Ciência
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Por The New York Times — Nova York

De pé, quase três metros de altura, e pesando tanto quanto um urso pardo, o Gigantopithecus blacki foi o maior primata que já viveu. Por mais de um milhão de anos durante o Pleistoceno, o Gigantopithecus vagou pelo sul da China. Mas quando os humanos antigos chegaram à região, o Gigantopithecus havia desaparecido.

Para determinar por que esses primatas prodigiosos foram extintos, uma equipe de cientistas analisou recentemente pistas preservadas nos dentes e sedimentos de cavernas do Gigantopithecus. Suas descobertas, publicadas na quarta-feira na revista Nature, revelam que esses símios quase com 3 metros de altura provavelmente foram condenados por sua dieta especializada e pela incapacidade de se adaptar a um ambiente em mudança.

Os paleontologistas descobriram pela primeira vez o Gigantopithecus no meio da década de 1930 em uma farmácia de Hong Kong, onde os molares excepcionalmente grandes do primata estavam sendo vendidos como "dentes de dragão". O animal foi nomeado em homenagem a Davidson Black, o cientista canadense que estudou o ancestral humano conhecido como homem de Pequim. Nas décadas seguintes, os cientistas desenterraram cerca de 2.000 dentes do Gigantopithecus e um punhado de ossos da mandíbula fossilizados em cavernas por todo o sul da China.

A escassez de ossos fossilizados torna a reconstrução do Gigantopithecus difícil; os paleoartistas representam o antigo primata como se parecendo com um orangotango (seu parente vivo mais próximo) cruzado com um gorila das montanhas, porém maior. No entanto, os dentes do grande símio, que estão envolvidos em uma espessa camada de esmalte, preservam uma riqueza de pistas sobre como esses primatas enigmáticos viveram e potencialmente por que foram extintos.

Yingqi Zhang, paleontólogo do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados em Pequim e autor do novo artigo, estudou fósseis do Gigantopithecus por mais de uma década. Para determinar o que os levou à extinção, Zhang precisava identificar exatamente quando o Gigantopithecus desapareceu. Ele se juntou a Kira Westaway, uma geocronologista da Universidade Macquarie, na Austrália.

— Estabelecer exatamente quando o Gigantopithecus desaparece do registro fóssil requer datação precisa — caso contrário, você estará procurando pistas para sua extinção nos lugares errados, — disse Westaway.

A equipe coletou e datou materiais de 22 cavernas no sul da China. Para afinar as idades dos fósseis e dos sedimentos da caverna, os pesquisadores aplicaram seis técnicas de datação. Eles também analisaram isótopos e pólen nas amostras para recriar como era o ambiente da região na época em que o Gigantopithecus desapareceu. Por fim, compararam padrões de desgaste nos dentes gigantes com dentes fossilizados de Pongo weidenreichi, um orangotango extinto que viveu junto com o Gigantopithecus.

Comparação do osso da mandíbula inferior de um gorila (esquerda) e uma reconstrução a partir de um fragmento de um osso da mandíbula negra de Gigantopithecus (direita) — Foto: Reprodução
Comparação do osso da mandíbula inferior de um gorila (esquerda) e uma reconstrução a partir de um fragmento de um osso da mandíbula negra de Gigantopithecus (direita) — Foto: Reprodução

Eles afirmam que o Gigantopithecus foi extinto entre 295 mil e 215 mil anos atrás. Essas datas foram muito mais recentes do que as estimativas anteriores e coincidem com um período dinâmico de mudança ambiental.

As amostras de pólen revelaram que antes dessa janela de extinção, o ambiente local era dominado por árvores perenes que formavam florestas de copas fechadas. O Gigantopithecus parecia se adaptar bem a esses ambientes. A análise de isótopos nos dentes do Gigantopithecus desse período revelou que os símios estavam se alimentando de plantas fibrosas, frutas e flores.

A partir de cerca de 600 mil anos atrás, o clima da região começou a mudar com as estações, à medida que as densas florestas deram lugar a uma mistura de florestas abertas e campos. Isso levou a "períodos secos em que as frutas eram difíceis de encontrar", segundo Westaway.

Ao contrário dos antigos orangotangos, que se adaptaram comendo uma dieta diversificada de brotos, nozes, sementes e até insetos, o Gigantopithecus passou a se alimentar de alternativas menos nutritivas, como casca e galhos. Seus dentes desse período mostram sinais de estresse crônico.

À medida que o ambiente se tornava desfavorável, o tamanho do Gigantopithecus começou a agir contra ele. Ao contrário dos ágeis orangotangos, que podiam percorrer maiores distâncias pelo dossel e em ambientes abertos em busca de alimento, os Gigantopithecus presos ao chão provavelmente estavam restritos a áreas cada vez menores de floresta.

De acordo com Sergio Almécija, paleoantropólogo do Museu Americano de História Natural, que não esteve envolvido na nova pesquisa, o desaparecimento do Gigantopithecus revela que até mesmo os maiores animais são vulneráveis a se tornarem muito especializados.

— Esses símios se tornaram tão especializados em viver em um ambiente específico que, uma vez que esse ambiente muda, eles desaparecem.

Os orangotangos modernos estão enfrentando um destino semelhante ao de seus parentes gigantes. Enquanto seus ancestrais conseguiram se adaptar a um ambiente em mudança, esses especialistas arborícolas estão ameaçados pelo desmatamento.

— Suas florestas estão ficando cada vez menores, e a cada ano temos menos orangotangos, — afirma Almécija.

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