RIO - Gabriel Bittencourt está entre os quase 300 estudantes de medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ( Uerj ) que se ofereceram para atuar no combate ao coronavírus em unidades de saúde da instituição. Aluno do 7° período, o jovem de 24 anos ajudou a promover uma campanha de arrecadação de fundos para a abertura de 50 novos leitos no Hospital Pedro Ernesto.
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Membro da primeira leva de voluntários convocados, Gabriel participa da força-tarefa da Policlínica Piquet Carneiro, em São Francisco Xavier, no Rio, e trabalha na linha de frente do combate à epidemia:
— Nós, alunos, estamos dando auxílio à equipe médica no atendimento aos casos suspeitos. Embora os sintomas sejam leves em sua maioria, a triagem anda bem cheia. Primeiro, os pacientes fazem o swab (um tipo de coleta, uma espécie de cotonete que se passa na via aérea da pessoa) para testar o vírus. Depois, se submetem a um exame físico dirigido, focado no aparelho respiratório. Quando necessário, é realizado o ultrassom do tórax do paciente, para encontrar algum possível padrão de lesão pela Covid-19 .
Os casos graves vão para o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), onde há leitos de terapia intensiva reservados e preparados para casos de Covid-19, conta Gabriel.
“Não é do meu feitio assistir a isso do sofá de casa, sabendo que eu posso estar lá para ajudar. Nem que eu fique empurrando maca para deixar o médico disponível para estar no CTI”
Segundo ele, o hospital se organizou inteiro para isso. Lá, a Uerj pretende abrir mais 50 leitos de CTI, mas está esbarrando nas dificuldades financeiras. Por isso, junto com as suas unidades de saúde e um grupo de alunos engajados (do qual ele faz parte), foi iniciada uma campanha de arrecadação de fundos.
Nesta segunda-feira, a atriz e humorista Tatá Werneck divulgou a campanha no Twitter.
Até agora, 277 estudantes de medicina da Uerj se inscreveram no programa de voluntariado para combater o coronavírus. Segundo Gabriel, a maioria ainda será convocada, segundo a demanda. Os alunos foram distribuídos em turnos, e de maneira a trabalhar uma vez só na semana. Assim, todos podem ajudar, e as chances de infecção diminuem.
— Minha nova rotina está sendo estressante, mas não pela atividade em si. Pelo contrário: apesar do desgaste físico e emocional, é gratificante cuidar das pessoas em um momento de tanta fragilidade. O que realmente me estressa é o aspecto pessoal: as aulas paralisadas, o futuro incerto, a preocupação por meus pais, avós e família — diz o estudante.
Gabriel relata o medo de expor a saúde dos familiares a riscos inevitáveis. Ele tem duas avós idosas e pais que já se aproximam dos 60 anos. O estudante também menciona seus professores, que se arriscam na linha de frente. Um deles já foi infectado e está hospitalizado.
— Também fico preocupado pelos colegas que estão se voluntariando, expostos do jeito que estão. Me preocupo como se um amigo meu fosse para a guerra, porque é guerra — acrescenta o voluntário.
Para Gabriel, o futuro é outra fonte de incertezas. Ele afirma que o governo não atua da maneira como deveria atuar, e que é difícil imaginar como as pessoas vão se manter:
— A gente ainda não sabe se vai se manter o isolamento social, que é a única forma de diminuir as chances de contaminação. E vê o presidente falando o contrário. Por isso, a gente fica receoso, do ponto de vista epidemiológico, sobre como a doença vai se comportar daqui em diante.
Apesar da perspectiva obscura, o estudante rejeita a ideia de se recolher em tempos de epidemia viral.
— Procurei, ao longo da faculdade, aliar atividades práticas à teoria — conta o rapaz, que acrescenta: — Não é do meu feitio assistir a isso do sofá de casa, sabendo que eu posso estar lá para ajudar. Nem que eu fique empurrando maca para deixar o médico disponível para estar no CTI. Quero atuar, nem que seja limpando maçaneta, mexendo com papelada. Quero não ser só um espectador.