Os tempos são outros, e em 2024 não caberia a um cineasta branco judeu levar aos cinemas um dos clássicos da literatura negra americana. Desta vez, ficou nas mãos do ganense Blitz Bazawule a tarefa de interpretar o livro de Alice Walker, que ganhou um Pulitzer.
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Nesta versão de “The color purple” (no original), o diretor de “Black in king” parte de outra referência: o musical da Broadway de 2005. O que de certa forma abranda as sombras do original. A protagonista Celie (Fantasia Barrino quando adulta) ainda tem muito a penar, mas há luz entre as frestas.
Na trama, Celie vive uma vida de violências. Primeiro do padrasto, que abusa dela e toma os bebês frutos dos estupros. Depois, é obrigada a se casar com Mister (Coleman Domingo), um homem violento e castrador.
Celie encontra nas mulheres seu refúgio e fortaleza. Primeiro, na irmã Nettie (Halle Bailey quando jovem), e depois na cantora Shug (Taraji P. Henson), uma amante do marido que vira sua protetora.
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Ciente dos desafios de agora— que não são os mesmos de 1985, quando Spielberg filmou sua versão —, Bazawule tenta fugir do “pornô de sofrimento” que já não é mais dominante nas obras sobre racismo. Ainda assim, a história passada no Estados Unidos do início do século 20 é eivada de violências. Nesse sentido, não há ambiguidade nas demarcações de personagens, principalmente homens. Eles berram e atiram pratos ao chão, numa redução da masculinidade negra que é criticada desde a publicação do livro.
O formato musical tampouco serve à abstração: as letras são explicativas em vez de transbordar a poesia que não cabe no diálogo. Mesmo com a mudança de ênfase na virada de mesa da protagonista, difícil ver onde está frescor da adaptação.