Musical escrito e dirigido por Felipe Vidal desidealiza a figura do artista genial, em formato oposto à estrutura canônica dos musicais: neste trabalho, pouco importam as vidas dos Titãs
Patrick Pessoa
23/10/2019 - 14:46
/ Atualizado em 23/10/2019 - 14:47
O problema da maior parte dos musicais biográficos é sua linguagem excessivamente pré-codificada, marcada por uma alternância mais ou menos previsível entre cenas (faladas) retratando episódios da vida do artista e cenas (cantadas) apresentando seus grandes sucessos. Independentemente da singularidade da obra do biografado da vez, geralmente um grande vulto da música popular brasileira, há uma tendência quase inescapável de apresentar suas canções como reflexo de experiências pessoais decisivas. O pressuposto é o de que haveria uma relação causal direta entre vida e obra. Como sabem os próprios artistas, entretanto, por mais que a relação não possa ser negligenciada, tampouco deve ser sobrevalorizada. A arte mais significativa sempre transcende as intenções e o contexto imediato de seus realizadores.
Não fosse assim, seria difícil de explicar como autores tão distantes no tempo e no espaço — como Eurípides e Shakespeare, por exemplo — permanecem absolutamente contemporâneos. Isso, claro, tem a ver com a qualidade e a clarividência do que escreveram. Mas, talvez de forma ainda mais decisiva, tem a ver com a história de sua recepção, com as vidas de todos os anônimos que, tocados por suas obras, fizeram-nas nascer de novo, mesclando-as a experiências pessoais e referências singularíssimas.
Com elenco formado por 17 atores, o espetáculo dirigido por Tadeu Aguiar é a primeira adaptação brasileira para a produção da Broadway inspirada no famoso filme de Steven Spielberg (de 1985): a superprodução conta com banda de oito músicos, 90 figurinos e cenário giratório construído com duas toneladas de ferro.
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Até 12 de abril, no Teatro Riachuelo
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'Quarta-feira, sem falta, lá em casa'
Suely Franco e Nicette Bruno interpretam amigas de longa data, que se reúnem para um bate-papo semanal regado a chás, no espetáculo com texto de Mário Brasini, sob direção de Alexandre
Reinecke.
Até 22 de março no Teatro Claro Rio
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'Pá de cal (Ray-lux)'
O suicídio do membro mais jovem de uma família dá o pontapé da trama com texto de Jô Bilac. Apresentada pela Cia Teatro Independente, a história segue os dramas marcados por conflitos inesperados e terceirizações de responsabilidades.
Até 20 de abril, no CCBB
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'A hora da estrela ou O canto de Macabéa'
Laila Garin protagoniza a versão musical para o livro "A hora da estrela", de Clarice Lispector. Com adaptação e direção de André Paes Leme, a narrativa sobre a vida de uma imigrante nordestina no Rio é embalada por canções inéditas de Chico César. Até 13 de junho, gratuito, com
transmissão
via YouTube.
'O método Grönholm, em busca de um emprego'
Lázaro Ramos assina a direção da comédia escrita pelo espanhol Jordi Galceran, que ganha montagem com os atores Luis Lobianco, George Sauma, Raphael Logam e Anna Sophia Folch. A narrativa acompanha a disputa de quatro executivos por uma vaga numa multinacional, em dinâmica que envolve situações inusitadas.
Até 29 de março, no Teatro Prudential
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Eliane Giardini e Antônio Gonzalez estrelam o drama de Edward Albee, em montagem dirigida por Guilherme Weber. A trama segue um homem e uma mulher que estão prestes a se separar após 30 anos de casamento,
em meio a uma crise que os obriga a revisar suas vidas.
Até 26 de abril, no Teatro Poeira
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'A esperança na caixa de chicletes Ping Pong'
A atriz Clarice Niskier (do sucesso "A alma imoral") se inspira na obra poético-musical do cantor e compositor Zeca Baleiro neste monólogo em que ela desfia sentimentos e percepções sobre o Brasil, a vida, o sucesso e o amor. Amir Haddad assina a supervisão da direção.
Até 26 de abril, no Teatro Petra Gold
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'Riobaldo'
Amir Haddad dirige a
adaptação do livro “Grande sertão: Veredas”
, de João Guimarães Rosa, encenada pelo ator Gilson de Barros. O monólogo acompanha o ex-jagunço Riobaldo, hoje um próspero fazendeiro, em meio a lembranças de sua vida com as três mulheres que determinaram sua travessia: Diadorim, Nhorinhá e Otacília.
'O clássico êxodo'
O Coletivo Arame Farpado propõe uma reflexão acerca da mobilidade urbana no Rio nesta montagem sobre a história de uma mulher que passará o equivalente a 30 anos de sua vida usando transporte público. Durante o espetáculo, uma das atrizes se desloca da Zona Oeste à Zona Sul, transmitindo sua jornada ao vivo em projeção para a plateia.
Até 29 de março, no Sesc Copacabana
.
'Lazarus'
O musical escrito por David Bowie e Enda Walsh ganha primeira montagem brasileira. Sob direção de Felipe Hirsch — e com Jesuíta Barbosa como protagonista —, a história acompanha os dramas de um alienígena na Terra.
