É um tanto impressionante que o Brasil tenha demorado 35 anos para transformar em cinema uma história tão fabulosa como a que aconteceu em 29 de setembro de 1988.
- Fique por dentro: siga o Rio Show no Instagram (@rioshowoglobo), assine a newsletter semanal e entre na comunidade do WhatsApp
- Leia a crítica: 'Wonka', com Timothée Chalamet, é uma fantástica fábrica de alto astral
Hollywood, por exemplo, teria se esbaldado. Porque não é toda hora que a realidade oferece o caso de um avião sequestrado por um brasileiro desempregado, com o objetivo de derrubar o modelo Boeing 737 da Vasp no Palácio do Planalto, a fim de assassinar o presidente José Sarney. A motivação? Vingança por todos os males que o país enfrentava!
O filme “O sequestro do voo 375”, do diretor Marcus Baldini, resgata esse momento único da nossa História seguindo a cartilha de outras produções do gênero. É um bom suspense claustrofóbico, que enfileira cenas inquietantes ao lado de dilemas morais. Para completar a cartilha do thriller, o crime ainda rendeu um herói cinematográfico, o comandante Murilo, interpretado pelo talentoso Danilo Grangheia.
“O sequestro do voo 375” se destaca, também, por retratar as angústias do Brasil daquele final de anos 1980 a partir de uma cabine de avião — era um país de recessão, inflação altíssima e que logo cairia no conto do presidente caçador de marajás. O comandante Murilo não é um qualquer, ele é o piloto que acaba de voltar de dois meses afastado do emprego por reivindicar direitos trabalhistas para a classe. O sequestrador, Nonato (papel vivido com competência por Jorge Paz), tem a coincidência de ser maranhense como Sarney e a vantagem de se parecer com um justiceiro, do tipo que atrai a empatia do espectador.
Esse forte conjunto de ação com contexto social faz de “O sequestro do voo 375” um raro cinema de gênero totalmente brasileiro.