Gastronomia
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Por Luciana Fróes; Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

O bluefin de cor indescritível que o mestre sushiman André Kawai manuseia com sua faca artesanal, acredite, foi pescado na véspera — e nas águas geladas do Mediterrâneo. Pois lá estava ele, lindo, desmanchando na boca dos oito felizardos que ocupavam o balcão do San Omakase, um japinha notável de menos de 40 metros quadrados, no Leblon. Mas o feito tem seu preço, claro. Alto, claríssimo: ali, a sequência de 15 fases harmonizada com saquês de polimentos avançados sai por R$ 970. Kampai.

Em Botafogo, no Oteque, do chef Alberto Landgraf, os rótulos de pequenos produtores garimpados pelo sommelier Léo Silveira são servidos em taças austríacas Zalto, as melhores e mais caras do mundo. Raro vê-las até em mesas estreladas mundo afora. Mas no Oteque tem. E aí vem a história de sempre, isso (e tantas coisas mais da casa) tem seu preço: R$ 735, para ser exato, valor do menu de oito etapas. Se quiser acompanhar com vinhos, e ver o que a Zalto tem, acrescente R$ 675 ou R$ 795 (com rótulos premium). E, num gole, o jantar passou de mil reais. Com folga.

Muito dinheiro, certo? Mas não se trata de “um simples jantar”, defendem alguns. E é aí, nessa reflexão, que a chave do cofre vira, e o cenário se transforma: há quem possa pagar (é fato) e há quem sonhe com essas experiências únicas. O investimento é alto, aqui e em qualquer lugar do mundo, para casas desse padrão. E, quer saber? Para quem tem esses sonhos de consumo gourmet, a safra nunca foi tão boa. O nicho de luxo segue presente, mas está diferente.

O tamanho, por exemplo, mudou. Surgiu recentemente uma leva de espaços pequenos, para poucos, de menu caprichadíssimo. Para degustar dessas iguarias, apenas com reserva —e às vezes, com pagamento antecipado. Além do já citado San, outro novo em folha, o Casa 201, tem essa pegada: 20 clientes (no máximo) que são recebidos como se estivessem na casa dos donos. Jantam todos ao mesmo tempo, e a regra é clara: às 20h, o serviço começa.

Outro: o Mesa do Lado, de Claude Troisgros, tem somente 12 lugares e só funciona duas noites por semana. Dá para imaginar um restaurante do badalado chef francês com essa lotação? Mas não é apenas mais um endereço da grife Troisgros: é a cereja do bolo do mestre, a casa que “sempre sonhou ter”. Então, os clientes desfrutam de um espetáculo único, que une experiência musical, sensorial, olfativa e degustativa.

A lista dos pequenos notáveis tem ainda o balcão para lá de nobre de Rafa Costa e Silva (que também “encolheu” seu Lasai); o surpreendente Amana, do chef Leo Guido, que colocou Niterói no mapa da alta gastronomia; o menu sob encomenda de Roberta Sudbrack; a mesa do chef na cozinha do Cipriani, no Copacabana Palace, e mais. Nessa viagem de luxo, o céu é o limite.

Oteque

Pense no que terá pela frente à mesa do restaurante de Alberto Landgraf, 76º melhor do mundo, segundo o prestigiado The World’s Best Restaurants 2023. Então, acrescente um pouco mais, porque ele pode ir além dos oito pratos previstos para a noite. De pé, na cozinha aberta, controla o salão, manda os pratos no timing certo. Mas o melhor ali é sentar na bancada do chef, onde você desfruta, de pertinho, do bailado dos oito profissionais em ação. Nada de barulho, gritaria. Isso é coisa de filme. Som ali é o da playlist de Landgraf, que dá vontade de sair dançando. As louças exclusivas servem de molduras para as criações: caviar com espuma de coco, sardinha com foie gras, wagyu como você nunca provou. Lá pelas tantas, um doce totalmente branco chega à mesa. Lembra o museu Guggenheim de Bilbao. Comida também é arte.

