Há uma onda de restaurantes de cozinha mediterrânea no Rio, quase uma licença poética gastronômica para o chef viajar na abobrinha, nos tomatinhos cereja, em rúculas, burratas... O mesmo do mesmo, com honrosas exceções. O maior mérito do Salí, o mediterrâneo (olha ele aí) que o chef Ricardo Lapeyre abriu no Leblon — em parceria com o restaurateur Eduardo Preciado, sócio de Minimok, Pabu, Tasca Miúda e outras — é que a a cozinha dali explora muitas paragens. Há pratos gregos, libaneses, argelinos, marroquinos, um pouco de Espanha e de Sul da França também. O giro da casa é de fôlego.
O nome Salí vem de salicórnia, um tipo de planta marinha conhecida como aspargos do mar ou sal verde, porque é salgada. As escamas de sua haste armazenam o sal da água do mar. Tem no Mediterrâneo e agora por aqui também. E Salí ainda tem uma sonoridade que remete ao francês salut, DNA do chef. É um nome simpático, bem pensado e sacado. A casa passa por aí...
O mesmo ponto da Dias Ferreiras já foi um japonês fusion (tocado por Pierre Landry e Nao Hara), um italiano e agora dá lugar ao Salí. Tem mesas na calçada (e qual não tem no trecho?), um salão com prateleiras onde ficam expostos alguns produtos dao chef e um bar ao fundo. Volta e meia um funcionário aparece pelo salão circulando com uma espécie de baleiro, onde estão produtos de salumeria artesanal e local, alguns de mar. São crudos e conservas para começar a jornada.
Há muitos mezzes, alguns geniais, como as moules frites que misturam mexilhão com lambreta em caldo delicioso para tomar de colher (R$ 68). Os caldos e molhos do Lapeyre costumam ser muito bons. A croqueta de lagostim com aiöli de limão-siciliano (R$ 44, duas, avantajadas) é de comer muitas. O porco preto vem no strudel, de massa estalante, com salada morna (R$ 168, para dois); o carpaccio de javali curado traz sal de zimbro e azeite de carvão (R$ 48), e os aspargos do mar aparecem em cena em tempuras crocantes acompanhando o tartare de carne na ponta da faca (R$ 56). E as salicórnias desidratas, em pó, salgam a manteiga .
Servem tagines fartas: dividimos a de pernil de cordeiro com arroz de altitude e castanhas (R$ 97). E há opções de carnes, de peixes do dia, de massas... De sobremesa, torta basca, baklawa, banana flambada com pastis, caramelo e sablé salgada...
Só não espere salada caprese, burratas, tomatinhos e rúculas. Ou as onipresentes bruschettas, hits dos mediterrâneos cariocas. No Salí, não tem, não.
Cotação:
Quatro garfinhos: muito bom
Serviço:
Salí. Rua Dias Ferreira 78, Leblon (2512-6526). Seg a sáb, das 12h à meia-noite. Dom, das 13h à 23h.