Quando se tem como protagonista um ator como Joaquin Phoenix, é um caminho natural recorrer ao seu talento extraordinário para desenvolver o lado psicológico do personagem, sobretudo quando o assunto é uma figura nefasta e controversa como Napoleão Bonaparte. Portanto, por mais que as cenas de batalha soem como chamariz para o grande público, ocupando parte considerável das duas horas e meia de “Napoleão” e filmadas com um vigor admirável por Ridley Scott aos 85 anos, o mais interessante é conhecer, na pele de Phoenix, a fraqueza humana relacionada à intimidade do imperador que foi responsável por algumas das maiores carnificinas da história da humanidade.
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Um Napoleão atormentado deserda seus comandados no Egito para retornar a Paris porque sua mulher está lhe botando chifres e os jornais fazem dele motivo de chacota como o corno mais célebre do país. Poderia soar cômico e paródico, mas a narrativa oferece um tom sóbrio ao explorar a insegurança de um tirano dessa magnitude na relação com a esposa Josephine (Vanessa Kirby) e sua necessidade de recorrer até ao apoio da mãe.
Para quem aprecia os bastidores estratégicos do poder e intrigas políticas, pode ser que a versão de quatro horas que o diretor lançaria futuramente no streaming desenvolva melhor estes temas. Na versão do cinema, o que sobressai, ao lado da intimidade de Napoleão, é a violência que percorre todo o filme de forma bastante explícita, como se Scott nos quisesse lembrar a todo instante do perigo que o mundo corre quando vemos a concentração de poder nas mãos de autocratas desequilibrados.