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Fiocruz publica nota técnica sobre a importância de vacinar crianças contra a Covid-19

O documento ressalta que a imunização de meninas e meninos de 5 a 11 anos colabora com a redução de formas graves e óbitos nesse grupo, reduz a transmissão do vírus e contribui para a retomada das aulas presenciais
Profissional da saúde fala com menino de 7 anos após ele receber a vacina contra o coronavírus em Buenos Aires Foto: AGUSTIN MARCARIAN / Reuters 15-10-21
Profissional da saúde fala com menino de 7 anos após ele receber a vacina contra o coronavírus em Buenos Aires Foto: AGUSTIN MARCARIAN / Reuters 15-10-21

SÃO PAULO — A Fiocruz divulgou nesta terça-feira uma nota técnica com evidências científicas sobre a importância de vacinar crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19. No documento, a fundação ressalta que a imunização dessa faixa etária vai colaborar com a mitigação de formas graves e óbitos pela doença nesse grupo, reduzirá a transmissão do vírus e será uma importante estratégia para a retomada das atividades escolares presenciais.

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A vacinação de crianças contra o novo coronavírus é um tema polêmico no Brasil. No dia 16 de dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos de idade. No entanto, o Ministério da Saúde ainda não publicou as diretrizes sobre como e quando será o início da imunização nessa faixa etária . Tampouco há vacina para essa população - a previsão é que as doses pediátricas cheguem e janeiro - e o presidente Jair Bolsonaro já se manifestou inúmeras vezes contrário à imunização dessa faixa etária . Entre as justificativas do presidente, está que a vacina ainda é experimental. O que não é verdade.

O processo de desenvolvimento rápido das vacinas contra Covid-19 está previsto em várias agências regulatórias no mundo e na Organização Mundial da Saúde (OMS) em situações especiais, o que inclui a pandemia de Sars-CoV2. A diferença para o procedimento normal de desenvolvimento de vacinas durar cerca de dez anos e o da vacina contra o novo cononavírus estar pronto em cerca de um ano foi possível graças a investimentos inéditos, esforços conjuntos e etapas sendo feitas em paralelo. Apesar da velocidade, a rigorosidade do processo foi mantida.

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Além do teste clínico, que mostrou que a vacina é segura e altamente eficaz nessa faixa etária, a nova técnica traz dados da vacinação nos Estados Unidos, onde cerca de 5 milhões de crianças entre 5 e 11 anos de idade já foram imunizadas, sem eventos adversos significativos. No sistema de vigilância de eventos adversos dos EUA foram registroados apenas 8 casos de miocardite, uma rara inflamação no coração associada à vacina, em mais de 7 milhões de vacinados, todos com evolução favorável.

Casos e mortes de Covid-19 em crianças

Embora os casos de Covid-19 em crianças sejam menos frequentes e mais leves que em adultos, o númerod de internações e óbitos nessa faixa etária não é desprezível. Em 2020, 14.638 crianças e adolescentes de até 19 anos foram hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada por Covid-19. No mesmo período, foram notificados 1.203 óbitos nessa faixa etária pela doença. Neste ano, até o dia 4 de dezembro, foram registradas 19,9 mil hospitalizações por SRAG confirmado por Covid-19 em pessoas abaixo de 19 anos e 1.422 óbitos.

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Nos Estados Unidos somente em outubro de 2021 houve mais de 8.300 casos de infecção pelo novo coronavírus em crianças de 5 a 11 anos com hospitalizações e em torno de 100 óbitos por Covid-19. A doença está entre as 10 principais causas de morte nessa faixa etária. No Brasil, o coronavírus matou mais crianças do que a soma de todas as doenças preveníveis por vacina.

Há ainda a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica associada à Covid-19 (SIM-P). No Brasil, 64% das crianças e adolescentes acometidos tinham entre 1 e 9 anos de idade.  A SIM-P é uma grave complicação da infecção pelo Sars-CoV-2 em crianças, uma condição que gera inflamações em diferentes partes do corpo, incluindo coração, pulmões, rins, cérebro, pele, olhos ou órgãos gastrointestinais.

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O avanço da variante Ômicron, que tem maior capacidade de transmissão do que as cepas anteriores e tende a infectar indivíduos não vacinados, o que faz das crianças abaixo de 12 anos um grande alvo, enaltece ainda mais a necessidade de iniciar o mais breve possível a vacinação dese grupo.

Retomada das aulas e saúde mental

Outros benefícios da vacinação infantil contra Covid-19 apontados na nota são a mitigação da transmissão na da doença na comunidade escolar e também fora dela. A pandemia representou importante descontinuidade na vida escolar de crianças e adolescentes nos últimos dois anos letivos e embora muitas escolas tenham retomado as aulas presenciais neste último ano, o período foi marcado por testes, suspensão de aula quando algum caso era detectado e necessidade de manter distância dos colegas.

O confinamento, o isolamento social e a interrupção da rede de apoio das famílias têm repercussões extremamente nagativas na saúde mental dos pequenos. Estudos apontam para retrocessos no desenvolvimento psicomotor, transtornos do humor, alimentares e do sono.

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Incorporação ao PNI

"As vacinas são a melhor forma de se evitar mortes e sequelas graves decorrentes das doenças imunopreviníveis. [...] Como tal, a incorporação da vacinação contra COVID-19 ao calendário do PNI (Programa Nacional de Imunização) é ferramenta importante no controle da pandemia. Ainda que em proporções de agravamento e óbitos inferiores aos visualizados em adultos, as crianças também adoecem por COVID-19, são veículos de transmissão do vírus e podem desenvolver formas graves e até evoluírem para o óbito. Eventos adversos pósvacinais são raros nas avaliações conduzidas e menos frequentes que o risco de complicações e óbito pela COVID-19", conclui o documento.