumpre prisão preventiva e será indiciada por tortura e homicídio duplamente qualificado Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Peritos chegam ao edifício Majestic para fazer a reconstituição da morte do menino Henry Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Câmera encontrada por policiais da 16ª DP (Barra da Tijuca) no quarto de Henry. Anotação recuperada em celular de Monique Medeiros da Costa e Silva expõe sua vontade de instalação do equipamento dentro de imóvel no Majestic Foto: Reprodução
Edifício Majestic, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde o menino Henry vivia com a mãe e o padrasto Foto: Reprodução / TV Globo
Henry no colo da mãe enquanto Dr. Jairinho faz um carinho nele Foto: Reprodução
A mãe de Henry, Monique Medeiros, e o padrasto, o vereador Dr. Jairinho, chegam à 16ª DP (Barra) para ser ouvidos como testemunhas Foto: Reprodução / TV Globo / Agência O Globo
Polícia cumpre mandado na casa da família de Monique, em Bangu, Zona Oeste do Rio Foto: Fabiano Rocha em 26/03/2021 / Agência O Globo
Leniel Borel de Almeida em entrevista ao Fantástico: 'Acordo de manhã chorando. Tem que ter muita força, cara. E o que eu sei é que esse menino não pode ter morrido em vão' Foto: Reprodução / TV Globo
Dr. Jairinho na Câmara dos Vereadores do Rio. Ele era padrasto de Henry Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo - 23/05/2019
Henry Borel Medeiros tinha 4 anos quando morreu na madrugada do dia 8 de março em condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde morava com a mãe e o padrasto. A causa da morte, segundo laudo do IML, foi "hemorragia interna causada pelo rompimento do fígado" Foto: Reprodução / Instagram
O pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, que é separado da mãe do menino, tem publicado fotos e mensagens para o menino. Ela diz ainda esperar respostas Foto: Reprodução / Instagram
Em trocas de mensagens entre o pai e a mãe, Monique Medeiros, foi revelado que Henry não gostava de voltar para a casa, onde vivia com Monique Medeiros e o padrastro, o vereador Dr. Jairinho Foto: Reprodução / Instagram
Monique com o filho Henry Foto: Reprodução TV Globo

Ligação para Cláudio Castro

O documento aborda também a ligação que o governador Cláudio Castro diz ter recebido de Jairinho, antes de a morte do menino ser divulgada pela imprensa. Castro teve até o último dia 10 para apresentar ao Conselho explicações sobre o telefonema. Os vereadores não obtiveram resposta e, mesmo assim, optaram por seguir normalmente com o rito do processo.

O relatório traz o seguinte trecho: “A assessoria do governador disse, em nota, que ele se limitou a explicar ao vereador que o assunto seria tratado pela delegacia de polícia, demonstrando tentativa de tráfico de influência”.

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Tentativa de obstrução da investigação

Na conclusão o relatório traz que Jairinho tentou obstruir a investigação, conforme expressado na decisão da juíza Elizabeth Machado Louro, que converteu a prisão temporária em preventiva, justamente porque o vereador estaria utilizando “artifícios escusos como coação de testemunhas, para impedir que provas fossem produzidas contra o casal”.