Web Summit Rio
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Por Carolina Nalin e Rafael Galdo — Rio de Janeiro

Nos últimos meses, o debate sobre inteligência artificial (IA) emergiu como central no mundo, com declarações, inclusive, de nomes como Bill Gates e Elon Musk. No Web Summit Rio, megaevento de inovação e tecnologia que acontece até quinta-feira, o tema também atravessa grande parte das discussões.

Mas que mudanças fizeram com que a IA tenha ganhado esse protagonismo? O que é, afinal, inteligência artificial? Quais seus riscos e utilidades? Essas são algumas das questões que têm sido respondidas por especialistas do planeta inteiro reunidos na conferência que ocorre no Riocentro. Veja o que eles têm respondido:

O que é e o que difere a inteligência artificial (IA) das tecnologias anteriores?

Muito didaticamente, Cassie Kozyrkov, Cientista Chefe de Decisão do Google, explicou que, na programação tradicional, engenheiros de software escreviam, código a código, instruções para que os programas de computador funcionassem. Com a inteligência artificial, a chave é que essa comunicação se transforma. É fornecida à máquina uma grande quantidade de exemplos, para entrarem em cena os algoritmos, que vão encontrar os pontos em comum entre os exemplos e construir as instruções ao programa.

Ou seja, é uma forma diferente de explicar à máquina o que a gente quer, disse Cassie: em vez de instruções escritas, exemplos, que nada mais são que dados, como textos, fotos e vídeos. Por isso, ela usa a expressão "instruções automatizadas" para se referir à inteligência artificial.

Que tipos de inteligência artificial existem?

A cientista do Google elencou quatro tipos de inteligência artificial. Uma delas é a supervisionada, quando, através dos dados fornecidos pelos humanos à máquina, ela consegue reconhecer, por exemplo, o que é um gato ou um carro, avaliando semelhanças. Já as não supervisionadas são as que estão nos matches de aplicativos de relacionamento. Like vai com like, explicou Cassie. Nada mais é do que a máquina, por conta própria, analisando os dados e identificando padrões.

Tem ainda a inteligência artificial de aprendizado por reforço. Ou seja, a máquina aprende fazendo algo, repetindo aquela tarefa. Cassie usou o exemplo de uma pessoa diante de um videogame: ao adquirir experiência, o jogador descobre as maneiras de avançar no jogo. Essa IA está, por exemplo, nos aplicativos que fazem recomendações personalizadas a seus usuários.

E a IA mais comentada no momento é a generativa, a de tecnologias como ChatGPT e DALL-E. Essa, disse a cientista do Google, pode criar "fakes plausíveis". O que isso significa? Por meio da grande quantidade de informação fornecida à máquina, ela gera respostas originais - ou mesmo únicas - para cada interação, gerando conteúdo novo, que não existe naquele monte de dado que ela recebeu. Podem ser criados textos, músicas, etc. As respostas, no entanto, podem ser certas, mas também erradas (essas, às vezes, bem plausíveis).

Por que o tema da inteligência artificial generativa ficou tão em alta?

A IA generativa se popularizou com a chegada de ferramentas geradores de texto, imagem e áudio ao alcance de qualquer usuário conectado à internet, e isso gerou uma frenesi na área da tecnologia. O aprimoramento de ferramentas de inteligência artificial generativa nos últimos anos levou empresas a disponibilizarem para o público as primeiras versões dessas plataformas.

O ChatGPT, da OpenAI - startup de inteligência artificial que recebeu um investimento bilionário da Microsoft -, foi o que sintetizou esse movimento de popularização e entusiasmo com a IA generativa: em apenas uma semana, mais de um milhão de usuários testaram a ferramenta on-line da OpenAI.

Qual o potencial dessas ferramentas?

Na visão de Daniela Braga, CEO da Defined.ai, o uso da inteligência artificial deve impactar o campo do marketing e da publicidade a partir da produção de conteúdo, já que as ferramentas de IA generativa são capazes de criar textos, imagens, vídeo e áudios. Mas pondera seu uso: “Embora seja possível criar música, imagens e uma infinidade de coisas com IA, é fundamental ter um ser humano no processo de criação”, diz.

Sua aplicação, contudo, pode ainda ficar restrita à grandes empresas. Ela ponderou que o custo de operação de programas como o ChatGPT gira em torno de US$ 600 mil dólares por dia, diante do seu poder computacional.

“Considerando isso, quantas entidades têm dinheiro para gerar IA generativa? Elas precisam decidir se vão construir ou comprar uma existente”, avaliou.

E o que está mudando na inteligência artificial atualmente?

Para Cassie Kozyrkov, do Google, a grande mudança é que, nesta nova etapa, o indivíduo tem a IA a sua disposição para resolver seus próprios problemas. Num debate sobre IA como os que ocorrem no Web Summit Rio, disse ela, cinco anos atrás se estaria falando de questões empresariais. "Agora, não, a escala sou eu", disse ela. A cientista afirmou que a IA "acelera a nossa inspiração". E, assim, pode ser uma revolução para a produtividade das pessoas.

Há riscos no uso da IA?

Sim. Em várias discussões do Web Summit Rio, diferentes lideranças têm levantado que riscos são esses, desde as profundas mudanças no mercado de trabalho a questões ligadas à privacidade. Num debate sobre segurança dos dados pessoais na rede, Brittany Kaiser, fundadora da Own Your Data Foundation, afirmou que, com o avanço da IA, as ameaças contra senhas pessoais, por exemplo, vão crescer, e "vamos ter que acelerar nosso aprendizado digital".

Jeff Shiner, CEO da 1Password, destacou que, com IA, investidas como os phishings, que tentam roubar senhas ou dados de cartões de crédito das pessoas, devem se tornar mais realistas e desafiadoras, exigindo das empresas novas medidas contra as fraudes.

Mas, afinal, é só hype ou a inteligência artificial veio para ficar?

Especialistas ainda dividem opiniões quanto ao buzz em torno do tema, mas afirmam que é um caminho sem volta. "Não é apenas um hype. (Essa nova fase da IA) É uma realidade e precisamos ver o que IA quer fazer com isso. O investimento aumentou consideravelmente”, destacou Itxaso del Palacio, sócia do Notion, em um painel sobre inteligência artificial generativa.

Ben Gortzel, CEO da SingularityNET, entende que tem uma curva de aprendizado:  "Tem hype, mas também tem realidade. O que estamos vendo é um dorso de avanços e têm mais por vir. Em alguns anos vamos ver uma nova curva de progresso."

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