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Susana Vieira: 'Aos 78 anos, estou no auge para fazer a gostosa beijoqueira'

Intérprete de mulher que adora sexo em comédia no streaming, atriz fala sobre amor, idade e política e diz que não veio ao mundo para 'passar despercebida'
A atriz Susana Vieira, aos 78 anos Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A atriz Susana Vieira, aos 78 anos Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Desde que começou a pandemia, Susana Vieira só levanta da cama lá pelas 13h, quase sempre de mau humor, ainda sob a identidade de Sônia, nome que consta em sua certidão de nascimento — “Soninha, que fica de pijama o tempo inteiro, está muito mais presente agora”, ela diz, sobre si mesma. Depois que dá atenção aos quatro cachorros da raça Yorkshire, a atriz de 78 anos começa a soltar piadas e tiradas para quem está por perto, e segue assim durante todo o dia, como faz questão de frisar. O comportamento reflete um “instinto de sobrevivência”, ela constata.

— Meu Deus, deixa eu ver como é um homem. Tem muito tempo que não vejo como é essa coisa maravilhosa — Susana berra, ao receber o GLOBO em sua casa, no Rio de Janeiro.

A brincadeira poderia ser feita por Nelita, mulher que ela interpreta — e que adora discorrer sobre sexo, homens, pênis e otras cositas más — no filme “Amigas de sorte”, que estreou na última segunda-feira (17/5) nas plataformas Now, Sky, Vivo, Oi, Looke, iTunes e Google Play.

Comédia com argumento de Alexandre Machado e Fernanda Young (1970-2019) — e estrelada por Susana, Arlete Salles e Rosi Campos —, o longa dirigido por Homero Olivetto acompanha as aventuras e desventuras de três amigas acima dos 70 anos numa jornada transformadora.

A produção põe em primeiro plano as vivências de mulheres maduras, algo raro de ver no Brasil, lamenta Susana, cansada de encarnar mães e avós de protagonistas na TV. Na entrevista a seguir, ela, que já tomou as duas doses da vacina contra a Covid-19, fala abertamente sobre uma miríade de assuntos — da sensação de não se enxergar com a idade que possui ao desejo de jamais passar despercebida.

— Tenho 78 anos, e estou no auge para fazer a mulher gostosa, bonita e beijoqueira — afirma, orgulhosa.

Não é a primeira vez que você participa de uma obra que dá protagonismo a personagens acima dos 70 anos. Isso é importante?

Uma produção em que eu não sou a mãe ou a avó da protagonista é uma vitória. Mostra que não dá para fazer apenas filmes com três mulheres jovens à procura de um amor. Atrizes americanas, como Meryl Streep e Jane Fonda , já reclamaram que o cinema só oferece papéis bons para mulheres até uma certa idade. No Brasil, isso é muito pior.

A atriz Susana Vieira Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A atriz Susana Vieira Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Existe uma exaltação à juventude?

Se você me perguntar como cheguei aqui hoje, tenho muito mais história do que uma garota que também já ganhou dinheiro suficiente para comprar uma casa como a minha. Mas ela contará o quê? Ela vai preencher só meia página de jornal.

Você sempre trabalhou muito. Como está a rotina agora?

Quando comecei a ficar mais sozinha, na pandemia, comecei a olhar a casa que arrumei, as plantinhas que escolhi. Antes, fazia tudo isso entre um avião e outro, uma novela e outra. Não tomava conta de nada. Só assinava cheque! De repente, passei a ser uma dona de casa chata, reparando em tudo. Nos primeiros dias, foi uma alegria. Depois, já me cansei.

“'Não sei como uma velha de 70 anos se veste. Me visto como Susana Vieira'”

Susana Vieira
atriz

Não se sente com a idade que tem?

