“O Brasil é racista! Muitos acreditam no mito da democracia racial e na meritocracia. Mas a sociedade brasileira é racista. A cor da pele e o risco de exposição à violência estão relacionados. Cerca de 30 mil jovens são assassinados no país por ano, e 77% são negros. Um verdadeiro genocídio da juventude negra. A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil.”
O ator
Rodrigo França
entra em cena sozinho. Depois de escrever seu nome em um dos três blocos de alturas variadas que, junto com algumas cadeiras, são o único cenário da peça, ele apresenta fragmentos de sua biografia. Na sequência, adotando um tom caloroso, entre o didático e o irônico, característico dos professores que querem compartilhar conhecimentos adquiridos nos livros mas também na carne, ele escreve em letras garrafais a palavra “violência” e começa com as palavras que abrem este texto sua aula sobre o racismo estrutural da sociedade brasileira.
Com elenco formado por 17 atores, o espetáculo dirigido por Tadeu Aguiar é a primeira adaptação brasileira para a produção da Broadway inspirada no famoso filme de Steven Spielberg (de 1985): a superprodução conta com banda de oito músicos, 90 figurinos e cenário giratório construído com duas toneladas de ferro.
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Até 12 de abril, no Teatro Riachuelo
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'Quarta-feira, sem falta, lá em casa'
Foto: Paula Kossatz / Divulgação
Suely Franco e Nicette Bruno interpretam amigas de longa data, que se reúnem para um bate-papo semanal regado a chás, no espetáculo com texto de Mário Brasini, sob direção de Alexandre
Reinecke.
Até 22 de março no Teatro Claro Rio
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'Pá de cal (Ray-lux)'
Foto: Paula Kossatz / Divulgação
O suicídio do membro mais jovem de uma família dá o pontapé da trama com texto de Jô Bilac. Apresentada pela Cia Teatro Independente, a história segue os dramas marcados por conflitos inesperados e terceirizações de responsabilidades.
Até 20 de abril, no CCBB
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'A hora da estrela ou O canto de Macabéa'
Foto: Silvana Marques / Divulgação
Laila Garin protagoniza a versão musical para o livro "A hora da estrela", de Clarice Lispector. Com adaptação e direção de André Paes Leme, a narrativa sobre a vida de uma imigrante nordestina no Rio é embalada por canções inéditas de Chico César. Até 13 de junho, gratuito, com
transmissão
via YouTube.
'O método Grönholm, em busca de um emprego'
Foto: Chris Castanho / Divulgação
Lázaro Ramos assina a direção da comédia escrita pelo espanhol Jordi Galceran, que ganha montagem com os atores Luis Lobianco, George Sauma, Raphael Logam e Anna Sophia Folch. A narrativa acompanha a disputa de quatro executivos por uma vaga numa multinacional, em dinâmica que envolve situações inusitadas.
Até 29 de março, no Teatro Prudential
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Eliane Giardini e Antônio Gonzalez estrelam o drama de Edward Albee, em montagem dirigida por Guilherme Weber. A trama segue um homem e uma mulher que estão prestes a se separar após 30 anos de casamento,
em meio a uma crise que os obriga a revisar suas vidas.
Até 26 de abril, no Teatro Poeira
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'A esperança na caixa de chicletes Ping Pong'
Foto: Zé Rendeiro / Divulgação
A atriz Clarice Niskier (do sucesso "A alma imoral") se inspira na obra poético-musical do cantor e compositor Zeca Baleiro neste monólogo em que ela desfia sentimentos e percepções sobre o Brasil, a vida, o sucesso e o amor. Amir Haddad assina a supervisão da direção.
Até 26 de abril, no Teatro Petra Gold
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'Riobaldo'
Foto: Renato Mangolin / Divulgação
Amir Haddad dirige a
adaptação do livro “Grande sertão: Veredas”
, de João Guimarães Rosa, encenada pelo ator Gilson de Barros. O monólogo acompanha o ex-jagunço Riobaldo, hoje um próspero fazendeiro, em meio a lembranças de sua vida com as três mulheres que determinaram sua travessia: Diadorim, Nhorinhá e Otacília.
'O clássico êxodo'
Foto: Matheus Affonso / Divulgação
O Coletivo Arame Farpado propõe uma reflexão acerca da mobilidade urbana no Rio nesta montagem sobre a história de uma mulher que passará o equivalente a 30 anos de sua vida usando transporte público. Durante o espetáculo, uma das atrizes se desloca da Zona Oeste à Zona Sul, transmitindo sua jornada ao vivo em projeção para a plateia.
Até 29 de março, no Sesc Copacabana
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'Lazarus'
Foto: Flavia Canavarro / Divulgação
O musical escrito por David Bowie e Enda Walsh ganha primeira montagem brasileira. Sob direção de Felipe Hirsch — e com Jesuíta Barbosa como protagonista —, a história acompanha os dramas de um alienígena na Terra.
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Até 15 de março, no Teatro Multiplan
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Adaptação do conto escrito por Guimarães Rosa, a peça chega ao Rio após elogiadas temporadas em São Paulo, onde se manteve em cartaz por três anos. Sob direção de Antonio Januzelli, o ator Rui Ricardo Diaz se divide entre diversos papéis para compor a jornada de redenção de um sertanejo poderoso.
