Qual o prazo de validade de um artista: 60, 70, 80 anos? Quem decreta este prazo? Bilheteria, crítica, prêmios? A autossatisfação e dane-se o resto? Quando arte e ideologia se misturam, o impasse pode agravar-se. Aos 70, o diretor italiano Nanni Moretti, atrelado a filmografia bastante pessoal (“Caro diário”, “Mia madre”) decidiu jogar regras e expectativas para escanteio e fazer o que tinha vontade: “O melhor está por vir”.
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Vários gêneros cabem na rebeldia: drama, comédia, sátira, homenagem, citações, filme-testamento, auto-ironia, em livre escolha do espectador. Neste circo, literal, “Fellini 8 ½” atua como planta baixa para Moretti — desta vez como Giovanni — expor amplo espectro de crises enfrentadas por cineastas fora do menu Netflix. Sua meta: retratar Roma dos anos 1950 quando a Hungria é invadida pela União Soviética. Giovanni não tem meios de produção, mas é ambicioso: além de sua arte quer passar a história do PC italiano a limpo e, se possível, ensinar aos jovens como fazer cinema e política.
A ambição não pára por aí e confronta crise conjugal, com elenco, técnicos e — sobretudo — com a realidade. O mundo mudou, mas não para Nanni/Giovani. Cercado de bons atores (destaque para Margherita Buy, como a esposa, e Barbora Bobulova, como a costureira), o filme tem valores, mas também padece de um excesso de intenções. Fica o retrato “honesto” e bem caótico de um artista que não desiste de seus valores para aproveitar — sabe-se lá — sua última oportunidade. E, claro, torcer por dias melhores.