Essa é a coisa mais esquisita na minha vida. Não sei como uma velha de 70 anos se veste. Me visto como Susana Vieira. Meu lema é esse: falo o que eu quiser com 70 ou 20 ou 30 anos. Não mudei meu linguajar, nem minha forma de pensar. Faço academia, musculação, alongamento na aula de balé, tenho uma esteira em casa, subo e desço escada... Me mantive muito ativa e muito jovem, sempre com disposição. E, sinceramente, não tenho raiva de nada.

A atriz Susana Vieira dá uma gargalhada: 'Esse é meu institinto de sobrevivência' Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A atriz Susana Vieira dá uma gargalhada: 'Esse é meu institinto de sobrevivência' Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Incomoda-se de encarnar apenas avós na ficção?

Não me interesso por esse negócio de terceira idade, porque eu não sei quando isso começa. Para mim, a terceira idade começaria com 80 anos. Não pode começar com 60. Tenho 78 anos, e estou no auge para fazer a mulher gostosa, bonita e beijoqueira. No cinema, por exemplo, um bandido pode ser mais velho... (Arnold) Schwarzenegger ontem estava caquético num filme nos EUA. Os homens vão até o bagaço da laranja por lá. Tem que colocar essas pessoas para trabalhar mesmo.

Mas existe a vaidade, certo?

Acho que esteticamente preciso me conservar. Tenho que fazer um pouco de dieta, ficar com a cara boa, mas sem fazer exagero nas plásticas, para não ter aquelas bocas botocadas... Preciso ficar arrumada e bonitinha para fazer uma velha bonita e protagonista.

“'Hoje em dia, colocam muita gente numa novela para competir. Não me queixo, não. Sabe por quê? Porque eu arrebento'”

Susana Vieira
atriz

Para artistas que trabalham na TV, o envelhecimento é acompanhado pelo público...

Exatamente. Mas os telespectadores não deixaram de gostar de mim porque eu fiquei velha. Quando você vê a novela “A vida da gente”, de dez anos atrás (e agora em reprise) , a Nicette Bruno está um sonho. A voz dela é a mais forte de todas, as frases que ela fala tem um som melhor, a generosidade em cena é outra. É diferente. Nós, atores, éramos uma turma antigamente.

Hoje em dia, colocam muita gente numa novela para competir, e aí acontece que um autor gosta muito de uma menina ou de um garoto, aumentando os papéis deles. Mas olha, vou te dizer: não me queixo, não. Sabe por quê? Porque eu arrebento. Se é para falar “aqui está o seu café, madame”, eu vou lá e faço. Mas vou falar, dar o café e talvez eu derrame a bebida no colo da mulher, para chamar atenção (ela gargalha) . Não passo despercebida, de jeito nenhum.

A atriz Susana Vieira estica os braços em sua casa, no Rio: 'Se ainda estou bonitinha desse jeito, é porque ainda há reflexos dos 40 anos de ginástica que fiz com prazer' Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A atriz Susana Vieira estica os braços em sua casa, no Rio: 'Se ainda estou bonitinha desse jeito, é porque ainda há reflexos dos 40 anos de ginástica que fiz com prazer' Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Você passa para o público a imagem de uma mulher com autoestima elevada. É sempre assim?

Sou autêntica. Tenho alegria de viver. Estou aqui e estou feliz. Gosto de tudo o que é besteirinha, como essas flores vagabundas. E acho que o público vê isso. Por isso sou uma atriz popular. Tenho um selo de garantia perante o público. Minha maior vitória não é ser simpática. Ser ótima atriz é meu grande trunfo.

Você fala abertamente sobre vários assuntos. Preocupa-se com "cancelamento"?

Falo abertamente sobre tudo porque sou ser humano e foi me dado o direito de falar. Poderia responder só “sim” e “não” para você, mas esse não é meu estilo. Sou uma pessoa importante neste país. Fiz muita gente feliz. É isso o que penso de mim, o que me dá orgulho. Vivi para trabalhar. Casei várias vezes, mas a minha vida emocional nunca foi o primeiro plano. E não fiquei rica. Não posso parar de trabalhar, pois ninguém guarda dinheiro neste país, a não ser os ladrões da política.

