O fim do ‘inverno’ das startups, após investimento tombar 40% pela alta dos juros

A boa notícia é que, na visão dos gestores de fundos internacionais que estiveram no Web Summit Rio, o tal “inverno das startups” está ficando pra trás — mas sem a euforia que marcou o início da pandemia.

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— O sentimento geral, pelo menos do ponto de vista do investidor, é que o “inverno” acabou. A maior parte das pessoas (desse ecossistema) acredita que haverá mais investimentos este ano que em 2023 — resumiu Bedy Yang, brasileira que é uma das principais sócias do 500 Global, fundo de startups do Vale do Silício que gere um portfólio de US$ 2,4 bilhões.

A “seca” não foi necessariamente ruim para o ambiente de startups, argumentou Hernán Kazah, argentino que foi um dos fundadores do Mercado Livre e é um dos criadores da Kaszek, uma das gestoras mais importantes da América Latina.

— Os “invernos” são parte dos ciclos naturais da indústria. Já passamos por isso no estouro da bolha da internet, na crise global de 2008 etc. Faz parte. Além disso, quando há excesso de capital, as companhias ficam pouco disciplinadas. No “inverno”, todo mundo volta para o foco — explicou ao GLOBO. — E a verdade é que a demanda por serviços digitais continuou crescendo nesse período.

De acordo com Kazah, os aportes estão voltando primeiro na categoria early stage, que mira startups menores. Para ele, a exuberância de capital vivida em 2021, quando “unicórnios” (startups que valem mais de US$ 1 bilhão) proliferaram, talvez só volte “daqui a cinco, dez anos, quem sabe”. Mas isso também pode ser um bom sinal.

— Talvez a quantidade de companhias que a gente está olhando seja menor, mas a qualidade possivelmente cresceu. Fala-se muito em “investidor turista”, que desaparece no “inverno”, mas o mesmo acontece com o empreendedor. Só sobram aqueles que realmente querem fazer seus negócios darem certo — afirmou Kazah, que fez apostas certeiras em companhias como Nubank e Quinto Andar no passado.

Atesta o momento mais benigno para o investimento em startups o R$ 1 bilhão que a Kaszek captou recentemente para dois novos fundos.

— Este ano, devemos fazer entre seis e oito aportes. Não vai ser a loucura que foi em 2020 e 2021, cujo número eu nem quero lembrar porque alguns foram demais — brincou o investidor.

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Se o capital de risco já passa por um degelo, talvez demore um pouco mais a retomada dos IPOs ( sigla em inglês para ofertas iniciais de ação na Bolsa). Com os juros nas alturas, nenhuma empresa estreou na B3 em 2022 e 2023, na maior “seca” em 25 anos. A ausência é ainda mais sentida porque, em 2021, houve recorde de ofertas, com 46 companhias movimentando R$ 65,6 bilhões em IPOs.

— Até pouquíssimo tempo atrás, havia viés de queda mais intensa de juros, mas isso arrefeceu. A realidade é que os IPOs não parecem estar tão próximos assim — previu Fabiana Fagundes, sócia-fundadora do escritório FM/Derraik.

Segundo ela, os bancos trabalham com a expectativa de retomada só no fim de 2024 ou até mesmo no começo de 2025.

— E isso é sujeito a intempéries. Os valuations (valores de mercado das companhias) serão totalmente diferentes dos de 2021. Só devem sair IPOs maiores, de empresas que valham pelo menos R$ 5 bilhões. Do contrário, não há liquidez nenhuma para as ações, e o mercado não se interessa.

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A janela é ainda mais restrita para empresas de tecnologia, observou Marcello Gonçalves, da gestora Domo.VC.

— Eu até acho que os IPOs vão voltar no segundo semestre para companhias da economia real. Meu pessimismo é com empresas de tecnologia. A Bolsa brasileira não abre oportunidade para empresas do segmento, e, para fazer na Nasdaq, a empresa precisa ter ambição global — ponderou. — Mas meu otimismo com fusões e aquisições é inversamente proporcional a meu pessimismo com IPO. Esse deve ser o caminho para as startups. O IPO é uma exceção.