Medicina
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Por AFP com O GLOBO

Há 40 anos, uma equipe do Instituto Pasteur, na França, descobriu o vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Humana (Aids), um acontecimento que marcou a primeira etapa do combate a uma epidemia que já deixou mais de 40 milhões de mortos no mundo. A identificação do então novo vírus foi publicada em de maio de 1983 em um artigo na revista científica Science.

Pouco depois, uma equipe americana também identificaria um patógeno associado à Aids, que posteriormente foi confirmado se tratar do mesmo observado pelos cientistas franceses. Ambos foram considerados os responsáveis pelo descobrimento do HIV, feito premiado em 2008 quando receberam o Prêmio Nobel de Medicina.

Os primeiros casos da Aids, porém, foram registrados dois anos antes do vírus ter sido identificado, em 1981, quando o quadro era chamado de “doença dos quatro H”, devido à incidência entre homens homossexuais, viciados em heroína, haitianos e hemofílicos. Apenas um ano mais tarde, seria batizada oficialmente de Aids.

De lá para cá, a convivência com o HIV, inicialmente considerada uma sentença de morte, transformou-se em uma condição crônica manejável graças aos avanços dos tratamentos, que permitem às pessoas hoje terem vidas longevas e saudáveis. Além disso, a ciência tem avançado no desenvolvimento de novas formas de prevenção e trabalha para que uma vacina finalmente seja alcançada.

Abaixo, veja as principais evoluções no tratamento e na prevenção do HIV durante as quatro décadas após o seu descobrimento:

AZT

Quando o HIV (vírus da imunodeficiência humana) começou a infectar humanos, os pacientes estavam fadados a morrer em curto e médio prazo, e nenhum medicamento parecia funcionar até a chegada do antirretroviral azidotimidina (AZT).

Na realidade, o AZT foi inicialmente sintetizado ainda na década de 1960 como um potencial tratamento contra o câncer, por atacar um vírus associado à leucemia, mas foi abandonado por falta de resultados convincentes.

Com o surgimento da Aids, o laboratório americano Burroughs Wellcome, dono da molécula, decidiu testá-lo em um ensaio clínico que foi interrompido na fase 2, uma anterior à fase 3 - última antes da comercialização - porque os resultados foram tão positivos que seria antiético privar os pacientes do acesso ao medicamento.

Em 20 de março de 1987, foi autorizado nos Estados Unidos oficialmente o primeiro tratamento antirretroviral (TARV) com o AZT, que agia sobre a atividade de uma enzima chamada "transcriptase reversa" do HIV, retardando a replicação do vírus no organismo.

Porém, o AZT tinha efeitos colaterais significativos, como dores de cabeça, náuseas, quadros de anemia, e, posteriormente, foi considerado insuficiente para tratar sozinho o HIV, por agir em apenas uma fase da replicação do vírus. Ainda assim, foi um marco no início do combate à Aids.

Terapias triplas

Um segundo evento importante ocorreu em janeiro de 1996 com a conferência internacional sobre retrovírus em Washington, nos EUA. Resultados positivos foram apresentados a partir de vários testes realizados por laboratórios para tratar o HIV.

Era a chegada de uma nova classe de medicamentos, os antiproteases, moléculas que impedem outra etapa da replicação do HIV ao bloquear a maturação de novas proteínas do vírus. Essas moléculas, combinadas com outros antirretrovirais, mudaram completamente o jogo.

— Ao mirar em três estágios, três alvos moleculares, torna-se muito mais difícil para o vírus escapar do tratamento — explica o pesquisador Victor Appay, imunologista e diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde e Medicina da França (Inserm).

Inicialmente muito caras e reservadas aos países ricos, as terapias tornaram-se mais acessíveis graças a um compromisso assinado em 2001 na Organização Mundial do Comércio (OMC) para permitir que os países em desenvolvimento produzissem medicamentos genéricos.

Atualmente, existem cinco tipos principais de drogas antirretrovirais que atuam em diferentes fases da replicação viral. Cada vez mais se trabalha para que o tratamento seja bem menos oneroso, com doses menos frequentes e mais baratas.

A cura, no entanto, ainda não é possível com a terapia pois o vírus entra em estado de “dormência” em algumas células do organismo, e com isso não são alcançados pelos medicamentos. Porém, eventualmente, eles “acordam” e voltam a se replicar.

PrEP

Em 16 de julho de 2012, um primeiro tratamento PrEP (profilaxia pré-exposição) como método de prevenção ao HIV para grupos de maior risco de exposição foi licenciado nos Estados Unidos, o coquetel antirretroviral Truvada. Desde então, essa estratégia, que envolve um comprimido ao dia, provou sua eficácia e permitiu que pessoas se protegessem da infecção pelo vírus.

O antiviral atua bloqueando uma enzima do corpo necessária para que o HIV se replique ao infectar o organismo caso o indivíduo seja exposto a ele. É, portanto, uma estratégia anterior à possibilidade de contaminação, e não de tratamento para pessoas que vivem com o vírus.

No caso de pessoas que não tomam a PrEP, mas foram expostas ao HIV, existe a profilaxia pós-exposição (PEP). Ela é uma medida de caráter emergencial, e deve ser iniciada preferencialmente nas primeiras duas horas após a possibilidade de contato com o patógeno, e no máximo em até 72 horas. Trata-se também de um comprimido ao dia, tomado durante 28 dias após o evento.

Ambas as estratégias estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2017.

Transplantes e cura

Houve até agora cinco casos de remissões completas de pacientes com HIV por meio de transplantes divulgados por cientistas. São pacientes que sofriam de câncer no sangue e que precisavam de transplantes de medula óssea devido ao tumor.

Ao selecionarem o doador, os pesquisadores escolheram indivíduos que tinham uma mutação rara que levava as células a não produzirem uma proteína chamada CCR5, um receptor que atua como “porta de entrada” para que o HIV entre nas células.

Com isso, quando os vírus em “dormência” foram acordando, não conseguiram se replicar e foram eliminados pelos antivirais. No entanto, esses transplantes são arriscados e indicados apenas em casos de necessidade devido ao quadro de câncer, não sendo replicado para todos que vivem com o HIV.

No entanto, novas estratégias de edição genética direcionadas ao CCR5, vacinas personalizadas para induzir anticorpos específicos e medicamentos que buscam atingir o vírus no estado de “dormência” têm avançado nos estudos.

Possível vacina

Um imunizante é o Santo Graal esperado durante essas quatro décadas. A dificuldade é que o HIV tem uma mutabilidade muito poderosa e inúmeras subvariantes em circulação, permitindo que ele escape das defesas produzidas pelo sistema imunológico. Ele pode se tornar invisível, se esconder em reservatórios no estado de "dormência" e reaparecer anos depois.

Até agora, as tentativas de desenvolver uma vacina falharam, como no amplo estudo Mosaico, em que a dose desenvolvida pela Janssen chegou à última etapa, porém não foi eficaz em prevenir a infecção. Mas o trabalho continua.

— Essa é a principal esperança — diz Victor Appay. — Muitas pesquisas estão sendo feitas para gerar anticorpos de amplo espectro que visam o maior número possível de cepas de HIV.

A Moderna, por exemplo, farmacêutica americana especializada em RNA mensageiro que criou uma das primeiras vacinas contra a Covid-19, iniciou testes de um imunizante com a mesma tecnologia para evitar o HIV.

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