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Até 15 de março, no Teatro Multiplan
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Adaptação do conto escrito por Guimarães Rosa, a peça chega ao Rio após elogiadas temporadas em São Paulo, onde se manteve em cartaz por três anos. Sob direção de Antonio Januzelli, o ator Rui Ricardo Diaz se divide entre diversos papéis para compor a jornada de redenção de um sertanejo poderoso.
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Até 12 de abril, no Teatro Poeirinha
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'Ao redor da mesa, com Clarice Lispector'
Ester Jablonski dirige (e participa do elenco, ao lado de outros três atores) da montagem com texto de Clarisse Fukelman. A peça apresenta o encontro da escritora Clarice Lispector com ela mesma, 20 anos mais velha, no início dos anos 1960.
Até 29 de março, no Sesc Copacabana
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'Bordados'
O espetáculo do grupo Amok Teatro acompanha uma sessão de chá entre mulheres árabes. Entre colocações sobre casamento, paixões e família, elas refletem sobre os desafios de viver numa sociedade marcada pela tensão
entre tradição e modernidade.
Até 3 de maio, no CCBB
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'O que só passarinho entende'
Baseado no conto “Totonha”, de Marcelino Freire, e inspirado na obra do poeta
Manoel de Barros, o espetáculo da companhia Cobaia Cênica apresenta as
singularidades de uma mulher que acredita que o real valor de sua existência
está no conhecimento empírico, diretamente ligado à natureza.
Até 29 de março, no Teatro Cesgranrio
.
Eduardo Wotzik faz as vezes de um sacerdote que propaga, numa missa (com direito a cantos coletivos e pedidos constantes para a plateia sentar e levantar), determinadas mensagens deixadas pela escritora Clarice Lispector.
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Até 5 de abril, no Teatro Maison de France
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'Leopoldina, independência e morte'
Com texto e direção de Marcos Damigo, o espetáculo recria determinados momentos na vida da mulher consagrada como imperatriz do Brasil entre 1817 e 1826, destacando sua importância decisiva no processo de independência do país.
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Até 29 de março, no Teatro Petra Gold
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'Quebrando regras — Um tributo a Tina Turner'
Com dramaturgia de Stella Maria Rodrigues, o musical dirigido por João Fonseca canta e conta determinados aspectos do Brasil dos anos 80 a partir da história de duas mulheres que vão ao show de Tina Turner no Maracanã, em 1988. As atrizes Evelyn Castro e Kacau Gomes protagonizam a peça.
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Até 29 de março, no Teatro Claro Rio.
'A vida passou por aqui'
Há mais de três anos em cartaz, a
peça com texto de Claudia Mauro
, que também divide a cena com o ator Édio Nunes, acompanha as lembranças de uma solitária professora e um bem-humorado faxineiro, que desenvolveram uma amizade ao longo de cinco décadas.
'Uma relação tão delicada'
Adaptação do texto escrito pela francesa Loleh Bellon, a peça ganha montagem dirigida por Ary Coslov. Em cena, as atrizes Rita Guedes e Letícia Isnard interpretam as diferentes fases nas vidas de mãe e filha — em 1989, a peça foi estrelada com sucesso por Irene Ravache e Regina Braga.
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Até 23 de março, no Teatro Vannucci.
E se a recepção de uma obra de arte for tão ou mais decisiva para a sua sobrevivência do que os acontecimentos que marcaram a sua produção?
A grande subversão operada por
“Cabeça: Um documentário cênico”
, escrito e dirigido por
Felipe Vidal
, tem a ver com a desidealização da figura do artista genial e, consequentemente, com a crítica à estrutura canônica dos musicais. Nesse trabalho, pouco importam as vidas dos
Titãs
. O foco do interesse são “apenas” as canções de seu disco mais emblemático,
“Cabeça dinossauro”
, lançado em 1986, cujas músicas são tocadas ao vivo na ordem em que aparecem no Lado A e no Lado B do vinil original.
Para os fãs da banda, só essa proposta já valeria uma ida ao teatro. Mas, transcendendo a “empatia fácil” com canções que marcaram época, o que a dramaturgia propõe como comentário e desdobramento das canções é uma verdadeira viagem ao passado, uma proustiana “Em busca do tempo perdido” com roupagem pop.
As madeleines, no caso, são servidas pelos Titãs e temperadas pelos acontecimentos que marcaram o ano de 1986, como o dragão da inflação, o plano Cruzado, os fiscais de Sarney, o sucesso de Jimmy Swaggart (pai de todos os neopentecostais que hoje assumiram o poder) e inúmeras outras referências que calam fundo em quem viveu aquela época. Mas o cerne da experiência do “tempo reencontrado” não se encontra no âmbito público, e sim no mais íntimo de cada um dos performers.
Ao contarem como cada uma das músicas do disco marcou indelevelmente suas vidas, os oito atores em cena (Maurício Chiari, Felipe Vidal, Guilherme Miranda, Gui Stutz, Leonardo Corajo, Lucas Gouvêa, Luciano Moreira e Sergio Medeiros) fazem um convite irrecusável a seu público: que assumamos a coautoria das obras que amamos. Como diz o adágio popular, “de crítico e louco, todo mundo tem um pouco”.