Medicina
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Por — Rio de Janeiro

A alta de casos de hepatite A na cidade de São Paulo levou o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da prefeitura (Cievs - SP) a emitir um alerta epidemiológico. De acordo com o documento, de janeiro a 28 de setembro foram 225 diagnósticos na capital paulista, um crescimento de 55,2% em relação ao ano passado e mais do que a soma de todos casos detectados nos dois anos anteriores: 145, em 2022, e 61, em 2021.

De acordo com a série histórica, que teve início em 2007, 2023 já é o terceiro ano com mais casos, atrás apenas de 2017, com 684 registros, e de 2018, com 483, época em que a cidade viveu um surto da doença. O monitoramento também mostra que as hepatites B e C não apresentaram a mesma alta. Pelo contrário, os diagnósticos caíram, respectivamente, 44,4% e 46,8% neste ano em relação ao anterior.

Além de São Paulo, outros municípios do país têm feito alertas semelhantes sobre o avanço da hepatite A. Também neste ano até setembro, Florianópolis, em Santa Catarina, contabilizou 113 registros da doença, uma alta ainda mais expressiva, de 927,3%, em comparação com os apenas 11 relatados em todo 2022.

Alerta para aumento de hepatite A :

Em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a alta nos primeiros seis meses deste ano foi de 508% em comparação com o mesmo período do ano passado, saindo de 23 para 117 casos da doença.

Em julho, um levantamento da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que representa os laboratórios privados do país, já mostrava que esse aumento ocorre em âmbito nacional. No primeiro semestre de 2023, as unidades diagnosticaram 1.567 casos, 56,2% a mais do que os 1.003 da primeira metade de 2022.

O que é a hepatite A?

As hepatites virais são infecções que atingem o fígado causadas pelos vírus A, B, C, D e E. No Brasil, a grande maioria dos casos é associada aos tipos A, B e C. Segundo o Ministério da Saúde, as contaminações costumam ser silenciosas, mas quando se manifestam causam cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados (icterícia), urina escura e fezes claras. Quando não tratada, a hepatite vira um fator de risco para desenvolvimento de câncer de fígado e cirrose.

No caso da hepatite A, a transmissão ocorre por via fecal-oral (contato de fezes com a boca). Por isso, tem alta relação com as condições de saneamento básico, qualidade da água e higiene pessoal e de alimentos. O vírus também pode ser disseminado em relações sexuais por meio do sexo anal, que propicia o contato do ânus com a boca.

Para as hepatites A e B, uma das principais estratégias de prevenção é a vacinação. A eficácia do imunizante para o tipo A é alta, mas como ele passou a ser ofertado no Programa Nacional de Imunizações (PNI) para crianças somente em 2014, muitos adultos de hoje não receberam a proteção.

E são justamente eles os mais afetados. O alerta do Cievs - SP mostra que 73,3% das infecções até agora foram em homens, e 71,6% na faixa etária de 18 a 39 anos. A fonte da contaminação é considerada desconhecida na grande maioria dos diagnósticos (73,8%). Em outros 15,6%, foi associada a alimentos/água. Já 6,2% foi ligado ao ato sexual, e 2,2%, ao uso de drogas.

— O aumento de casos pode ser atribuído à falta de vacinação em adultos, que não tiveram a doença na infância, o que os torna vulneráveis. A transmissão, principalmente entre homens de 19 a 39 anos durante práticas sexuais, é uma grande preocupação, ecoando um padrão observado durante o surto de hepatite A em 2017 — avalia o infectologista do Instituto Emílio Ribas Leonardo Weissmann, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

O coordenador do Comitê de Análises Clínicas da Abramed, Alex Galoro, cita ainda que outro motivo para a maior disseminação do vírus neste ano pode ser um efeito do fim das medidas restritivas impostas pela Covid-19 nos anos anteriores, que fizeram com que os casos diminuíssem e fossem subnotificados.

