“Retratos fantasmas” é um filme sobre espaços afetivos. Kleber Mendonça Filho mostra para o público o apartamento onde morou e que serviu de locação para vários de seus trabalhos. Também evoca as grandes salas de cinema do Centro do Recife que frequentou na juventude. Ao longo dos anos, o apartamento e os cinemas sofreram mudanças, muitas vezes definitivas. No primeiro caso, ocorreram reformas desejadas. Já no segundo, os cinemas desapareceram, dando lugar, com constância, a igrejas evangélicas, numa transição semelhante à verificada em diversas cidades.
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Kleber narra, nesse documentário, as próprias vivências, ressaltando que as questões pessoais inspiraram de maneira decisiva seu cinema de ficção. Sempre comprometido com os assuntos que aborda, o diretor retoma aqui um tema importante: a oposição entre visões de mundo — uma pragmática, determinada por interesses econômicos, e outra voltada para a valorização de vínculos emocionais. Se em “Aquarius” (2016) a protagonista lutava pelo direito de manter o seu local de pertencimento (o apartamento em que vivia), apesar de toda pressão da especulação imobiliária, em “Retratos fantasmas” não existe possibilidade de preservação do familiar (os antigos cinemas). Igrejas e farmácias passaram a dominar a paisagem.
Nessa viagem pelo tempo, Kleber revela informações curiosas, como a ligação entre o cinema Art Palácio e a propagação da ideologia nazista. Há mais um atrativo: a ótima sequência ficcional, com Kleber atuando, que encerra o filme.