“'Minha maior vitória não é ser simpática. Ser ótima atriz é meu grande trunfo'”

Susana Vieira
atriz

Seus cachorros são a sua maior companhia?

O quê? Pode me dar mais 12 cachorros! Deus pôs aqui essas quatro criaturas que eu nem tinha tempo de curtir antes, quando chegava tarde em casa e ia correr na esteira e depois jantar. Quase não via eles... Agora, se vou ao banheiro, eles vêm atrás da mãe aqui. Tem uma (das cadelas) que é diabética e precisa tomar injeção sempre à 1 hora da manhã. Tenho que ficar acordada, vendo filme, batendo cabeça, mas espero o horário para dar a comida e a injeção.

Susana Vieira com a cadela Stephanie, animal de estimação da atriz há 14 anos Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Susana Vieira com a cadela Stephanie, animal de estimação da atriz há 14 anos Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Aprendeu algo novo durante a pandemia?

Nada. Jurei que ia aprender computação, inglês, ler todos os livros que tenho... Comprei livro a dar com pau. Mas o livro vai pra lá e vai pra cá, e quando vejo já estou assistindo ao streaming. Sinto que sou uma pessoa que não podia passar por uma pandemia. Queria ser mais séria, mais Antônio Fagundes , para ler um livro por dia (ela gargalha) . Teria lido 365 livros. Que nada!

Sente falta da companhia de um namorado?

Claro, lógico! Lamento ter começado a quarentena sem um namorado. Isso me faz muita falta. Talvez ele estaria aqui até hoje ou teria o matado, não sei (risos) . Carinho e companhia não fazem mal a ninguém. Mas quando começou a pandemia, estava em “Éramos seis” , uma novela de época, e eu fazia o papel de uma mulher chata e mau-humorada, com aquele cabelinho agarrado na cabeça. Estava louca para vir uma novela de ação, em que eu descesse escadas como Gloria Swanson ... Aí eu tenho certeza que estaria acompanhada.

“'Lamento ter começado a quarentena sem um namorado. Isso me faz muita falta. Talvez ele estaria aqui até hoje ou teria o matado, não sei'”

Susana Vieira
atriz

O que mais quer fazer quando acabar a pandemia?

A primeira coisa que uma mulher deseja é ir para um cabeleireiro. Você pode perguntar até para uma freira, e ela vai dizer isso. Não estou aqui para assumir cabelo branco. Se fizesse isso, as fábricas de tinta iriam falir. E se cabelo branco fosse natural, não inventariam a tinta. Até os homens ridículos de Brasília pintam os cabelos. E pintam em casa, porque ficam tudo com cor de laranja na cabeça.

No filme “Amigas de sorte”, você interpreta uma mulher sexualmente livre, com várias tiradas e frases de efeito. Numa das passagens, ela diz que adoraria voltar a ser novinha para matar saudade de algumas coisas , como “dar” para todo mundo. Guardadas as devidas proporções, isso se aplica a você?

Não preciso ficar mais nova para gostar de sexo. Gente, para quem não é importante o amor e o beijo na boca? Continuo gostando de sexo. Mas estou em falta no momento com esse produto (ela gargalha) . Não tem idade para isso. Adoro um baile funk, adoro música eletrônica. Tenho uma jovialidade meio inconsequente. Não sei se é inconsequente a palavra. Mas não preciso dar satisfação sobre o fato de eu gostar de baile funk. Simplesmente gosto, e vou.

A atriz Susana Vieira Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A atriz Susana Vieira Foto: Leo Martins / Agência O Globo

De qualquer maneira, existe ainda hoje um tabu com relação a velhice, não? Em geral, esquecemos que pessoas acima dos 60 e dos 70 anos também podem gostar de sexo.

