Hipotermia e desidratação: o drama que os nigerianos viveram nos 13 dias no leme do navio

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Não há informações sobre outros recursos, como disponibilidade de água ou cobertores para se proteger do frio no local. Mas, segundo a PF, eles apresentavam "condições precárias de saúde".

A cardiologista e intensivista Stephanie Rizk, do InCor do Hospital das Clínicas da USP, explica que, apesar da fome, o ser humano consegue sobreviver mais de 30 dias sem comida, a depender das reservas de músculo e gordura do indivíduo. Por outro lado, mesmo que não haja desnutrição grave, a falta de alimento gera uma incômoda sensação de fome, assim como outras alterações no organismo.

— Se a pessoa tiver reserva, ela não ficará desnutrida em 10 dias sem alimento. Mas ela terá uma perda de peso rápida e não saudável, além de sentir muita fome, o que gera era insônia e irritação. Também pode haver hipoglicemia, distúrbio provocado pela baixa concentração de glicose no sangue, que causa sintomas como enjoo, tontura e dor de cabeça.

Para a médica, os maiores riscos aos quais os nigerianos podem ter sido expostos nessas condições extremas foram desidratação e hipotermia, queda da temperatura corporal abaixo dos 35ºC.

— Em condição normal, nosso organismo tem uma temperatura em torno de 36ºC. Se a temperatura corporal fica abaixo disso, o coração bate mais lento e a condição neurológica também é afetada. A pele fica fria e pálida e pode ter tremor. O pensamento fica lento e há sonolência. Muito tempo nessa condição ou se a temperatura corporal continuar caindo pode levar à morte — explica Rizk.

Não há informações sobre o acesso dos nigerianos à água, mas é de se esperar que, nessas condições, o estoque não fosse abundante. Nesse caso, outro problema grave ao qual eles foram expostos é o risco de desidratação. Enquanto o ser humano pode sobreviver mais de 30 dias sem alimento, sem água, ele sobrevive em torno de 3 a 5 dias.

— Cerca de 60% do corpo humano é composto por água. A água é fundamental para o funcionamento das células e para o metabolismo. A desidratação ocorre quando perdemos mais líquido do que ingerimos. A perda de líquido ocorre principalmente pela urina, pelo suor e pelas lágrimas — diz a cardiologista e intensivista do Incor.

Existem diferentes graus de desidratação. Nos mais leves, além da sede, a pessoa para de suar e urinar, fica com a pele e a boca seca e os olhos fundos. Também pode haver dor de cabeça, sonolência, tonturas, fraqueza, cansaço e aumento da frequência cardíaca.