Rua Conde de Irajá 581, Botafogo (3486-5758). Ter a sáb, das 19h às 23h30. R$ 735 (menu); com vinho, mais R$ R$ 675 ou R$ 795.

Mesa do Lado

Claude Troisgros fez o que nunca se viu. Pelo menos por aqui. Para abrir o Mesa do Lado, de 12 lugares, se juntou ao diretor artístico Batman Zavareze, responsável pelas projeções que ocupam o espaço, do chão ao teto, e passou um ano pensando e montando o espaço. “É um menu onde todos os sentidos são conectados pelo paladar. Tem música, poesia, filme, videomapping e gastronomia de alto nível ”, resume. O show é dividido em três atos, com menu de nove etapas, que acompanha o ritmo: capuccino de cogumelos, carpaccio de cavaquinha, o antológico salmão com azedinha, criação do pai Pierre, doces que parecem joias. Em meio às projeções, você pode ser surpreendido por Claude, ao vivo e a cores, que vai às mesas conversar com os clientes. A experiência multisensorial só acontece às sextas e aos sábados e, como em qualquer show, tem que chegar na hora.

Rua Conde Bernadotte 26, Leblon (3579-1185). Sex e sáb, às 20h. R$ 860, mais R$ 380 (com vinho).

Restaurante Mesa ao lado, de Claude Troisgros — Foto: Tomas Rangel
Restaurante Mesa ao lado, de Claude Troisgros — Foto: Tomas Rangel

Lasai

“É a mais nobre experiência gastronômica do Brasil”, ouvi da minha vizinha de balcão no restaurante de Rafa Costa e Silva, que chegou ao 58º lugar do The World’s Best deste ano. O Lasai, que já não era muito grande, em 2022 se transferiu para um espaço ainda mais exclusivo, para dez pessoas acomodadas no confortável balcão. O menu é extenso: 15 atrações preparadas com ingredientes simples, orgânicos. O lidar com eles, a montagem, a técnica, a criatividade e o resultado, impressionam: ostras com coco e limão-caviar (só dá ele), porco curado com banana e sarraceno, cogumelos com castanha-do-pará e pinhão...

O jantar pode ser harmonizado com oito vinhos e um saquê de polimento nas alturas. Com cifras idem: R$ 950, mais R$ 400 pelas taças e 12% de serviço. Somou? É isso, passou dos R$ 1.500. O patamar é esse em casas premiadas no ranking internacional. Vale quanto pesa no bolso? Podendo, vale. Muito.

Largo dos Leões 35, Humaitá (3449-1854). Ter a sex, das 20h à meia noite. Sáb, das 19h às 2h.

San Room Omakase

Dezenas de pequenas esculturas em cobre pendendo do teto enfeitam o pequeno espaço, que atende no máximo oito clientes, mesmo numero do staff. O omakasê é comandado por André Nobuyuki Kawai, o embaixador do sushi no Brasil. São 15 etapas preciosas, em insumos, cortes, louças, servidas em duas horas e meia. O menu muda em função dos peixes do dia: R$ 680 ou R$ 970 (harmonizado). Não deixe de conhecer o banheiro, que além dos origamis, tem o Toto, o vaso sanitário sensação japonês.

Rua Conde Bernadote 26, Leblon (2112-5199). Qua a sáb, às 20h. Só com reserva.

Amana

São apenas 12 pessoas por dia. Poucos dias: sexta, sábado e domingo. Mas muita gente do Rio baixa na região oceânica de Niterói para comer no Amana, de Leo Guida, que depois de passar por cozinhas como a do premiado Borogó, de Santiago (Chile), resolveu investir em voo solo, abrindo o restaurante no quintal da antiga casa do avô. Alguns ingredientes são dali, outros de pequenos produtores ao redor. A cozinha segue o fluxo das estações, e ele dá preferência a insumos menos convencionais, como as pancs. Pétalas de tumbergia, por exemplo, uma flor azul que vem com cogumelos defumados com eucalipto e alcaçuz. O menu, de 11 pratos, é minimalista: lista apenas os nomes dos principais ingredientes — prática, aliás, comum a esses estabelecimentos em que a imaginação ganha asas. Aí aparecem coisas como lardo com queijo canastra. Ou ostra com foie gras. O cardápio muda todo tempo. Como o tempo.