Isso existe, e é o que faz com os homens brasileiros não se interessem por mulheres mais velhas. Há um pouco de ignorância. Se morasse na França, estaria casada hoje com um pintor ou um escritor conhecidos. A gama de pessoas para você se apaixonar é muito maior fora do Brasil. Quando viajo, sempre arrumo um namorado. Em Ibiza, arrumei um cara que era português e vivia dentro de uma lancha, uma lancha chiquérrima, diga-se de passagem.

“'Conheci muitas pessoas interessantes fora do Brasil. Já tive um relacionamento até com um presidente de outro país'”

Susana Vieira
atriz

Por que os homens do Brasil são diferentes?

Os homens do Brasil só querem a gatinha, e não sei porquê. Não é só o corpo que mantém uma mulher. Mas não adianta eu querer dar lições. Não vou mudar a cabeça do homem brasileiro, que é difícil. Conheci muitas pessoas interessantes fora daqui. Não posso citar nomes porque é gente muito conhecida. Já tive um relacionamento até com um presidente de outro país.

Você tem o desejo de voltar a ser mais jovem?

Para mim, isso seria muito fútil, e não sou fútil assim. Queria voltar a despertar interesse nas pessoas e nos homens do jeito que sou hoje. Se não conseguir isso, não vou conseguir e pronto. E não mudei muito, viu? Continuo igual. E também não vou mudar. Não vou virar uma velha chata para me acomodar com um velho chato. Não quero ser enfermeira de um velho chato.

A atriz Susana Vieira Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A atriz Susana Vieira Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Para você, nunca existiu a tal crise dos 50, dos 60, dos 70 anos....?

A crise, para mim, é uma, meu amor: não ter dinheiro. Não ter namorado já foi crise. Agora, não é mais. Crise é não ter trabalho e não ter dinheiro para pagar médico.

A indústria do audiovisual tem sofrido transformações significativas nos últimos anos devido à chegada das plataformas de streaming no Brasil. Na TV, muitos medalhões deixaram de ser contratados de forma fixa pelas emissoras, por exemplo. Isso te assusta?

Claro que isso me preocupa. Quando vi meus colegas do primeiro time de atores da TV Globo serem demitidos, imaginei que não era por causa de qualidade. Achei que estavam mandando embora por causa da idade deles. Fiquei em pânico, liguei para a alta direção ( da emissora) e me disseram para eu ficar sossegada. Nunca acreditei nisso até assinar o contrato outra vez (hoje, ela é contratada da TV Globo por mais três anos) . Mas não vou trabalhar neste ano por causa da pandemia, o que me deixa triste. Estou cogitando fazer outras coisas. Ofereci novos projetos para a TV Globo, e estão estudando as possibilidades. Mas não posso dar detalhes.

“'Tenho muito medo de pegar essa doença (coronavírus) e ser intubada, porque significaria dar tchau para a família'”

Susana Vieira
atriz

A pandemia tem gerado uma reflexão incontornável sobre a morte. Você pensa muito nisso?

Quando entrou a pandemia, mudou tudo dentro de mim: mudou a Susana, mudou a Sônia (nome verdadeiro de Susana) , vieram os medos, vieram as solidões... Tenho muito medo de pegar essa doença (coronavírus) e ser intubada, porque significaria dar tchau para a família. E isso veio justo numa época em que estamos tendo longevidade. Quando a medicina estética passou a nos ajudar, e todos os velhos começaram a fazer ginástica, mantendo-se saudáveis e sem fumar, encontramos de repente uma parede. Se ainda estou bonitinha desse jeito, é porque há reflexos dos 40 anos de ginástica que fiz com prazer. E das boates que frequentei.

A atriz Susana Vieira em casa, no Rio de Janeiro Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A atriz Susana Vieira em casa, no Rio de Janeiro Foto: Leo Martins / Agência O Globo

O que mais quebra seu otimismo hoje?

