‘O mal não existe’. Afirmação categórica, ardilosa, esperançosa? Para começar, título do novo filme de Ryûsuke Hamaguchi, aclamado diretor japonês de “Drive my car” (2021), “Roda do destino” (2021), “Asako I e II” (2018).
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Em foco, um conto de alerta ecológico em três atos. O primeiro pode desanimar ou deslumbrar o espectador. Longuíssimos travellings circulam por árvores ao som de trilha evocativa de Eiko Ishibashi. Um corte brusco introduz uma menina em cena e, muitas árvores depois, um homem racha lenha. Pai e filha. Mais um tempo e este personagem de pouquíssimas palavras, ao lado de um mais jovem, recolhe água do riacho. A paisagem é deslumbrante, e lentamente, um pouco de “ação” ocorre na aldeia de Mizubiki, seis mil habitantes, próxima de Tóquio.
Corte brusco para o segundo ato. Em auditório da vila, uma dupla urbana, armada de tecnologia e jargões, sugere uma invasão bárbara: a criação de um “glamping”— acampamento para turistas. A reação dos moradores merece aplausos calorosos. Com bom-senso, pés no chão e olhos para a natureza, alertam para a inevitável contaminação da água e suas consequências. Para turistas, belas férias. Para a comunidade, hecatombe climática. Os invasores vacilam, com desdobramentos pessoais imprevisíveis. Terceiro ato: retorno ao início, desta vez em cenário nevado, com um final — se é que se pode chamar assim — enigmático.
Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza de 2023, “O mal não existe” conta com virtuosa produção, elenco irrepreensível e encontrará morada segura nas almas mais contemplativas.
Bonequinho olha.