Shows e concertos
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Por — Rio de Janeiro

Um microcosmo. É assim que Marcos Sacramento define a região que engloba a Rua do Ouvidor e a Rua do Mercado, no Centro. O músico faz parte de uma nova leva de sambistas que vêm fervendo a região aos fins de semana, ao lado de outros nomes de peso, como Moyseis Marques e André Diniz. É verdade que a região já abriga rodas de samba há tempos, mas hoje está em ebulição: não é difícil encontrar três ou quatro grupos tocando no mesmo dia, geralmente aos sábados.

Como bom programa carioca, a batucada não vem desacompanhada. Dá para passar um dia inteiro na região, vizinha à feira de antiguidades da Praça Quinze, a diversos centros culturais (como Paço Imperial e CCBB), a restaurantes e ao Boulevard Olímpico.

O publicitário Octacílio Barbosa, que costuma ir à feira de manhã e emendar em um almoço por ali, esticou um pouco para conhecer o Samba do Sacramento, no último sábado à noite.

—É um passeio completo. Fiz compras, comi bem, curti um samba — alegrou-se o carioca, que aprovou a roda — Tem um toque descolado, digno do Rio.

O clima também agradou a criadora de conteúdo Radha Barcelos, que foi especialmente para o samba.

— Vi nas redes que estava bombando, então combinei de vir com os amigos — contou, momentos antes de avistar os atores Wagner Moura e Humberto Carrão em meio à multidão.

Criado em novembro, o Samba do Sacramento acontece ao menos um sábado por mês, em frente ao número 35 da Rua do Mercado, onde está a sede da parceira Junta Local, que arma algumas barraquinhas para abastecer o evento de comes e bebes.

Marcos Sacramento agita a roda Samba do Sacramento, na Rua do Mercado — Foto: Divulgação
Marcos Sacramento agita a roda Samba do Sacramento, na Rua do Mercado — Foto: Divulgação

— As rodas estão revigoradas. Vejo a galera jovem e LGBTQA+ chegando com força — comemora Marcos Sacramento, que permanece de pé durante as mais de três horas de batuque. — A roda é quase uma simbiose entre os músicos e o público. Quando pega fogo, é catártico. O samba tem esse poder.

Parte da turma que ajudou a revitalizar a Lapa, nos anos 1990, Moyseis Marques também aposta no novo point e leva seu Baile de Quintal ao bar e sebo Al Farabi (“Alfa”, para os mais chegados), na primeira sexta-feira de cada mês.

— Estamos no centro histórico. Esses paralelepípedos falam! E com a revitalização da área, com o Boulevard Olímpico, toda a região até a Zona Portuária virou o novo pouso para a movimentação cultural dos últimos anos — vibra o músico, que também comemora o bom momento do samba de rua em si. — Nunca houve tanta roda ao mesmo tempo na cidade. O samba é democrático, acolhedor, e está ficando mais despudorado.

Com um repertório que vai de Gonzaguinha a Chico Buarque, Moyseis mantém o microfone aberto a participações de amigos — Pedro Miranda, João Cavalcanti e Chico Alves são alguns dos que já deram canja .

Bar Al Farabi promove apresentações musicais no Boulevard Olímpico e na Rua do Mercado — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo
Bar Al Farabi promove apresentações musicais no Boulevard Olímpico e na Rua do Mercado — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

O Alfa é um dos agitadores culturais da área com uma robusta agenda de eventos, como a Roda do André Diniz, prestes a completar 20 anos de estrada, o Choro na Rua (de Silvério Pontes) e o projeto Canta, canta, minha gente, no qual os irmãos Raoni e Dandara homenageiam o avô Martinho da Vila. As apresentações se revezam entre os dois acessos do bar: no espaçoso Boulevard Olímpico ou na Rua do Mercado, na mesma calçada do Samba do Sacramento.

Este miolo, inclusive, acaba de ganhar o reforço da novata Casa de Cultura Volta do Mundo e Conexões, inaugurada neste mês, que realiza atividades como rodas de jongo, capoeira, aula de dança afro, baile charme e feijoada com samba.

Música com história

Há cerca de 20 anos, a Rua do Ouvidor costumava ficar deserta aos fins de semana. Para estimular o movimento, a então recém-instalada livraria Folha Seca passou a promover lançamentos de livros com música ao vivo. Deu certo, e os comércios vizinhos entraram na roda. Foi assim que nasceu o extinto Samba da Ouvidor, capitaneado por Gabriel da Muda, que se estabeleceu na esquina com a Rua do Mercado.

O ponto passou para o grupo Mal de Raiz, que, há coisa de dez anos, já se tornou de lei nas tardes de sábado. A roda é uma “bagunça em família”, puxada pela cantora Juliane Rodrigues e sua mãe, dona Elvira. O pai, Waldir Sete Cordas, também participa.

— Nossa roda valoriza sambas clássicos, para compor o ambiente de Rio Antigo— afirma Juliane.

Os músicos têm fôlego: o samba começa às 14h e vai até o cair da noite. De início, prevalece o clima de almoço nas mesas espalhadas pelo calçamento de pedras, em meio ao vai e vem dos garçons carregando bandejas abarrotadas de baixelas e garrafas de cervejas. Com o avanço das horas, o público se anima a levantar para arriscar um gingado.

Roda Mal de Raiz, entre as ruas do Ouvidor e do Mercado — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo
Roda Mal de Raiz, entre as ruas do Ouvidor e do Mercado — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

Ainda na Ouvidor, engrossam o caldo a roda Bem Te Vi, em frente ao restaurante Parada Ouvidor; e o Samba do Peixe, puxado por Chico Alves, na Toca do Baiacu. A Folha Seca ainda promove eventos, mas só em ocasiões especiais. O cenário é de festa ao ar livre, com música, gastronomia e muita história. É mesmo um microcosmo.

Programe-se

  • Samba do Sacramento. Rua do Mercado 35. Um sábado por mês, às 19h. Próximo: 18 de maio.
  • Mal de Raiz. Esquina das ruas do Mercado e Ouvidor. Todo sábado, das 14h às 18h.
  • Bem Te Vi. Rua do Ouvidor 43. Sábados alternados, das 14h às 18h. Próximo: 4 de maio.
  • Samba do Peixe. Rua do Ouvidor 41. Domingos esporádicos, das 14h às 19h.
  • Al Farabi (Rua do Mercado 34): Baile de Quintal (Moyseis Marques; primeira sexta-feira do mês, às 19h), Canta, Canta, Minha Gente (2º sábado do mês, às 14h), Roda do André Diniz (1º domingo do mês, às 19h), Enredos do meu samba (2º domingo do mês, às 14h), Choro na Rua (3º domingo do mês, às 14h).

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