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Crítica: 'Gonzaguinha — O eterno aprendiz'

Para Leonardo Bruno, 'soma de monólogo e show não resulta num musical'
'Gonzaguinha — O eterno aprendiz': bem-sucedido como um show-tributo ao compositor Foto: Divulgação
'Gonzaguinha — O eterno aprendiz': bem-sucedido como um show-tributo ao compositor Foto: Divulgação

Cotação: Ruim

Gonzaguinha é um personagem que gera um fascínio impressionante. Morto aos 45 anos, em 1991, deixou obra extensa e alinhada com os anseios de sua geração, mas que ainda encontra eco quase três décadas depois — prova disso é que, nos últimos seis anos, sua figura virou peça de teatro, filme/série, enredo de escola de samba e ganhou homenagem no Prêmio da Música. O musical “Gonzaguinha — O eterno aprendiz”, em cartaz no Teatro João Caetano, demonstra profunda admiração e respeito pela obra e pelo artista. Mas, reverente demais, não consegue extrair bom teatro disso.

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A concepção de Kleber Lincoln e Amaury Vieira propõe dois espetáculos independentes: em um deles, um ator vive Gonzaguinha em monólogo; no outro, três cantores e uma banda revivem os sucessos do compositor. Mas a direção de Breno Carvalho não consegue fazer com que a soma das duas metades resulte num espetáculo inteiro. O diálogo não acontece, fazendo com que texto e música se alternem de forma estanque, abrupta, indo de encontro à maior qualidade do teatro musical — quando falas e versos se confundem tão intimamente que fica difícil delimitar onde começa um e termina outro.

A questão teria impacto menor se o texto de Gildes Bezerra conseguisse mergulhar nas emoções de Gonzaguinha a ponto de trazer à tona as canções de forma mais coesa. As falas do personagem se mostram rasas, sem contar sua história de forma satisfatória nem transmitir as sensações que o levaram a compor. Cada quadro parece apenas cumprir a tarefa de introduzir a música seguinte, utilizando muitas vezes o título da canção como deixa no texto para a entrada dos cantores, de forma esquemática (“Vou botar as pernas no mundo” ou “Descobri o lindo lago do amor”). Sem material para fazer rir, chorar ou mesmo refletir, o ator Rogerio Silvestre se limita a declamar as falas, sem grandes possibilidades de interpretação.

O espetáculo ganha com a entrada em cena da banda, que relembra com competência o inspirado repertório de Gonzaguinha. Os cantores Rafael Toledo e Paulo Francisco Tiso conseguem bons momentos de comunicação com a plateia, mas é a voz de Bruna Moraes que eleva a eletricidade no palco. A ela coube tarefa desafiadora: reler canções que ficaram marcadas nas interpretações de Elis Regina e Maria Bethânia. A cantora mostra presença de palco e sobressai como o grande destaque do musical.

A intenção de homenagear Gonzaguinha é louvável, e a execução de seu repertório já garante momentos de catarse. Mas para se fazer bom teatro é preciso aplicar uma dramaturgia potente em cima disso, que costure as canções, conte uma história e emocione o público. “Gonzaguinha — O eterno aprendiz” é bem-sucedido como um show-tributo ao compositor. Mas ainda há um caminho a ser percorrido para se configurar como um musical.

SERVIÇO:

Onde: Teatro João Caetano: Praça Tiradentes s/nº, Centro (2332-9257). Quando: Sex e sáb, às 19h. Dom, às 18h. Até 30/9. Quanto: R$ 40. Classificação: 14 anos.