Teatro e dança
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Por Carol Zappa

No dia 18 de maio de 2019, 45 mil pessoas lotaram o estádio Allianz Parque, em São Paulo, para ver um certo quarteto tocar. Durante quase duas horas, um público fervoroso acompanhou em coro uníssono todas as canções. Foi a última vez que o Los Hermanos se reuniu no palco, em uma das esporádicas (e sempre catárticas) apresentações desde o hiato de 2007. Enquanto sonha com uma possível volta, o séquito de fãs vai poder matar a saudades em “Los Hermanos —Musical pré-fabricado”, que estreia amanhã no Teatro Casa Grande, no Leblon, com texto e direção de Michel Melamed. O espetáculo reverencia a obra da cultuada banda carioca, formada por Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba. Sim, porque tanto Melamed quanto os produtores e idealizadores, Felipe Argollo e Paula Rollo, também fazem parte dessa turma de devotos.

— A obra deles permanece relevante porque é atemporal. Não se trata só de quatro caras no fim dos anos 1990 no Rio, ela pode estar em qualquer tempo-espaço, o que permite infinitas interpretações — diz o autor e diretor, para quem a fama de “ame-os ou odeie-os” não existe. — Nunca conheci ninguém do segundo grupo.

Não espere, portanto, por um musical convencional, cronológico ou biográfico. Melamed prefere explorar as histórias e curiosidades por trás de canções como “A flor”, “Conversa de botas batidas” e “Sentimental. Com pouco mais de duas horas de duração, a peça tem no no repertório — digno de um show-tributo — 28 músicas esmiuçadas, recriadas ou reinterpretadas, e que percorrem a trajetória criativa da banda.

— Ouvi muitos fãs e conversei bastante com o Amarante, que me contou coisas sobre a criação de composições que nunca soube, que não estão na internet. Há, portanto, algumas surpresas — promete Melamed, acrescentando que, apesar de ter dado seu aval para a produção, a banda não se envolveu em nada.

Responsável pela explosão do Los Hermanos nas rádios em 1999, “Anna Júlia” é representada numa icônica (e um tanto constrangedora) entrevista de Amarante sobre o hit. “De onde vem a calma” vira, literalmente, um culto. Outras ganham interpretações mais livres.

Acompanhados por uma banda de seis músicos, oito atores-cantores (Ariane Souza, Estrela Blanco, Felipe Adetokunbo, Leandro Melo, Matheus Macena, Mattilla, Paula Fagundes e Yasmin Gomlevsky) — selecionados da audição com 800 candidatos — se revezam no cenário com quatro grandes cubos brancos iluminados. Cada espaço representa um momento: as circunstâncias e o surgimento da composição; a letra; a música; e cenas cotidianas inspiradas nas canções. Ao decorrer da peça, as linguagens e cores são subvertidas e vão se misturando, em um crescendo. A narrativa é costurada pela poesia, pelas histórias de amor e por uma certa melancolia características da banda, mas também por momentos cômicos, de leveza e de rock.

— É a trilha sonora da vida de muita gente. Para conduzir essa homenagem, tinha que ser alguém com uma ousadia contemporânea, que soubesse traduzir a emoção dos shows. E que tivesse coragem, pois sabemos que enfrentar o fã-clube passional do Los Hermanos não é tarefa fácil. Michel tem esse olhar aguçado e especial — declara a produtora Paula Rollo.

Legado: oito atores e seis músicos encenam as histórias por trás das canções do grupo — Foto: Leo Martins
Legado: oito atores e seis músicos encenam as histórias por trás das canções do grupo — Foto: Leo Martins

A ideia de levar o legado para o teatro surgiu de uma conversa com o próprio empresário da banda, Simon Fuller, em 2016, durante um dos entreatos do grupo. Na época, a Orquestra Petrobras Sinfônica estava em turnê com o concerto inspirado no álbum “Ventura”, e Fuller queria ir além do instrumental. Argollo (à frente da SAPO Produções) e Paula (da Plano Criativa), que já tinham no currículo musicais como “Raia 30”, “Gilberto Gil — Aquele abraço” e “Zeca Pagodinho —Uma história de amor ao samba”, se prontificaram a levar adiante o projeto, que demorou sete anos para sair do papel. Depois da temporada carioca, a peça estreia dia 13 de maio em São Paulo, e já chovem pedidos para levá-la a outras cidades.

Em lugar de destaque, seja na plateia ou no palco, estão os fãs, parte indissociável e fundamental na história do fenômeno “loshermânicos”, que atravessa diferentes classes, gostos e gerações. E continua angariando fiéis. Um exemplo é o próprio elenco, plural e jovem, que não viveu a explosão da banda — cujo show inicial, em 1997, foi para cerca de 70 pessoas no Empório, tradicional reduto rock em Ipanema.

— Tinha amigos que gostavam, mas eu nunca tinha parado para ouvir. Conheci a banda mesmo através da peça, que é muito lúdica — confessa a atriz Yasmin Gomlevsky, de 30 anos.

Sua colega de cena Mattilla faz coro. Aos 23 anos, conhecia pouco da obra.

— Fui para o teste de forma despretensiosa e nem imaginei que seria chamada. Onde um musical sobre Los Hermanos teria papel para uma mulher trans? — indaga a atriz sergipana, dona de um impressionante vozeirão. — Durante os ensaios, fui entendendo o que eles construíram e porque os fãs são tão apaixonados. Virei fã também.

Para Argollo, é uma homenagem de fãs para fãs, mas não somente.

— É uma obra que não perde força e toca todos os tipos de história. Um espetáculo para rir e chorar ao mesmo tempo — assegura.

Serviço: Teatro Casa Grande. Rua Afrânio de Melo Franco 290, Leblon. Qui e sex, às 20h. Sáb, às 21h. Domingo, às 19h. 14 anos. R$ 75 (balcão) , R$ 200 (plateia) e R$ 220 (plateia vip). Estreia sexta (17). Até 07 de maio.

Los Hermanos: o quarteto carioca mantém uma legião de fãs que atravessa gerações — Foto: Leonardo Aversa/2003
Los Hermanos: o quarteto carioca mantém uma legião de fãs que atravessa gerações — Foto: Leonardo Aversa/2003

Confira o 'setlist' do espetáculo

1. “Quem sabe”

2. “Anna Júlia”

3. “A flor”

4. “Dois barcos”

5. “Conversa de botas batidas”

6. “A outra”

7. “Veja bem meu bem”

8. “Mais uma canção”

9. “Além do que se vê”

10. “Deixa o verão”

11. “Tenha dó”

12. “Primavera”

13. “O pouco que sobrou”

14. “De onde vem a calma”

15. “Morena”

16. “Casa pré-fabricada”

17. “O velho e o moço”

18. “Sentimental”

19. “Do sétimo andar”

20. “Primeiro andar”

21. “Cadê teu suín”

22. “Samba a dois”

23. “O vento”

24. “Último romance”

25. “Azedume”

26. “Pois é”

27. “Cara estranho”

28. “O vencedor”

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