Saúde

Depois do Rio, surto de influenza chega a São Paulo, Espírito Santo e Bahia

Número de resultados positivos entre paulistas quadruplicou e atendimento em prontos-socorros está 50% maior que o habitual
Atendimento a pessoas com influenza em tenda armada durante surto no Rio de Janeiro Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Atendimento a pessoas com influenza em tenda armada durante surto no Rio de Janeiro Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

SÃO PAULO — O vírus influenza, que provoca forte surto no Rio de Janeiro , já chegou a outros estados do país, como São Paulo e Bahia. Entre os paulistas, a procura por teste para influenza cresceu consideravelmente e o número de resultados positivos quadruplicou.

Viagem internacional: Maioria do STF confirma exigência de passaporte de vacina para entrar no Brasil

O reflexo já pode ser visto em hospitais. A Rede D’Or São Luiz informa que seus hospitais em São Paulo estão, em média, com um volume de atendimento em seus prontos-socorros 50% maior do que o habitual, devido “principalmente, ao surto de síndrome gripal na cidade”. A maioria dos casos é de pouca gravidade.

Avanço do vírus da influenza: entenda a causa, o que significa uma epidemia, o que isso muda na sua vida e como combater

O Hospital Sírio Libanês também observou crescimento nos atendimentos a pacientes com problemas respiratórios e sintomas gripais, a partir do começo de dezembro. Do dia 1° ao dia 13, foram confirmados 160 pacientes com influenza, sendo que 134 foram em passagem pelo Pronto Atendimento e oito internados.

“Observamos no Sírio-Libanês que as crianças são as mais acometidas pelas síndromes respiratórias, representando cerca de 70% das infecções identificadas no hospital. No entanto, diferente dos demais vírus respiratórios que estão acometendo mais as crianças, os pacientes confirmados com influenza são predominantemente adultos.”

A Bahia também começa a enfrentar o surto e registrou, até terça-feira, 93 casos de Síndrome Gripal com resultado positivo para Influenza A. Destes, 15 evoluíram para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e necessitaram hospitalização.

Pandemia : Cambridge começa a testar vacina universal para Covid -19

No Espírito Santo, a secretaria estadual de Saúde informou que há "indicadores para epidemia de influenza" no estado, segundo o site g1. A reportagem afirma que foi observado que nas últimas duas semanas houve aumento de exames analisados e da taxa de positividade por influenza. Em outubro, a taxa era de 0,04%, e em dezembro, até o dia 13, registrou-se taxa de positividade crescente de 7,3% em todo o estado.

Não há dados nacionais sobre a evolução do vírus pelos estados. O Infogripe, da Fiocruz, que acompanha casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), e vinha relatando o surto no Rio de Janeiro, não conseguiu fazer o levantamento: “em decorrência do ataque recente ao sistema do ministério da saúde, alguns fluxos de acesso e repasse legítimo de dados foram afetados. Dentre eles, o repasse semanal dos dados de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) do SIVEP-Gripe para atualização do sistema InfoGripe.”

Entenda : Pão sem glúten é mais saudável do que pão normal?

O vilão por trás dos casos no Rio, São Paulo e Bahia é um só: o vírus influenza A H3N2. Mais especificamente, uma variação dele:

— O surto está restrito à variação do H3N2 chamada Darwin. Há muitos anos, desde o começo do século, os surtos de gripe eram provocados pelo H1N1. O H3N2 apareceu em 1968, mas sempre tinha papel secundário em relação ao H1N1, aí veio o efeito Darwin, que é bem diferente do H1N1 e do H3N2 que tinha na vacina — explica o infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury.

Segundo ele, agora é uma questão de tempo até que o vírus se propague por todo o país. O fluxo de pessoas entre São Paulo e Rio é imenso e a Bahia também recebe muitos turistas que vão ou voltam da capital fluminense.

A circulação do vírus influenza nessa época do ano é algo muito atípico. Geralmente, ocorre no inverno. Para o médico, ela ocorreu por uma associação de fatores: não estar coberto pela vacina da gripe e o relaxamento das medidas que vinham sendo adotadas contra a Covid, como distanciamento social e uso de máscara.

Vacinas

Infelizmente, proteção contra essa variação do vírus só será obtida agora com a campanha de vacinação contra a gripe de 2022. Anualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recebe informações de alguns laboratórios de referência para formular a vacina que vai ser usada naquele ano. Depois, é preciso algum tempo até formular o imunizante, desenvolvido em ovos, mesmo sistema da vacina contra Covid-19 CoronaVac. A vacina tríplice engloba sempre o H1N1, o H3N2 e o influenza B. Mas até hoje, não era essa versão do H3N2.

— Está todo mundo suscetível. Mesmo quem tomou a vacina contra a gripe no primeiro semestre, primeiro porque a diferença entre os dois tipos de H3N2 é muito grande e segundo porque esses imunizantes não têm muita longevidade. Então, a recomendação é por uma vacina universal, tanto para influenza quanto para o coronavírus: máscara, lavar a mão e evitar aglomeração — afirma Granato.

Assim como as vacinas dadas pelo Sistema Único de Saúde na campanha de vacinação contra a Gripe não englobavam essa variação do vírus H3N2, a vacina contra a gripe disponível nas clínicas privadas também não, segundo Luiz Nigri, diretor da clínica Kinder.

— Esta cepa, Darwin, estará na composição da Vacina da Gripe de 2022, cuja campanha deve iniciar em abril do ano que vem. Essa vacina oferece maior proteção por 6 meses, por isso a campanha acontece antes do inverno. É sempre bom fazer a vacina contra gripe entre abril e junho, acontece que muitas pessoas não fazem — afirma Nigri.

Pneumonia : veja causas, sintomas e tratamento

Os sintomas da influenza são fortes: febre de 38,5°C ou 39°C, tosse, dor muscular intensa e prostração, e costumam durar cerca de sete dias. Apesar dos sintomas serem até mais intensos que os da Covid-19, é menos perigoso: a letalidade do influenza fica entre 0,1% e 0,2%, enquanto do SARS-CoV-2, varia ente 1% e 2%.