O anúncio do Médicos Sem Fronteiras, que sempre passa na Globonews, me faz chorar até hoje. Não me conformo que um continente tão rico como a África esteja largado. Mas acho que tenho um instinto de ser feliz. “Viva la vida” (do Coldplay) é minha música preferida. Acordo de mau humor e não posso falar com ninguém. Depois, escovo os dentes, levo os cachorros para fazer xixi e cocô e fico quieta. Aí começo a falar piadas e coisas absurdas. É um instinto de sobrevivência, juro por Deus. Isso daí é meu formato.

Muita coisa mudou internamente em você quando foi diagnosticada, em 2015, com uma leucemia linfocítica crônica, sem cura?

Isso não virou chave nenhuma dentro de mim, porque não parei de trabalhar por causa da doença. Quando o médico falou que eu tinha leucemia, eu só perguntei: “Vou morrer?”. Todo mundo que tem vida dentro de si tem esperança de amor, de foder, de comer, de viajar. Tudo é positividade.

A atriz Suzana Vieira em uma das manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016 Foto: Agência O Globo
A atriz Suzana Vieira em uma das manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016 Foto: Agência O Globo

Em 2015, você se posicionou politicamente de maneira firme, indo a manifestações contra o PT e a favor do juiz Sérgio Moro. De lá para cá, o cenário político mudou, e alguns colegas que a acompanharam nesses protestos, como o ator Marcelo Serrado, afirmaram que suas opiniões haviam alterado. O que você pensa disso hoje?

Muita coisa mudou na minha cabeça. Mas teria feito, sim, o que fiz lá atrás. Que as coisas mudaram e se inverteram, não tenho a menor dúvida. Mas não vou citar nomes. Lá atrás, quando fui para a rua com Marcelo Serrado, Victor Fasano e Márcio Garcia, a gente foi com verdade, apoiando o Sérgio Moro e a justiça. Por incrível que pareça, éramos contra a corrupção. Acontece que estou vendo tudo igual a antes. Não há mudança nenhuma. O quadro é mais ou menos o mesmo. É só você olhar para aquela CPI da Covid . Estou passada, mas não me arrependo de nada do que fiz.

Mas num mundo polarizado, as pessoas, em geral, tendem a não esquecer determinados posicionamentos políticos... Né?

Até hoje vejo pessoas falarem para mim: “E aí, cadê o seu juizinho que você gostava?”. Escrevem isso no meu Instagram. Mas não sou fissurada em ninguém, nem em partido nem em pessoa.

“'Hoje não posso apoiar nada. Sou absolutamente contra as armas. Quem tem que ter armas é o Excército, e só. Nem a polícia deveria ser armada”

Susana Vieira
atriz

Você aprova o governo Bolsonaro?

Não aprovo nada do governo de agora. Mas não quero falar de Bolsonaro. A gente (os atores que se manifestaram a favor de Sérgio Moro, em 2015) não sabia nem quem era Bolsonaro. Éramos contra o PT. Não fiz campanha para Bolsonaro. Nenhum de nós nunca conheceu Bolsonaro. Não tenho foto nenhuma com ele. Não íamos para a rua para votar em alguém. A gente era contra o status quo . Mas hoje não posso apoiar nada. Sou absolutamente contra as armas. Quem tem que ter armas é o Exército, e só. Nem a polícia deveria ser armada. Arma é a coisa mais absurda e abjeta que existe.

Você mantém contato com Regina Duarte?

Sim, claro que sim, por que não? Regina é uma das minhas amigas de mais de 30 anos. É uma mulher séria, com caráter. Tenho certeza que ela foi (trabalhar no governo Bolsonaro, na Secretaria de Cultura, em 2020) com a maior das boas vontades e boas intenções. Ela não foi lá defender os direitos dela, porque não precisava disso. Ela tinha um salário e uma posição que não precisaria provar nada para ninguém. Tenho o maior respeito , e não vou jamais julgá-la de ter ido ou não ter ido (para a política) . Cada um sabe de si. Não sei ela deveria ter largado a TV Globo. Mas ela estava tão animada quando me contou sobre isso que fiquei com vergonha de falar (minha opinião) . A gente agora tem que descansar e deixar os outros fazerem pela gente.