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Até 12 de abril, no Teatro Poeirinha
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'Ao redor da mesa, com Clarice Lispector'
Foto: Nil Caniné / Divulgação
Ester Jablonski dirige (e participa do elenco, ao lado de outros três atores) da montagem com texto de Clarisse Fukelman. A peça apresenta o encontro da escritora Clarice Lispector com ela mesma, 20 anos mais velha, no início dos anos 1960.
Até 29 de março, no Sesc Copacabana
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'Bordados'
Foto: Julia Limp / Divulgação
O espetáculo do grupo Amok Teatro acompanha uma sessão de chá entre mulheres árabes. Entre colocações sobre casamento, paixões e família, elas refletem sobre os desafios de viver numa sociedade marcada pela tensão
entre tradição e modernidade.
Até 3 de maio, no CCBB
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'O que só passarinho entende'
Foto: Tiago Amado / Divulgação
Baseado no conto “Totonha”, de Marcelino Freire, e inspirado na obra do poeta
Manoel de Barros, o espetáculo da companhia Cobaia Cênica apresenta as
singularidades de uma mulher que acredita que o real valor de sua existência
está no conhecimento empírico, diretamente ligado à natureza.
Até 29 de março, no Teatro Cesgranrio
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Eduardo Wotzik faz as vezes de um sacerdote que propaga, numa missa (com direito a cantos coletivos e pedidos constantes para a plateia sentar e levantar), determinadas mensagens deixadas pela escritora Clarice Lispector.
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Até 5 de abril, no Teatro Maison de France
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'Leopoldina, independência e morte'
Foto: Victor Iemini / Divulgação
Com texto e direção de Marcos Damigo, o espetáculo recria determinados momentos na vida da mulher consagrada como imperatriz do Brasil entre 1817 e 1826, destacando sua importância decisiva no processo de independência do país.
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Até 29 de março, no Teatro Petra Gold
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'Quebrando regras — Um tributo a Tina Turner'
Foto: Dan Coelho / Divulgação
Com dramaturgia de Stella Maria Rodrigues, o musical dirigido por João Fonseca canta e conta determinados aspectos do Brasil dos anos 80 a partir da história de duas mulheres que vão ao show de Tina Turner no Maracanã, em 1988. As atrizes Evelyn Castro e Kacau Gomes protagonizam a peça.
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Até 29 de março, no Teatro Claro Rio.
'A vida passou por aqui'
Foto: Dalton Valerio / Divulgação
Há mais de três anos em cartaz, a
peça com texto de Claudia Mauro
, que também divide a cena com o ator Édio Nunes, acompanha as lembranças de uma solitária professora e um bem-humorado faxineiro, que desenvolveram uma amizade ao longo de cinco décadas.
'Uma relação tão delicada'
Foto: Vinícius Mochizuki / Divulgação
Adaptação do texto escrito pela francesa Loleh Bellon, a peça ganha montagem dirigida por Ary Coslov. Em cena, as atrizes Rita Guedes e Letícia Isnard interpretam as diferentes fases nas vidas de mãe e filha — em 1989, a peça foi estrelada com sucesso por Irene Ravache e Regina Braga.
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Até 23 de março, no Teatro Vannucci.
“Contos negreiros do Brasil”
, com direção de
Fernando Philbert
,
é fundamentalmente uma peça-aula.
Trata-se de desconstruir, através de números e reflexões baseadas nas obras de alguns dos principais pensadores negros do Brasil, como Milton Santos, o mito da democracia racial. Por mais que esse mito jamais tenha tido qualquer verossimilhança, há ainda muitas pessoas que se agarram a ele. A essas pessoas, que se iludem ou se desculpam pelo próprio racismo com argumentos insustentáveis do ponto de vista sociológico (como aquele que afirma só existir uma raça, a humana), o professor pergunta: “Quantos negros você encontra viajando de avião? Quantos negros você encontra nos restaurantes? Quantos negros você vê nos museus e cinemas? Sem estarem servindo!”
Força das biografias
Para que o letramento em questões raciais visado pelo trabalho seja mais efetivo, a dramaturgia se constrói com base na alternância entre fragmentos da aula do professor Rodrigo e a encenação dos contos negreiros escritos por
Marcelino Freire
. Esse entrecruzamento entre uma dimensão documentária e cenas ficcionais, protagonizadas por personagens negras as mais heterogêneas, permite que as informações dadas pelo professor adquiram a intensidade de vivências corporais concretas.
O ponto alto do espetáculo é o momento em que os outros quatro atores em cena, até então unicamente responsáveis pela representação das cenas ficcionais, repetem o gesto inicial de Rodrigo e escrevem, um a um, seus próprios nomes nos blocos ao fundo do palco. Numa sequência que vai progressivamente agarrando as vísceras dos espectadores, Marcelo Dias, Valéria Monã, Milton Filho e Aline Borges contam cenas de suas biografias que, embora de estrutura semelhante à dos contos de Marcelino, ultrapassam em muito o seu poder de comover e de instruir.
Evidência de que, no teatro contemporâneo, a síntese entre documentário e (auto)ficção costuma ter um alcance muito mais amplo do que as ferramentas convencionais do drama burguês.