Em “O irlandês”, último filme de Martin Scorsese, Robert De Niro interpreta um soldado da máfia ítalo-americana cuja principal função é cobrar dívidas e executar os rivais de seus patrões. O fato de o filme retratar a vida desse matador de aluguel ao longo de mais de quarenta anos lhe dá uma densidade psicológica rara nesse tipo de obra. Indo além dos clichês dos “filmes de máfia” e do excesso de testosterona dos “filmes de ação”, Scorsese constrói um épico existencialista sobre o embrutecimento causado pelas guerras. Os assassinatos ilegais cometidos pela personagem de De Niro a serviço da máfia são uma extensão das execuções sumárias que o Estado o estimulou a realizar durante a Segunda Guerra Mundial.
Nesse ponto, a trajetória ficcional de De Niro não é muito diferente da trajetória real do capitão
Adriano da Nóbrega
. Como a personagem do célebre ator, também ele começou como soldado da Polícia Militar, tendo realizado inúmeras execuções sumárias “em serviço”, ou seja, em nome do Estado; passou a trabalhar como matador de aluguel para diversos braços das máfias locais; e, finalmente, fundou sua própria milícia. Não deixa de haver certa ironia trágica no fato de ele acabar tendo sido executado pelo mesmo Bope onde aperfeiçoou suas técnicas homicidas e sua ética fascista que prega a limpeza social.
Com elenco formado por 17 atores, o espetáculo dirigido por Tadeu Aguiar é a primeira adaptação brasileira para a produção da Broadway inspirada no famoso filme de Steven Spielberg (de 1985): a superprodução conta com banda de oito músicos, 90 figurinos e cenário giratório construído com duas toneladas de ferro.
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Até 12 de abril, no Teatro Riachuelo
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'Quarta-feira, sem falta, lá em casa'
Suely Franco e Nicette Bruno interpretam amigas de longa data, que se reúnem para um bate-papo semanal regado a chás, no espetáculo com texto de Mário Brasini, sob direção de Alexandre
Reinecke.
Até 22 de março no Teatro Claro Rio
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'Pá de cal (Ray-lux)'
O suicídio do membro mais jovem de uma família dá o pontapé da trama com texto de Jô Bilac. Apresentada pela Cia Teatro Independente, a história segue os dramas marcados por conflitos inesperados e terceirizações de responsabilidades.
Até 20 de abril, no CCBB
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'A hora da estrela ou O canto de Macabéa'
Laila Garin protagoniza a versão musical para o livro "A hora da estrela", de Clarice Lispector. Com adaptação e direção de André Paes Leme, a narrativa sobre a vida de uma imigrante nordestina no Rio é embalada por canções inéditas de Chico César. Até 13 de junho, gratuito, com
transmissão
via YouTube.
'O método Grönholm, em busca de um emprego'
Lázaro Ramos assina a direção da comédia escrita pelo espanhol Jordi Galceran, que ganha montagem com os atores Luis Lobianco, George Sauma, Raphael Logam e Anna Sophia Folch. A narrativa acompanha a disputa de quatro executivos por uma vaga numa multinacional, em dinâmica que envolve situações inusitadas.
Até 29 de março, no Teatro Prudential
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Eliane Giardini e Antônio Gonzalez estrelam o drama de Edward Albee, em montagem dirigida por Guilherme Weber. A trama segue um homem e uma mulher que estão prestes a se separar após 30 anos de casamento,
em meio a uma crise que os obriga a revisar suas vidas.
Até 26 de abril, no Teatro Poeira
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'A esperança na caixa de chicletes Ping Pong'
A atriz Clarice Niskier (do sucesso "A alma imoral") se inspira na obra poético-musical do cantor e compositor Zeca Baleiro neste monólogo em que ela desfia sentimentos e percepções sobre o Brasil, a vida, o sucesso e o amor. Amir Haddad assina a supervisão da direção.
Até 26 de abril, no Teatro Petra Gold
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'Riobaldo'
Amir Haddad dirige a
adaptação do livro “Grande sertão: Veredas”
, de João Guimarães Rosa, encenada pelo ator Gilson de Barros. O monólogo acompanha o ex-jagunço Riobaldo, hoje um próspero fazendeiro, em meio a lembranças de sua vida com as três mulheres que determinaram sua travessia: Diadorim, Nhorinhá e Otacília.
'O clássico êxodo'
O Coletivo Arame Farpado propõe uma reflexão acerca da mobilidade urbana no Rio nesta montagem sobre a história de uma mulher que passará o equivalente a 30 anos de sua vida usando transporte público. Durante o espetáculo, uma das atrizes se desloca da Zona Oeste à Zona Sul, transmitindo sua jornada ao vivo em projeção para a plateia.
Até 29 de março, no Sesc Copacabana
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'Lazarus'
O musical escrito por David Bowie e Enda Walsh ganha primeira montagem brasileira. Sob direção de Felipe Hirsch — e com Jesuíta Barbosa como protagonista —, a história acompanha os dramas de um alienígena na Terra.
