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Rio Show

No aniversário do Rio de Janeiro, mostra virtual reúne fotos de Augusto Malta do Rio Antigo

Mostra on-line "Mar de Malta" tem imagens da orla de Copababana, Ipanema e Botafogo, além de praias do Centro que não existem mais
Praia de Copacabana em 1915. Foto: Augusto Malta. / Arquivo Images2You
Praia de Copacabana em 1915. Foto: Augusto Malta. / Arquivo Images2You

Celebrando o aniversário de 456 anos do Rio de Janeiro, uma exposição on-line com fotos de Augusto Malta (1864-1957) é inaugurada hoje, com um recorte de imagens que resgatam a vocação praieira da cidade. Exibida originalmente em 2015, no Centro Cultural da Justiça Federal, no Centro, a mostra tem curadoria do fotógrafo e historiador Milton Guran e curadoria adjunta da pesquisadora Ana Bartolo e está disponível até 31 de julho, gratuitamente, no site mardemalta.com.

As imagens foram pinçadas de acervos públicos como o do Museu Histórico da Cidade, do Arquivo Geral da Cidade, do Museu da Imagem e do Som, da Biblioteca Nacional e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, além de coleções privadas, como a do Instituto Moreira Salles e a do Arquivo George Ermakoff. Para chegar às 40 fotografias que compõem a mostra, os curadores fizeram uma primeira seleção com quase 200 registros. O curador explica o recorte.

— O Rio era absolutamente colonial, com ruas estreitas viradas para si mesmo, para o próprio umbigo. A reforma de Pereira Passos não só modernizou a cidade, mas também coincidiu com um momento em que a Europa descobria o mar como opção de lazer. Aqui, o Palácio do Catete, por exemplo, está de costas para o mar, virado para a Rua do Catete. Imagina a lama que não era aquilo? Não havia essa cultura de desfrute e de lazer da praia — conta Guran.

Na mostra, há retratos de praias que não existem mais, como a de D. Manuel e a de Santa Luzia, no Centro, e a Praia do Russel, na Glória, aterradas com o desmonte do Morro do Castelo, em 1921. Em uma imagem, nota-se o mar chegando à beira do obelisco no final da Avenida Rio Branco, então Avenida Central. Também podem ser vistas fotos que remontam à ligação de Botafogo com Copacabana, com o Túnel Alaor Prata (conhecido como Túnel Velho), construído em 1892, em um processo de expansão da cidade para os bairros de praias oceânicas. Também há fotos que revelam curiosidades, como as barcas de banho, onde pessoas se prendiam a correntes para ficar de molho na água salgada.

— As pessoas caiam no mar com roupas incríveis, e se amarravam em boias e cordas para entrar na água, pois não tinham muita intimidade com o mar. Isso começou a se popularizar no final do século XIX até as primeiras décadas do século XX, quando começaram as primeiras regatas. Antes, corpo sarado e queimado de sol era coisa de operário. Só depois, com as regatas, a elite começou a gostar de ser forte. E as fotos do Malta contam essas histórias.

E que tal uma foto que capta a vista do Rio de Janeiro de cima do Corcovado, antes da construção do Cristo Redentor? Ou dos antigos postos de salvamento de uma idílica Praia de Copacabana, com poucas construções. Ipanema, então, nem se fala: em um dos registros, pode ser ver a orla do bairro praticamente deserta, com os morros Dois Irmãos ao fundo.

—A cidade foi se expandindo para as praias de mar aberto. Primeiro abriram o Túnel da Siqueira Campos, hoje chamado de Túnel Velho. E depois abriram o “túnel novo”, que já tem 100 anos. Aí que tivemos mais acesso à Copacabana. O Copacabana Palace foi construído com a mesma arquitetura e mesma sofisticação dos hotéis da Corte D’Azur, na Franca. Isso mexeu com o imaginário das elites tropicais — conta o curador.