Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães, que assinam a direção e o roteiro de “Transe”, contrastam o vigor libertário da juventude com trechos de discursos reacionários de Jair Bolsonaro nos momentos anteriores à sua chegada à Presidência. Os jovens do filme transitam entre passeatas, bares e festas, vivem relacionamento não-monogâmico e sofrem crescente desestabilização com a proximidade das eleições. Eles são Luisa (Luisa Arraes), Johnny (Johnny Massaro) e Ravel (Ravel Andrade).
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O elo entre atores e personagens fica evidenciado no fato de uns e outros terem os mesmos nomes. Uma conexão que talvez diminua a possibilidade de abordar, de forma crítica, essa parcela da juventude, ainda que, em alguns instantes, as diretoras lancem oportunas provocações. Num deles, frequentadores do bar frisam que os negros, em sua maioria, não têm chance de comparecer às passeatas. E há sequências em que Luisa assume a desorientação diante da expressiva adesão da população a Bolsonaro. “A gente não está entendendo nada”, constata.
A crise de Luisa aumenta depois do reencontro com um amigo de infância, João (Matheus Macena), que mora na periferia e declara voto em Bolsonaro — não por acaso, aqui os nomes do ator e do personagem são diferentes. Enquanto Luisa, às vésperas da eleição, parte para a ação em tentativas de conversa com os indecisos, Johnny e Ravel enveredam por experiências que transcendem o campo da realidade. Nessa ficção atravessada pelo documental, o elenco imprime registro espontâneo, transparente, sem artifícios.
Bonequinho olha.