As cobras da espécie cascavel (Crotalus durissus cascavella) estão mudando o seu território em solo brasileiro. Antes, encontradas nas regiões de vegetação aberta, em áreas de floresta como a Amazônia e Mata Atlântica, estão se deslocando para o Sudeste, região mais populosa do Brasil, por conta das mudanças climáticas, como mostra um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Publicada na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation, a pesquisa comprova uma teoria desenvolvida nos anos 50, na qual cientistas apontam que a expansão da cascavel, cobra com veneno responsável pela maioria das mortes por picada no país, se dá pelo desmatamento do seu habitat típico. Além desse fator-chave, os pesquisadores também passaram a identificar a influência das mudanças no clima nesse processo.
Os dados, recolhidos através de métodos utilizando modelagem de distribuição geográfica, mostram que essas duas condições modificaram a distribuição da espécie nas últimas décadas. Assim, 34% da ocorrência pode ser explicada pelo corte de árvores na para criar pastagens, enquanto 23% é justificada pela diminuição das chuvas no período trimestral mais frio.
"Dado que Crotalus durissus é uma cobra venenosa, sua distribuição em expansão tem grandes implicações para a saúde pública em países em desenvolvimento", diz o estudo.
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A principal preocupação dos cientistas é se dá pelos perigos à vida humana causados pela presença da cobra peçonhenta em locais próximos à regiões urbanas. Segundo uma nota publicada pelo Ministério da Saúde, dos 31 mil acidentes com serpentes registrados pela pasta, 121 levaram as vítimas ao óbito, e dentre eles, 9% foram causados pela cascavel.
— Visto que as mudanças climáticas já são uma realidade, o reflorestamento e o controle do desmatamento são, hoje, a maneira mais eficaz de conter a expansão da cascavel pelo Brasil — destaca a coautora do estudo, Mariana Vale, professora do Instituto de Biologia da UFRJ.
A picada de uma serpente da espécie causa alterações do tipo colinérgicas, hemorrágicas, anticoagulantes, necróticas, miotóxicas, citolíticas e inflamatórias. Nesses casos, o socorro prestado deve ser feito através do atendimento médico numa unidade de saúde com soro antiofídico.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou um plano estratégico este ano para reduzir as fatalidades decorrentes de acidentes com cobras em 50% até o ano de 2030. Segundo dados da organização, anualmente são 3 milhões casos de picadas, que causam pelo menos 138 mil mortes no mundo.