Rio

Verão e falta de ar-condicionado tornam a rotina do passageiro do BRT um tormento

Devido à superlotação e a problemas no ar-condicionado, usuários mantêm portas abertas para amenizar o calor e correm o risco de sofrer acidentes graves
RI Rio de Janeiro (RJ) 26/01/2022 - Verão/Calor. Ônibus do BRT que deveriam ter ar condicionado , circulam pela Zona Oeste com as portas abertas pra aliviar o calor dos passageiros. Flagrante de vários ônibus circulando com as portas abertas entre as estações Mato Alto e Ilha de Guaratiba. Foto Fabiano Rocha/ Agência O Globo Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo
RI Rio de Janeiro (RJ) 26/01/2022 - Verão/Calor. Ônibus do BRT que deveriam ter ar condicionado , circulam pela Zona Oeste com as portas abertas pra aliviar o calor dos passageiros. Flagrante de vários ônibus circulando com as portas abertas entre as estações Mato Alto e Ilha de Guaratiba. Foto Fabiano Rocha/ Agência O Globo Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo

RIO — Segundo a meteorologia, ontem o Rio de Janeiro cravou a máxima de 37º, empatando no topo do ranking nacional do calorão com o Rio Grande do Sul. Hoje, entre as capitais, a previsão é que Brasília desça a 27 graus, e São Paulo alcance 34. Portanto, ninguém tasca, o pódio é nosso. O Rio deve bater logo mais a marca dos 40 graus, atingida pela última vez no dia 31 de janeiro do ano passado, como informou ontem o RJTV2. A notícia seguramente provocará desalento na recepcionista Ana Cristina Moreira. Ontem, às 15h30, ela encarava a Estação do BRT Salvador Allende, no Recreio, após um dia de trabalho. Esbaforida, com termômetros acima dos 35 graus na cidade, levou um tombo no vão entre a plataforma e o ônibus, vitimada pelo empurra-empurra de todo dia. Com leves escoriações nas pernas e no braço direito, Ana Cristina contou que aquela tinha sido a sua quinta queda sofrida no embarque do BRT. Machucada, ela ainda teve que enfrentar a viagem até Guaratiba em ônibus sem janela e sem ar-condicionado.

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— Há mais de três anos, pego essa linha de segunda a sábado. Hoje saí mais cedo e ainda assim está muito cheio. O BRT para longe da plataforma e já vi várias pessoas caindo e se machucando. É muito descaso com o trabalhador. Tem como não pegar Covid no meio de uma aglomeração dessa? Eu já peguei duas vezes, mesmo com as duas doses da vacina — desabafou a moradora de Paciência.

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Passageiros como Ana Cristina Moreira são as principais vítimas de uma queda de braço entre a prefeitura e a concessionária do BRT que se arrasta desde o ano passado. Houve melhorias nas paradas e reabertura de estações fechadas, mas a realidade que se impõe é a de ônibus articulados sem ar-condicionado ou com aparelhos em mau funcionamento, sem condições para dar conta de tanto calor. Muitos usuários acabam mantendo as portas abertas durante as viagens, o que representa um risco evidente. Imagens que circulam nas redes sociais mostram pessoas se arriscando nos tetos dos veículos, como faziam, no passado, os “surfistas de trem”.

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Aos pedaços

Ao calor, somam-se corrimãos aos pedaços que só não fazem mais falta nos horários de movimento intenso porque a lotação não deixa quase ninguém se mexer. As marcas do abandono estão por toda parte: faltam peças variadas, como as tampas de proteção dos aparelhos de refrigeração — que também não estão sempre onde deveriam.

Por volta de 16h de ontem, o termômetro levado pela equipe do GLOBO mostrava a temperatura de 35,1 graus dentro do BRT na linha 12 (Pingo d’Água-Alvorada), que circulava com as portas abertas no Recreio, sentido Guaratiba.

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— O BRT já sai de onde moro cheio, e vai piorando a cada estação que passa. Infelizmente, se não fossem essas portas abertas, as pessoas iriam enfartar de tanto passar mal. É muito calor,e essa é a única ventilação que temos — reclamou a doméstica Vera Lúcia Oliveira, que mora em Santa Cruz e trabalha na Barra.

Na estação Recreio Shopping, às 16h45, a cena de aglomeração e correria para embarcar se repetia. Segundo Diogo Batista, os problemas são piores nos ônibus que vão para Santa Cruz, como a linha 11 (Santa Cruz-Alvorada), que ele estava prestes a pegar.

— Pegar o BRT no Terminal Alvorada, no sentido de Santa Cruz, é um inferno de tanto calor. Eu saio do trabalho de madrugada e pego o 11 quando sai o último ônibus, 1h30min da manhã. Mesmo a essa hora, já tem superlotação. Já vi gente que não conseguiu entrar, que ficou do lado de fora — contou Batista.

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Na terça-feira, na altura da estação Mato Alto, a equipe de reportagem flagrou um veículo da linha 10 (Santa Cruz-Alvorada, expresso) trafegando com todas as portas abertas, enquanto passageiros se seguravam como podiam, sob risco iminente. Ontem, o mesmo se repetiu em diferentes pontos da Barra, do Recreio e de Guaratiba, nas linhas 10, 11, 12, 13, 19 e 20.

De domingo a domingo, o morador de Campo Grande, Jonathan Rodrigues usa o BRT no Mato Alto para ir até o Terminal Alvorada, na Barra, onde trabalha. Para chegar ao Mato Alto, pega um ônibus comum.

— Os ônibus são precários. É uma busca pela sobrevivência diária. Somos da classe operária, não temos dinheiro para pegar frescão. O BRT é muito pior do que um ônibus comum: não tem janela e muito menos ar-condicionado — resume o assistente administrativo Jonathan Rodrigues.

Nas redes sociais, as reclamações se multiplicam. Ao longo de janeiro, mais da metade dos tuítes que mencionaram “Eduardo Paes” e “ônibus” no mesmo post se referia a problemas no BRT — muitos com ilustrações expressivas. As promessas de melhoria estão a caminho. Mas hoje é dia de “Rio 40 graus”.