Saúde Medicina Coronavírus

Cloroquina: estudo definitivo comprova que remédio não é eficaz na prevenção de hospitalização por Covid

Publicado no The Lancet, trabalho brasileiro aponta que medicamento não demonstrou resultados estatísticos suficientes que validem sua indicação para infecções leves e moderadas causadas pelo coronavírus
Cloroquina Foto: Fernando Moreno / AGIF
Cloroquina Foto: Fernando Moreno / AGIF

RIO — A hidroxicloroquina não é eficaz na prevenção de hospitalização de pacientes com Covid-19. Essa foi a conclusão do estudo — o maior a nível ambulatorial produzido no mundo até o momento — feito pelo grupo Coalizão COVID-19 Brasil. O trabalho foi publicado no prestigiado periódico científico The Lancet Regional Health – Americas esta semana.

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O grupo Coalizão COVID-19 Brasil valia a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com infecções causadas pelo coronavírus. Da iniciativa participam oito instituições de saúde, dentre as quais estão o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o Hospital Israelita Albert Einstein e o Hospital Sírio-Libanês. Este é o quinto estudo publicado pela rede de pesquisas.

Intitulado Coalizão V, o estudo começou em 12 de maio de 2020 e terminou em 7 de julho de 2021, com a participação de 56 centros de pesquisa brasileiros. No trabalho, os pesquisadores compararam o uso de hidroxicloroquina e de placebo em pacientes não hospitalizados com quadros leves ou moderados de Covid-19. Para participar do estudo, os voluntários deveriam estar com até sete dias de sintomas, apresentar alguma comordidade que aumentasse o risco de Covid-19 grave, mas não poderiam ter arritmias cardíacas ou condições ou históricos de saúde que apontassem um risco aumentado para a condição. Por conta disso, todos foram submetidos a um eletrocardiograma antes de serem inseridos na pesquisa.

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O estudo foi randomizado (ocorreu um sorteio para denominar quem receberia hidroxicloroquina e quem tomaria placebo) e duplo cego (nem os médicos nem os pacientes sabiam qual remédio estavam ingerindo.

Os pacientes tomaram a medicação por uma semana. A dose de hidroxicloroquina avaliada foi de 400 mg, a cada 12 horas, no primeiro dia, seguido de 400 mg/dia durante os seis dias restantes. Após este período, os pacientes foram acompanhados por 30 dias para que os médicos avaliassem a taxa de hospitalização em decorrência do agravamento da Covid-19.

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Após analisarem os dados dos 1.372 pacientes adultos incluídos no estudo, os pesquisadores concluíram que não houve diferença significativa na ocorrência de hospitalização: 6,4% dos pacientes que tomaram hidroxicloroquina foram internados, enquanto que 8,3% dos que tomaram placebo também precisaram de internação hospitalar.

— Quando você olha os dados, percebe que as taxas de internação do grupo que tomou a hidroxicloroquina é menor do que o que tomou o placebo. Mas é para isso que usamos as análises estatísticas. Os cálculos mostram que essa diferença de menos de 2% não tem significância estatística, é efeito do acaso, não mostrando a eficácia da hidroxicloroquina nessa dose e nessa população para reduzir a hospitalização em 30 dias — explica Álvaro Avezum, médico cardiologista, pesquisador do Coalizão Covid-19 Brasil e diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

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Para complementar o trabalho, os pesquisadores fizeram meta-análise com todos os estudos previamente publicados avaliando a hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19 não hospitalizados. A avaliação qual demonstrou ausência de benefício significativo da hidroxicloroquina na redução de hospitalização.

Dentre os pacientes que foram avaliados no estudo Coalizão COVID-19 Brasil, dez morreram dentro do período de 30 dias analisados pelos cientistas: cinco entre os que tomaram hidroxicloroquina e cinco que receberam placebo.

— Como incluímos pacientes que tinham características apropriadas, excluindo aqueles que tinham risco de arritmia, nós não tivemos nenhuma diferença entre hidroxicloroquina e placebo no que diz respeito a eventos adversos graves, como morte súbita, arritmia cardíaca grave ou mesmo alteração visual da retinopatia (efeitos colaterais que podem ser causados pelo uso da medicação) — esclarece Avezum.

Outros estudos do Coalizão

O grupo de pesquisadores do Coalização COVID-19 Brasil já haviam publicado quatro estudos avaliando a eficácia e segurança de remédios contra a Covid.

  • Coalizão I: Avaliou a hidroxicloroquina em pacientes internados com Covid-19 e demostrou que o remédio não tinha eficácia;
  • Coalizão II: Analisou a eficácia da azitromicina em pacientes internados com Covid-19 e demostrou que o remédio não trazia benefícios;
  • Coalizão III: Avaliou o uso de corticoides em pacientes graves e hospitalizados com Covid-19 e demonstrou benefícios quanto ao uso da medicação;
  • Coalização IV: Analisou o uso de anticoagulantes como medida profiláticas e o resultado não demonstrou eficácia.

Há mais três estudos em andamento:

  • Coalizão VII: Está avaliando o impacto a longo prazo, após alta hospitalar, incluindo qualidade de vida, de pacientes que tiveram COVID-19 e foram participantes dos demais estudos da Coalizão. Em andamento. Foram incluídos 529 pacientes.
  • Coalizão VIII: Está em avaliação se anticoagulação com rivaroxabana previne agravamento da doença com necessidade de hospitalização em pacientes não-hospitalizados com formas leves ou moderadas da COVID-19. Em andamento. Foram incluídos 650 pacientes.
  • Coalizão IX: Avaliará se drogas antivirais isoladas e/ou em combinação entre si são efetivas para tratar casos de COVID-19 hospitalizados com doença moderada. Os antivirais a serem testados são atazanavir, daclatasvir e daclatasvir associado a sofosbuvir. Previsão de início na primeira quinzena de agosto.