Rua do Canal 145, Itaipu (96512-4667). Sex e sáb, às 20h. Dom, às 14h. R$ 265 + R$ 175 (harmonização).

Casa 201

João Frankenfeld, que foi professor do Cordon Bleu carioca, é um mestre em técnicas francesas. Põe em prática todas no menu de sete etapas do novíssimo restaurante, que só recebe 20 pessoas, para o jantar. Espere encontrar coisas como creme de foie gras com uvas em seis texturas, ravióli de frutos do mar com molho de espumante e mousseline de couve-flor. O menu custa R$ 590, sem vinho, mas há uma boa carta com cifras que não assustam. Você come como se estivesse na casa dos donos: ela, do mercado financeiro; ele, dono de galeria de arte.

Rua Lopes Quintas 201(96707- 0201). Ter a sáb, às 20h.

Cipriani

Comer no imponente salão do Copacabana Palace já é um luxo, mas o programa pode ser ainda mais exclusivo se você jantar na cozinha, em mesa montada com pompa para seis pessoas. O menu fechado tem 12 pratos, 12 vinhos e é servido em três formatos: do Chef (R$ 1.150 ou 1.350, no fim de semana), Premium (R$ 4.800) e Dom Pérignon (R$ 8 mil). São os vinhos que puxam os dígitos. “Mas são exemplares de produtores pequenos, seleção superespecial”, justifica o sommelier Ed Arruda. O que esperar do chef Nello Cassese: pode vir um carpaccio de wagyu, ravioloni del plin, baccalá amantecatto. E mais, muito mais. Demais.

Av. Atlântica 1.702 (2548 7070). Ter a sáb. Apenas com reserva.

Haru Omakasê

Para aficionados por cozinha japonesa, a sala reservada do Haru, no estilo clássico de Kioto, chega a ser um templo para enxutos oito clientes. Quem escolhe os peixes — entre os mais frescos do dia —é o próprio dono, Menandro Rodrigues. A casa é recheada de preciosismos, seja no salão, seja no que é servido. Atum com foie gras, carapau, lagostim, vieiras... É torcer para ter ouriço (do Sul ou de Ilha Grande), uma preciosidade. É uma sucessão de “ohsss” durante o omakasê: R$ 298, mais R$ 100, se incluir bluefin. Tem omakasê todo dia, duas rodadas (“é muita gente atrás”, diz Menandro), mas é preciso reservar.

Rua Raimundo Correa 10, Copacabana (96732-2668). Ter a dom, das 12h à meia-noite.

Oro

O restaurante de Felipe Bronze foi pioneiro nesse estilo de cardápio farto em ingredientes bissextos trabalhados com originalidade. O quesito surpresa segue a sua história. O menu Criatividade, o mais completo, sai a R$ 690 — se resolver harmonizar, some mais R$ 370. Podem chegar à mesa peixe com melão em matcha, cordeiro com homus de feijão-manteiguinha, porco com umeboshi e o brigadeiro do Bronze. Que seja doce.

Rua General San Martin 889, Leblon (3190-4091). Ter a sex, das 19h às 23h. Sáb, das 13h às 15h e das 19h à meia-noite.

Sud, o Pássaro Verde

Com reserva de 48 horas, Roberta Sudbrack serve um menu fora de série. Só sucessos do RS, pratos “dos meus tempos palacianos, digamos assim”, ela explica, em referência à época em que trabalhou em Brasília. Tartare de abóbora, gema caipira e quinoa em duas texturas; quiabo defumado, com camarão e caviar vegetal e por aí vai. Preço? R$ 450, sem vinho (a carta é boa). Em tempo: a sala do segundo andar está sendo reformada para servir esses menus especiais.

Rua Visconde de Carandaí 35, Jardim Botânico (3114-0464). É necessário reservar.

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