Alexandra Forbes
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Por Alexandra Forbes


A guerra me ensinou que Rússia e Ucrânia produzem cerca de um terço do trigo mundial e que está aí (além do gás e do petróleo) o trunfo russo. O Brasil, gigante das commodities, não dá o devido valor a pelo menos uma delas: o cacau, matéria-prima do chocolate, produto consumido apaixonada e obsessivamente no mundo inteiro, movimentando bilhões de dólares por ano — especialmente na Páscoa.

Um tesouro e tanto… mas até 2010 a vasta maioria das amêndoas desse fruto abundante na Bahia e no Pará era exportada a granel, processada por multinacionais em larga escala e vendida à indústria. Por mais de século, importávamos chocolate caro feito do cacau que havíamos vendido por um punhado de reais o quilo.

— Lá pelo ano 2000, americanos começaram a processar cacau artesanalmente — conta Eduardo Carvalho, coproprietário da fazenda Camboa, na Bahia. — Batizaram esse chocolate de origem, feito de amêndoas cuidadosamente selecionadas e tostadas, de bean to bar. Graças ao movimento bean to bar, a Camboa passou a fornecer cacau de primeiríssima para chocolatiers premiados como Dick Taylor, da Califórnia, e Arcelia Galardo, da Mission Chocolate, cuja fábrica, em São Paulo, é aberta para visitas e cursos.

Com a marca Amma, que Diego Badaró — de outra família cacaueira baiana — lançou em 2007, ele foi o pioneiro do bean to bar no Brasil. Seu exemplo de que não precisamos dos europeus ou americanos para transformar cacau em chocolate de qualidade foi seguido por muitos.

Hoje vivemos o segundo capítulo da reapropriação do cacau brasileiro graças à Dengo, primeira gigante virtuosa do mercado chocolateiro. Cofundada em 2017 por Estevan Sartorelli, um sonhador do interior paulista, com o intuito de fomentar a melhoria dos processos e aumentar a renda de pequenos e médios produtores de cacau — sem abrir mão do lucro —, compra e processa cacau de mais de 160 famílias do Sul da Bahia. São 31 lojas pelo Brasil afora, e já planejam expandir para a Europa, que tanto lucra com o cacau baiano barato.

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