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Coronavírus atinge até 25% dos profissionais de saúde no Rio

Levantamento da UFRJ afirma que taxa de infecção é superior à vista em países como Itália e Espanha
Testes rápidos para profissionais de saúde são aplicados no hospital Ronaldo Gazolla, referência em casos de Covid-19 no Rio. Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Testes rápidos para profissionais de saúde são aplicados no hospital Ronaldo Gazolla, referência em casos de Covid-19 no Rio. Foto: Leo Martins / Agência O Globo

RIO — Profissionais de saúde da rede pública do estado do Rio de Janeiro apresentam taxas de infecção pelo coronavírus de 25%. O percentual é elevadíssimo, maior do que o registrado em Espanha e Portugal — ambos de 20% — e ainda superior ao da Itália (15%).

Os dados são de pesquisa de uma força-tarefa pioneira para testagem molecular de Sars-CoV-2 , que reúne mais de 60 pesquisadores, médicos e enfermeiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ ).

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Entre 16 de março e 3 de abril, a força-tarefa contra a Covid-19 testou 700 pessoas, entre profissionais de saúde de hospitais públicos e pessoal da universidade, atendidos no Centro de Triagem de Covid-19 da UFRJ. A iniciativa teve apoio da Faperj e da Secretaria estadual de Ciência e Tecnologia.

O percentual de infecção, classificado como brutal pelos cientistas, evidencia duas coisas. A primeira é a falta de equipamentos de proteção (EPIs) para os profissionais. A segunda é a ampla disseminação do coronavírus na população.

O levantamento da UFRJ Foto: Reprodução
O levantamento da UFRJ Foto: Reprodução

Os profissionais de saúde estão vulneráveis porque muitos têm trabalhado sem os EPIs e em locais de grande aglomeração, os hospitais.

— Se entre eles vemos um percentual colossal de infectados, temos certeza de que, entre a população, o número de positivos é muito maior do que mostram as estatísticas, que são apenas indicadoras da tendência de um aumento explosivo (de casos) — alerta o professor Amilcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ. — O coronavírus está solto pelo Rio e muita gente não encara a doença com a gravidade que ela tem e desrespeita o isolamento.

O pesquisador e professor Orlando Ferreira, do mesmo laboratório, diz que os dados da testagem mostram que o espalhamento do Sars-CoV-2 tem se acelerado exponencialmente:

— O percentual de positivos no Rio é brutal, e o número de pessoas para a testagem não para de crescer. Tão brutal quanto isso é o descaso de parte da população. Quem não faz isolamento mostra descaso pelo sofrimento dentro dos hospitais. Tem anestesista se infectando porque precisou entubar um doente de Covid-19 sem proteção alguma, e tem gente que se acha no direito de passear na praia, desrespeitando a quarentena.

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Tanuri explica que, no início da rotina de testes, era zero o percentual de infecção. Os primeiros casos só apareceram em 16 de março e, em seguida, explodiram, um sinal de que a população não faz o isolamento que deveria e expõe os profissionais de saúde, a despeito dos apelos do poder público.

— Temos esse primeiro resultado, mas os testes continuam. Vamos monitorar a pandemia de Covid-19 em nosso Estado. Ontem (segunda-feira), o percentual de infectados pelo coronavírus chegou a mais de 50% das 140 amostras testadas. É colossal.

A força-tarefa da UFRJ contra o coronavírus Sars-CoV-2 abrange a estrutura física de cinco laboratórios de pesquisa para recebimento das amostras, extração de material genético viral e montagem da reação de PCR em tempo real, além de equipamentos cedidos por outros cinco laboratórios. Também conta com o apoio de 64 membros de diversos institutos de pesquisa da UFRJ. Trinta pessoas estão de prontidão para serem acionadas a qualquer momento para ajudar nas testagens. Uma equipe da Faculdade de Medicina e da Escola de Enfermagem Ana Nery, liderada pela professora Therezinha Marta Pereira Pinto, contribuiu para a triagem dos testes.