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Dezenove instituições ligadas a saúde, ciência e educação repudiam pronunciamento de Bolsonaro sobre coronavírus

Nesta terça, presidente voltou a minimizar a doença e pediu flexibilização do isolamento
Jair Bolsonaro em pronunciamento em que criticou atos de alguns governadores Foto: Isac Nóbrega
Jair Bolsonaro em pronunciamento em que criticou atos de alguns governadores Foto: Isac Nóbrega

RIO - O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia de coronavírus, transmitido em rede nacional na noite desta terça-feira (24), repercutiu negativamente entre as associações de saúde, profissionais da classe médica e entidades da educação.

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No discurso, Bolsonaro voltou a minimizar os efeitos da Covid-19, chamando-a de "resfriadinho", criticou a imprensa por "espalhar a sensação de pavor" e contrariou as recomendações das autoridades de saúde pedindo "a volta da normalidade" e o fim do "confinamento em massa".

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O Conselho Nacional da Saúde considerou a fala "uma afronta grave à saúde e à vida da população, prejudicando todo o esforço nacional para que o Sistema Único de Saúde ( SUS ) não entre em colapso diante do cenário emergencial que vivemos na atualidade". A entidade ainda avaliou o discurso como um ato irresponsável, "podendo causar prejuízos aos cidadãos e cidadãs no Brasil como o aumento da transmissão comunitária e até mesmo do número de mortes".

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Os presidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE) , União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e Associação Nacional de Pós-Graduandos , em nota, repudiaram o apelo do presidente a não fecharem as escolas pelo fato de crianças e jovens não estarem no grupo de risco. Segundo os dirigentes, "tal afirmação representa um enorme risco e um crime contra a vida da população brasileira, tanto dos mais novos quanto dos idosos. Afinal, há vários casos no mundo de jovens que morreram ou ficaram com sequelas devido à infecção do COVID-19, além de serem transmissores que tem contato com pais e avós, justamente no grupo de risco".

Em nota, a Sociedade Brasileira de Infectologia disse que "tais mensagens podem dar a falsa impressão à população que as medidas de contenção social são inadequadas e que a COVID-19 é semelhante ao resfriado comum". A entidade classifica a pandemia como "grave" e ainda analisa ter sido "temerária" a fala de Bolsonaro sobre relacionar as 800 mortes ocorridas na Itália apenas ao clima frio do inverno europeu.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência se manifestou dizendo que o presidente causou "estarrecimento". Para a SBPC, a declaração de Bolsonaro "significou um desserviço às ações consequentes de enfrentamento do coronavírus que estão sendo sugeridas e implementadas pelo próprio Ministério da Saúde e suas instituições, por governadores e outros gestores, e pelos órgãos de saúde pública e por seus profissionais", avaliou a instituição.

A Associação de Saúde Coletiva considerou "intolerável e irresponsável" a fala do presidente, classificando-a como "discurso da morte". A instituição ainda afirma que a manifestação de Bolsonaro foi "incoerente e criminosa", uma vez que ele "nega o conjunto de evidências científicas que vem pautando o combate à pandemia da Covid-19 em todo o mundo, desvalorizando o trabalho sério e dedicado de toda uma rede nacional e mundial de cientistas e desenvolvedores de tecnologias em saúde".

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia afirmou que qualquer medida que rompa o isolamento da população "será extremamente prejudicial" para combater a pandemia de coronavírus, "acarretando em maior número de infectados e morte".

Para a Associação Paulista de Medicina, a estratégia usada por Jair Bolsonaro de "levar esperança" para a população "minimizando o problema" não alcançou o objetivo. A entidade classifica a pandemia como um "um perigo próximo, evidente, real e gravíssimo", e que enfrentá-lo é uma prioridade.

A Associação Brasileira de Climatério reforçou que "até o momento, o afastamento social está entre as medidas mais eficientes no combate à propagação do COVID-19, de acordo, inclusive, com autoridades de saúde internacionais", apesar dos impactos socioeconômicos que podem ser gerados. A instituição reúne médicos dedicados à assistência da mulher em transição - chamada de climatério - entre o período fértil e o não fértil.

A Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo alegou ver o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro com "extrema preocupação" e afirma que "vidas humanas têm de ser prioridade" sobre os impactos socioeconômicos, reforçando assim o pedido para a população "seguir as determinações das autoridades de saúde, no sentido de se evitar ao máximo os contatos sociais".

A Sociedade Brasileira de Mastologia se manifestou "com preocupação" sobre os números de "informações desencontradas, essencialmente as que vão na contramão de todas as orientações passadas pela Organização Mundial da Saúde ( OMS ) e especialistas em infectologia, que recomendam o isolamento social como forma de conter a disseminação do novo vírus". A entidade reitera a recomendação do confinamento domiciliar para toda a população brasileira e, especialmente, para as mulheres em tratamento contra o câncer de mama, por se tratarem de pacientes que podem compor o grupo de risco.

Em nota divulgada conjuntamente, a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, a Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea e a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica reiteraram que as medidas recomendadas pelas autoridades de saúde sejam "flexibilizadas, para que possamos proteger a nossa população, seja qual for a idade". Com isso, as entidades reforçam o pedido para que as pessoas se mantenham em isolamento domiciliar.

A Associação Médica Brasileira destacou que "constitui erro capital, nas crises, sustentar opiniões ou posições que perderam a validade em decorrência da evolução dos fatos". A entidade, em conjunto com o Conselho Federal de Medicina e com a Academia Nacional de Medicina , ainda parabenizou o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, pela atuação "precisa e responsável" frente ao combate a pandemia de coronavírus.

Em vídeo, o presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo disse estar "perplexo e preocupado" com a fala de Bolsonaro no pronunciamento. "O discurso é carregado de política e sem nenhuma preocupação com a prevenção sobre o coronavírus", afirmou, antes de elogiar o trabalho do Ministério da Saúde. "É inaceitável, neste instante, que venha a maior liderança do país dizer à população que não se preocupe com as orientações do Ministério da Saúde", avaliou.

Em nota, a Sociedade Brasileira de Imunizações considerou "temerário" o discurso proferido pelo presidente sobre a disseminação de coronavírus no Brasil. A entidade repudiou a atitude de Bolsonaro "ao pregar o fim do isolamento social como estratégia de resposta à pandemia de COVID-19, contrariando todas as evidências científicas. Vai de encontro, também, às próprias orientações do Ministério da Saúde, que vem trabalhando de forma correta e árdua diante desse grande desafio".

A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia reitera que as recomendações do Ministério da Saúde sejam cumpridas pela população brasileira. A instituição ainda afirma que "por mais respeito que tenham pela figura do chefe do Executivo, o cerne do combate à pandemia é e continuará sendo a tentativa desesperada de se evitar o crescimento exponencial da doença".

Também por vídeo, o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Palazzi Safadi, enfatizou a importância das medidas restritivas, principalmente nas principais metrópoles brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo: "O objetivo dessas medidas é evitar o colapso na assistência da saúde, que claramente trará impacto muito negativo na assistência à nossa população", explicou.