Shows e concertos
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Por — Rio de Janeiro

Ney Matogrosso está a todo vapor. Com uma cinebiografia a caminho (“Homem com H”, que será dirigida por Esmir Filho e protagonizada por Jesuíta Barbosa) e a agenda cheia de shows Brasil afora, o artista de 82 anos segue atento e com tesão — pelo palco e pela vida. A poucos metros da Arena Jockey — onde ele sobe ao palco neste sábado, às 19h30 —, sentado em uma das arquibancadas do Jockey Club Brasileiro e embaixo de uma das raras sombras que havia por lá, Ney falou ao GLOBO sobre os seus espírito e corpo joviais e sobre a liberdade pela qual desde sempre batalhou — com poucas roupas, muitas danças e uma voz inconfundível.

Para ele, se as palavras com o público são raras quando está em cima do palco ("No máximo dou um boa noite e me despeço deles depois", afirma), o que precisa ser dito é feito através das músicas que são cantadas — e elas são escolhidas a dedo. "Amor só dura em liberdade", diz, em "A maçã", composição de Raul Seixas. "Quero a utopia, quero tudo e mais", canta, em "Coração civil", de Milton Nascimento. No setlist também estão "Jardins da Babilônia" (Rita Lee e Roberto de Carvalho) e "Como 2 e 2" (Caetano Veloso).

Ney garante que a turnê de "Bloco na Rua", com shows já marcados para o próximo ano, ainda vai longe ("Só vou parar na hora que sentir vontade de fazer outra coisa", diz). Enquanto isso, sem pressa, ele ensaia os próximos passos selecionando um novo repertório. Veja, abaixo, parte da entrevista:

Ney Matogrosso no Jockey Club Brasileiro — Foto: Leo Martins/Agência O Globo
Ney Matogrosso no Jockey Club Brasileiro — Foto: Leo Martins/Agência O Globo

O GLOBO — Quando você sobe no palco, você leva toda a experiência dos seus mais 50 anos de carreira, mas também uma jovialidade muito grande que é característica sua. De onde vem isso?

NEY MATOGROSSO — Eu não sei subir no palco e não ser assim [jovial]. Sabe uma coisa automática? Eu subo em um palco e, quando tem um público na frente, claro, eu já sou daquela maneira. Desde sempre foi assim.

Você tem feito muitos shows em formato de pista, com o público em pé. Você acha muito diferente?

Eu gosto mais quando é pista porque o público é mais espontâneo. Não tem aquela formalidade de estar na mesa, de não incomodar quem está atrás. Quando é todo mundo em pé eu gosto mais.

Você também tem um público jovem muito forte que te acompanha e vai em todos os seus shows, né?

Olha, cada vez aparecem mais crianças com os pais. Eu acho ótimo quando chegam as crianças. Gosto muito mesmo. Eu acho estranho, né? Estranho, não, mas acho interessante os pais trazerem as crianças para me assistirem. Estou falando de criancinhas mesmo.

Como é a sua troca com o público? Eles vão muito até você, seja nas redes sociais ou nos shows?

No show é mais difícil porque eu não converso. Tem artista que conversa. Eu não. Entro ali, canto tudo o que tenho que cantar, no máximo dou um boa noite e me despeço deles depois. Mas eu sinto que há um anseio de conversar comigo. Sempre que é possível eu converso, não tenho nenhum problema com isso.

Existem algumas músicas que você não pode deixar de cantar de jeito nenhum porque te pedem muito?

Não tem isso. Eu canto o que está estabelecido para eu cantar. Agora, eu venho tirando algumas músicas e colocando outras para não ficar aborrecido para mim, porque já são quase 4 anos que estou cantando, né? Recentemente fiz um show com a Liniker, a Filipe Catto, a Duda Brack e a Ana Cañas. Cantei "Rua da passagem" (Lenine e Arnaldo Antunes). Essa é maravilhosa e tem uma hora que fala assim: "Travesti, trabalhador, turista. Solitário, família, casal. Todo mundo tem direito a vida e todo mundo tem direito igual". É um achado me mandarem uma música em que eu posso dizer essas coisas, porque eu acredito nisso.

Quando está em cima do palco, você sente os mais de 50 anos de carreira?

Não. Nem paro para pensar nisso [risos]. Eu chego lá, faço o que tenho que fazer e vou embora. Às vezes eu entendo e penso que estou ótimo, podendo fazer tudo, porque eu pulo, me abaixo e faço um monte de loucuras. Sei que sou um privilegiado porque me cuido e faço ginástica diariamente, então a idade não tem esse peso.

Seu nome é considerado um sinônimo da ideia de liberdade. Como você lida com isso?

Isso foi uma coisa que eu sempre busquei desde o começo: trabalhar com liberdade de expressão em todos os sentidos. Quando eu apareci dançando, homem não podia dançar aqui no Brasil, e eu não entendia o porquê. Na África os homens dançavam, se requebravam, caíam no chão, e aqui tinha essa caretice. Mas eu cheguei dançando, porque me interessava ser um personagem que dançava e que cantava, então nunca me preocupei com o que era proibido e não iam autorizar. Nunca pedi autorização, também, né?

Uma vez, em Brasília, com o Secos e Molhados, a mulher de uma pessoa de uma patente alta [no Exército] cismou comigo e reclamou porque eu estava cantando sem camisa. Pararam o show e foram lá atrás falar comigo. Eu disse: “Olha, mas o meu show é assim. Se não for assim a gente vai embora agora”. Mas eu nunca me submeti a essas coisas, não. Eu já tinha viajado pelo Brasil inteiro, e aí em Brasília ia vestir uma camisa? A troco de quê? Não tinha cabimento.

Já tem planos para um próximo trabalho depois de 'Bloco na Rua'?

Não. Ainda não tenho planos para um próximo trabalho, embora vagarosamente eu esteja selecionando, sem prazo, um repertório que não sei para quando será, porque esse [trabalho] ainda vai longe. Já tenho show para o ano que vem. Então, não vou parar. Só vou parar na hora que eu sentir vontade de fazer outra coisa. Vamos ver.

Ney Matogrosso — Foto: Leo Martins/Agência O Globo
Ney Matogrosso — Foto: Leo Martins/Agência O Globo
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