A baixa cobertura vacinal entre os mais novos também preocupa os especialistas porque mantém o vírus da hepatite A em circulação até alcançar as populações suscetíveis. No Brasil, segundo dados do DataSUS atualizados nesta quinta-feira, somente 53,14% do público-alvo recebeu a dose em 2023 – a meta preconizada é de 95%. Ela foi alcançada apenas em 2015, quando chegou a 97,07%.

Quem pode se vacinar contra a hepatite A?

Atualmente, a dose única faz parte do calendário infantil com indicação para ser aplicada aos 15 meses de idade, podendo ocorrer entre os 12 meses até os 5 anos incompletos. Nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs), determinados adultos considerados de maior risco para doença grave também podem receber a vacina, que é administrada no esquema de 2 doses, com intervalo mínimo de 6 meses entre elas. São eles:

  • Hepatopatias crônicas de qualquer etiologia, inclusive infecção crônica pelo HBV e/ou pelo HCV;
  • Pessoas com coagulopatias, hemoglobinopatias, trissomias, doenças de depósito ou fibrose cística (mucoviscidose);
  • Pessoas vivendo com HIV;
  • Pessoas submetidas à terapia imunossupressora ou que vivem com doença imunodepressora;
  • Candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em programas de transplantes, ou transplantados de órgão sólido ou de células-tronco hematopoiéticas (medula óssea);
  • Doadores de órgão sólido ou de células-tronco hematopoiéticas (medula óssea), cadastrados em programas de transplantes.

Como as cidades têm lidado com o aumento?

Uma estratégia recorrente em meio a altas de casos é a vacinação de adultos considerados em situação de maior risco de exposição ao vírus. Geralmente, são priorizados homens que fazem sexo com outros homens (HSH) devido à maior incidência de casos detectados no grupo – como ocorreu durante o último surto da capital paulista, em 2017 - 2018.

A imunização é feita em locais de atendimento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e de programas de profilaxia pré e pós exposição ao HIV, as chamadas PrEP e PEP. A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo disse em nota que retomou, frente à alta de casos, a imunização desse grupo nessas unidades.

“Também será encaminhado um ofício ao Ministério da Saúde (MS) solicitando o envio regular desse imunizante, para que a cidade de São Paulo possa seguir vacinando o público elegível na rotina de imunizações”, continuou.

— Diante do aumento dos casos de hepatite A, é crucial implementar estratégias eficazes para conter a disseminação da doença. Recomenda-se intensificar campanhas de vacinação, especialmente entre os adultos não imunizados, e promover a conscientização sobre práticas seguras, destacando a transmissão durante atividades sexuais — defende Weissmann.

Em comunicado, a prefeitura de Porto Alegre reforça a importância da vacinar os públicos contemplados no PNI, mas não cita a ampliação para outros grupos, como fez São Paulo. Já a prefeitura de Florianópolis disse ao g1 que aguarda a liberação de imunizantes pelo Ministério da Saúde para também incluir homens que fazem sexo com outros homens na vacinação.

— Além disso, é fundamental melhorar as condições de higiene e saneamento para prevenir a contaminação. As autoridades de saúde devem coordenar esforços, fornecendo recursos e informações acessíveis à população para garantir uma resposta abrangente e eficiente diante desse desafio de saúde pública — afirma o infectologista.

Para se proteger, o Ministério da Saúde recomenda ainda:

  • Lavar as mãos (incluindo após o uso do sanitário, trocar fraldas e antes do preparo de alimentos);
  • Lavar com água tratada, clorada ou fervida, os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;
  • Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes;
  • Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;
  • Usar instalações sanitárias;
  • No caso de creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas, adotar medidas rigorosas de higiene, tais como a desinfecção de objetos, bancadas e chão utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária.
  • Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;
  • Evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;
  • Usar preservativos e higienização das mãos, genitália, períneo e região anal antes e após as relações sexuais.

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