Cientistas anunciaram nesta quarta-feira durante a Conferência Internacional de Aids, realizada em Montreal, no Canadá, o quarto caso no mundo de um paciente que entrou em remissão para o HIV, considerado curado. Assim como outros três pacientes anteriores, o homem de 66 anos, que foi diagnosticado com a doença em 1988, recebeu um transplante de medula óssea para tratar um quadro de leucemia de um doador com genética resistente ao vírus que causa a Aids. Os dados foram apresentados no evento pela professora da Divisão de Doenças Infeciosas do City of Hope, centro médico onde foi realizado o procedimento, nos Estados Unidos, Jana Dickter.
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“Quando fui diagnosticado com HIV em 1988, como muitos outros, pensei que era uma sentença de morte. Nunca pensei que viveria para ver o dia em que não tivesse mais HIV", conta o paciente, que optou por permanecer de forma anônima, em comunicado.
Segundo a instituição, o transplante foi realizado há três anos e meio. O paciente vivia com HIV há 31 anos, e foi o mais velho a atingir o status considerado de cura da doença. Os pesquisadores anunciaram a remissão somente depois que o homem permaneceu durante 17 meses sem receber o tratamento antirretroviral e, ainda assim, não voltou a apresentar evidências do vírus no organismo. Ele ganhou o nome de "Paciente City of Hope", em homenagem ao local onde foi tratado -- que, em tradução livre, significa "Cidade da Esperança".
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O doador da medula óssea tinha uma mutação genética rara no receptor das células imunes que o HIV utiliza para atacar o sistema imunológico, o CCR5. Já foi comprovado que essa mutação torna as pessoas resistentes à maioria das cepas de infecção pelo HIV pois bloqueia esse caminho e impede a replicação do vírus no organismo.
Os médicos da City of Hope relatam que, desde que se recuperou do transplante, o paciente não mostrou evidências de possuir o vírus HIV replicante em seu corpo, seja em amostras de sangue ou tecidos. Após aprovação dos especialistas, ele deixou de tomar o medicamento antirretroviral em março de 2021, mas continuou sendo monitorado de perto. Eles contam ainda que o tempo de dois anos entre o transplante e a interrupção do remédio poderia ser maior, mas o paciente optou por esperar ser vacinado para a Covid-19 antes.
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“Ficamos entusiasmados em informá-lo que seu HIV está em remissão e que ele não precisa mais tomar a terapia antirretroviral que estava em uso há mais de 30 anos. Ele viu muitos de seus amigos morrerem de AIDS nos primeiros dias da doença e enfrentou tanto estigma quando foi diagnosticado com HIV em 1988. Mas, agora, ele pode comemorar este marco médico. Não conseguimos encontrar evidências de replicação do HIV em seu sistema", conta o presidente e CEO da City of Hope, o médico Robert Stone, em comunicado.
O tratamento, que também levou pacientes anteriores à cura, não é, no entanto, indicado a todos. Isso porque um transplante de células-tronco de medula óssea envolve uma série de riscos, tem uma alta complexidade e depende de doadores compatíveis. Logo, só é recomendado para aqueles que de fato precisam do procedimento devido a um quadro avançado de câncer.
A primeira vez em que foi relatado que o tratamento levou o vírus à remissão foi em 2009, quando o homem que ficou conhecido como "Paciente de Berlim", Timothy Ray Brown, tornou-se a primeira pessoa no mundo a ser considerada curada do HIV. Ele viveu por 12 anos sem o vírus, porém morreu em 2020 em decorrência do câncer. Além de Brown, houve o caso do "Paciente de Londres", Adam Castillejo, em 2019, e de uma mulher, neste ano, que decidiu permanecer no anonimato.