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'Dois papas': crítica

Bonequinho aplaude de pé: 'remove aquelas figuras do altar, expõe seus pecados e opõe ideias sobre fé e política'
RS - cena do filme "Dois papas" Foto: Divulgação/Peter Mountain
RS - cena do filme "Dois papas" Foto: Divulgação/Peter Mountain

Os dois homens se encontram num banheiro, e é difícil imaginar um lugar mais mundano do que um banheiro para aquela conversa. Um deles, o mais despojado, assobia. O outro, mais sisudo, se surpreende com a melodia e pergunta qual é a música.

Globo de Ouro: 'Dois papas é indicado a Melhor filme de drama, Melhor ator de drama (Jonathan Pryce), Melhor roteiro e Melhor ator coadjuvante (Anthony Hopkins)

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“É ‘Dancing queen’. Do Abba”, responde o argentino Jorge Bergoglio para o alemão Joseph Ratzinger, ambos cardeais prestes a votar no conclave que decidiu o sucessor de João Paulo II, em 2005.

É o primeiro diálogo dos muitos em que “Dois papas” reúne Ratzinger (interpretado por Anthony Hopkins) e Bergogli o (Jonathan Pryce), respectivamente os papas Bento XVI e Francisco. O ótimo filme, dirigido por Fernando Meirelles com roteiro de Anthony McCarten, remove aquelas figuras do altar, expõe o que seriam seus pecados (quem nunca que atire a primeira pedra) e opõe ideias sobre fé e política.

O foco é o embate intelectual entre o reformista Bergoglio e o conservador Ratzinger, de certa forma duas rainhas dançantes que se equilibram de forma distintas no jogo de poder do Vaticano. A história basicamente começa com a morte de João Paulo II, que levou à eleição de Ratzinger, e termina com a escolha de Bergoglio após a renúncia de Bento XVI.

“Dois papas” tem o cuidado de tratar ambos com respeito, sem tender para nenhum lado, compreendendo a Igreja como um ente político onde ninguém é exatamente santo. É uma obra muitíssimo bem acabada, que sugere ligações entre fé e política muito mais próximas do que a Igreja costuma admitir.