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'A cor púrpura — O musical' revisita saga famosa no cinema

Com elenco formado por 17 atores, espetáculo é a primeira adaptação brasileira para a produção da Broadway inspirada em filme de Spielberg
Cena de "A cor púrpura — O musical" Foto: Carlos Alberto Costa / Divulgação
Cena de "A cor púrpura — O musical" Foto: Carlos Alberto Costa / Divulgação

Do Sul dos Estados Unidos no início do século XX para o Brasil de hoje. Sem escalas. Temas como racismo, feminicídio e empoderamento estão presentes em “A cor púrpura” — livro de Alice Walker que deu origem ao filme de Steven Spielberg indicado a 11 Oscars, em 1985, cuja versão musical estreia nesta sexta-feira, na Cidade das Artes , na Barra — e inspiram um diálogo com questões em evidência. E não foi preciso alterar ou acrescentar referências ao texto para que isso ficasse claro.

— Percebemos que não havia a necessidade de incluir citações do presente. No fundo, o que mostramos ali é que o mundo não evoluiu tanto de 1904 para cá — diz Tadeu Aguiar , diretor do espetáculo que tem adaptação dramatúrgica assinada por Artur Xexéo para a versão que estreou na Broadway em 2005.

Com um elenco formado por 17 atores negros, tendo à frente as atrizes Letícia Soares , que interpreta a protagonista Celie (vivida por Whoopi Goldberg no cinema), e Lilian Valeska (intérprete de Sofia, em papel consagrado por Oprah Winfrey ), “A cor púrpura — O musical” tem trama emotiva, marcada por um apelo romântico que exalta a esperança como artigo fundamental para a transformação social. Ao longo de três horas, num cenário giratório com seis metros de diâmetro construído com quase duas toneladas de ferro — e acompanhadas por uma banda formada por oito músicos —, elas contam e cantam a saga da jovem que precisou superar os abusos do pai e as agressões de um fazendeiro, a quem é oferecida como mulher, para descobrir, enfim, a própria autonomia.

— Claro que há uma denúncia bem forte nisso tudo. Mas o texto aponta caminhos. Há uma onda de amor muito forte na história, por mais que isso soe piegas — reforça Tadeu, que chama atenção para a complexidade vocal da trama, costurada por 30 canções que também foram adaptadas por Xexéo. — Em alguns casos, numa só letra, o elenco precisa atravessar duas oitavas e meia de extensão. A música leva a peça para a frente e ajuda a contar a história. Não está à toa ali.

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Letícia Soares, a protagonista de 'A cor púrpura — O musical' Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Letícia Soares, a protagonista de 'A cor púrpura — O musical' Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Natural de Magé, na Baixada Fluminense, Letícia celebra o fato de haver tantos artistas negros reunidos numa mesma produção:

— É uma libertação — diz a artista de 36 anos, que encara sua primeira protagonista após integrar o elenco de nove musicais. — Quando pedi demissão de um cargo de funcionária pública e decidi ser atriz, há seis anos, lembro de ouvir minha chefe dizer: “Vai largar um emprego para passar a fazer peças em shoppings?”. Até os meus pais demoraram a entender. Imagine esse desejo para alguém que vem de uma cidade onde não há salas de teatro...! Foi difícil. Era como se a ambição pela arte crescesse dentro do meu peito e, ao mesmo tempo, um vazio tomasse conta de mim. Agora, ao viver essa personagem, olho para o palco e penso: essa profissão também é minha, e é mesmo isso o que quero ser. Uma libertação total.

Cidade das Artes (Grande Sala): Av. das Américas 5.300, Barra — 3325-0102. Sex, às 20h30. Sáb, às 17h e às 20h30. Dom, às 17h. R$ 50 (camarote e galeria), R$ 150 (frisa e plateia 2) e R$ 200 (plateia 1). 180 minutos. Não recomendado para menores de 12 anos. Até 3 de novembro.