Cinema
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Por — Rio de Janeiro

Máxima sacramentada em “A regra do jogo” (1939): “O problema desse mundo é que cada um tem as suas razões”. O tempo tem dado razão ao diretor Jean Renoir. Uma entre muitas provas do contemporâneo encontra-se em “As bestas”, coprodução França/Espanha dirigida por Rodrigo Sorogoyen. Na tela, algo próximo a um drama rural em três atos. Primeiro: em pequena aldeia na Galícia, antagonismo acirrado em um café — camponeses rústicos e empobrecidos contra um francês há dois anos na região, inimigo desde “sempre”. Causa aparente: energia eólica (defendida pelos locais), versus lavoura orgânica, cultivada com idealismo pelo estrangeiro e sua mulher.

Segundo ato: violência crescente, emboscadas em cada curva da estrada. O casal hostilizado avalia a situação: partir ou permanecer? Revelar as consequências seria um spoiler imperdoável. Então, rumo ao terceiro ato: a possibilidade inesperada de eventual aliança feminina.

Com sete Goyas e longa lista de premiação internacional, “As bestas” consagra Rodrigo Sorogoyen, corroteirista, como forte nome do cinema espanhol contemporâneo (“A mãe”, “O candidato”, “Estocolmo”). A partir de um caso real retratado em Santoalla (2016), o diretor conduz com pulso forte uma atmosfera sombria e claustrofóbica em cenário que entrelaça pavor e recantos bucólicos. A direção de atores é excelente, tanto de nativos (Luiz Zahera) como de estrangeiros (Denis Ménochet, Marina Foïs). Apesar de alguma insistência em situações, a produção cuidadosa consegue deixar no ar a pergunta: em área infestada de animais, quem são afinal “As bestas” do título? A resposta é bem menos simples do que pode parecer.

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