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Até 15 de março, no Teatro Multiplan
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Adaptação do conto escrito por Guimarães Rosa, a peça chega ao Rio após elogiadas temporadas em São Paulo, onde se manteve em cartaz por três anos. Sob direção de Antonio Januzelli, o ator Rui Ricardo Diaz se divide entre diversos papéis para compor a jornada de redenção de um sertanejo poderoso.
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Até 12 de abril, no Teatro Poeirinha
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'Ao redor da mesa, com Clarice Lispector'
Ester Jablonski dirige (e participa do elenco, ao lado de outros três atores) da montagem com texto de Clarisse Fukelman. A peça apresenta o encontro da escritora Clarice Lispector com ela mesma, 20 anos mais velha, no início dos anos 1960.
Até 29 de março, no Sesc Copacabana
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'Bordados'
O espetáculo do grupo Amok Teatro acompanha uma sessão de chá entre mulheres árabes. Entre colocações sobre casamento, paixões e família, elas refletem sobre os desafios de viver numa sociedade marcada pela tensão
entre tradição e modernidade.
Até 3 de maio, no CCBB
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'O que só passarinho entende'
Baseado no conto “Totonha”, de Marcelino Freire, e inspirado na obra do poeta
Manoel de Barros, o espetáculo da companhia Cobaia Cênica apresenta as
singularidades de uma mulher que acredita que o real valor de sua existência
está no conhecimento empírico, diretamente ligado à natureza.
Até 29 de março, no Teatro Cesgranrio
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Eduardo Wotzik faz as vezes de um sacerdote que propaga, numa missa (com direito a cantos coletivos e pedidos constantes para a plateia sentar e levantar), determinadas mensagens deixadas pela escritora Clarice Lispector.
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Até 5 de abril, no Teatro Maison de France
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'Leopoldina, independência e morte'
Com texto e direção de Marcos Damigo, o espetáculo recria determinados momentos na vida da mulher consagrada como imperatriz do Brasil entre 1817 e 1826, destacando sua importância decisiva no processo de independência do país.
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Até 29 de março, no Teatro Petra Gold
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'Quebrando regras — Um tributo a Tina Turner'
Com dramaturgia de Stella Maria Rodrigues, o musical dirigido por João Fonseca canta e conta determinados aspectos do Brasil dos anos 80 a partir da história de duas mulheres que vão ao show de Tina Turner no Maracanã, em 1988. As atrizes Evelyn Castro e Kacau Gomes protagonizam a peça.
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Até 29 de março, no Teatro Claro Rio.
'A vida passou por aqui'
Há mais de três anos em cartaz, a
peça com texto de Claudia Mauro
, que também divide a cena com o ator Édio Nunes, acompanha as lembranças de uma solitária professora e um bem-humorado faxineiro, que desenvolveram uma amizade ao longo de cinco décadas.
'Uma relação tão delicada'
Adaptação do texto escrito pela francesa Loleh Bellon, a peça ganha montagem dirigida por Ary Coslov. Em cena, as atrizes Rita Guedes e Letícia Isnard interpretam as diferentes fases nas vidas de mãe e filha — em 1989, a peça foi estrelada com sucesso por Irene Ravache e Regina Braga.
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Até 23 de março, no Teatro Vannucci.
Num contexto em que as ligações perigosas entre um temido assassino e a família do atual presidente da República foram convertidas em uma novela de causar inveja ao roteirista do filme de Scorsese,
“Billdog 2”
—
a continuação da saga teatral de um matador de aluguel
— aparece sob nova luz. A cena se constrói como uma brincadeira heteronormativa de meninos grandes, fãs de blues e rock. A despeito dos litros de suor derramados pelo protagonista
Gustavo Rodrigues
ao interpretar
mais de 40 personagens
ao longo da peça, nenhuma das personagens têm motivações minimamente críveis. Menos que personagens, são em verdade tipos embebidos em uma longa história de clichês extraídos de romances policiais “hard-boiled”, filmes noir e, no que diz respeito à bem humorada trilha sonora executada ao vivo por
Tauã de Lorena
, histórias em quadrinhos.
A costura precária dos episódios e o tom da atuação (dirigida pelo protagonista em parceria com o autor
Joe Bone
e sob a supervisão de
Guilherme Leme Garcia
) nos remetem ao universo das comédias em pé. Nele, importam muito mais os efeitos espalhafatosos e o uso cômico de referências culturais familiares do que qualquer verdade cênica ou social.
Um espetáculo apoiado exclusivamente na paródia de clichês da cultura pop certamente não tem como interessar quem busca no teatro novas facetas do humano ou uma visão adulta da vida em sociedade. Em um momento histórico no qual o riso cínico diante dos próprios absurdos se tornou o álibi preferido dos donos do poder, “Billdog 2” talvez até pretenda ser puro entretenimento, mas acaba defendendo posições estéticas e políticas ingênuas e reacionárias.
Centro Cultural Banco do Brasil (Teatro III):
Rua Primeiro de Março 66, Centro — 3808-2020. Qua a dom, às 19h30. R$ 30. 65 minutos. Não recomendado para menores de 18 anos. Até 1º de março.