Rio Show

'A hora e vez', peça da Cia do Sopro, adapta conto de Guimarães Rosa

Espetáculo ganha temporada no Rio após temporada de sucesso em São Paulo: em montagem minimalista, Rui Ricardo Diaz se divide em diferentes papéis
Rui Ricardo Diaz, em cena da peça 'A hora e a vez' Foto: Bob Sousa / Divulgação
Rui Ricardo Diaz, em cena da peça 'A hora e a vez' Foto: Bob Sousa / Divulgação

O que se desenrola é quase uma “ópera sertaneja”, como define Rui Ricardo Diaz , responsável pela versão teatral do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, assinado por João Guimarães Rosa em seu inaugural livro “Sagarana” , de 1946 (e que inspirou o filme homônimo, dirigido por Roberto Santos, em 1965). No palco nu, porém, apenas um ator — o próprio Diaz — dá conta da ficção embalada por numerosos personagens e o engenhoso jogo de palavras associado ao autor.

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Em cartaz no Teatro Poeirinha, em Botafogo, “A hora e vez” aposta, sem firulas, no máximo minimalismo, prática comum aos trabalhos de Antonio Januzelli, que assina a direção da montagem. A intenção é transferir ao intérprete quase toda a responsabilidade do que se narra em cena, através de estudos voltados para tal objetivo. O resultado agradou o público em São Paulo, onde a peça se manteve em cartaz, com sucesso, entre 2014 e 2016.

— A obra que nos baseia é uma vastidão, como tudo que escreveu Guimarães. No início, foi assustador adaptar essa história — conta Diaz, que se debruçou, ao longo de dois anos, sobre uma pesquisa “difícil”, como ele lembra, até chegar ao formato final do espetáculo. — Para mim, cada vez mais, fica mais clara a prosódia criada por Guimarães. É um texto difícil de falar! Tanto que, diariamente, ainda descubro novas palavras. Mas, quando levadas para a cena, muitas imagens que o escritor propõe sobre o sertão ficam mais nítidas.

Rui Ricardo Diaz, em cena da peça 'A hora e a vez' Foto: Águeda Amaral / Divulgação
Rui Ricardo Diaz, em cena da peça 'A hora e a vez' Foto: Águeda Amaral / Divulgação

A trama acompanha a jornada de um homem com muito poder, coronelista e dono de extensas sertanias, em busca de redenção após quase morrer numa emboscada. Abandonado e arrependido pelos crimes que cometeu, o personagem se lança a uma saga marcada por angústias e reveses, deixando de se mover só por interesses materiais:

— O ponto central de Augusto Matraga é a trajetória do herói que resolve seguir o caminho pela salvação. Vemos um homem que, ao perder o poder, passa a ser servidor dos outros, vivendo sem pedir nada em troca.

Mais estreia à vista

Nesta semana, outra produção da paulistana Companhia do Sopro aterrissa no Teatro Poeirinha. Com texto e atuação de Fani Feldman — e direção do próprio Diaz —, “Como todos os atos humanos” se inspira em obras de Marina Colasanti, Nelson Coelho e Giorgio Manganelli para apresentar o relato de uma filha que cometeu parricídio. A estética desprovida de grandes elementos cênicos é parecida com “A hora e a vez”. Mas não só.

— Nosso grupo trabalha com estudos de mitos e heróis. Se com Augusto Matraga nos aproximamos de Édipo, nesta peça brincamos com Electra, em metáfora cuidadosa sobre a morte do patriarcado — afirma Diaz.

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A atriz Fani Feldman, em cena da peça 'Como todos os atos humanos' Foto: Yukio Yamashita / Divulgação
A atriz Fani Feldman, em cena da peça 'Como todos os atos humanos' Foto: Yukio Yamashita / Divulgação

'A HORA E A VEZ':

Teatro Poeirinha: Rua São João Batista 104, Botafogo — 2537-8053. Sex e sáb, às 21h. Dom, às 19h. R$ 60. 55 minutos. Não recomendado para menores de 16 anos. Até 12 de abril.

'COMO TODOS OS ATOS HUMANOS':

Teatro Poeirinha: Rua São João Batista 104, Botafogo — 2537-8053. Ter a qui, às 21h. R$ 50. 55 minutos. Não recomendado para menores de 16 anos. Até 9 de abril.