Medicina
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Por — São Paulo

RESUMO

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GERADO EM: 09/07/2024 - 08:10

Aumento de tumores avançados durante a pandemia

O número de tumores em estágio avançado aumentou devido ao atraso no diagnóstico durante a pandemia. Especialistas investigam possível relação do coronavírus com o câncer, mas estudos ainda são inconclusivos. Medo da Covid-19 levou à redução de exames preventivos, impactando o diagnóstico precoce.

O número de tumores descobertos em estágio avançado aumentou no Brasil e no mundo após a pandemia. Nestes estágios, o tumor já cresceu ou se espalhou para outros órgãos e linfonodos, o que diminui a probabilidade de cura. Especialistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que isso é reflexo do atraso no diagnóstico e tratamento devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19 e no pós-pandemia.

— Temos visto um número muito grande de pacientes chegando com câncer em estádios três e quatro. Metade dos pacientes no Brasil já chegava nesses estádios, mas agora isso aumentou. Não há dados oficiais de quanto foi esse aumento, mas todos os médicos têm a mesma percepção — diz o oncologista Paulo Hoff, diretor de Oncologia da Rede D’Or, professor da Universidade de São Paulo e colunista do GLOBO.

A tendência já era prevista em estudos feitos durante a pandemia. Um trabalho publicado recentemente pela Universidade College London em parceria com o Data-Can, centro de pesquisa de dados de saúde para diagnóstico e tratamento de câncer no Reino Unido, estimou um aumento de 20% na mortalidade por câncer como resultado direto da interrupção causada pelo coronavírus. Um estudo da Americas Health Foundation, realizado com o apoio da Roche, estimou que o atraso no diagnóstico e tratamento do câncer imposto pela pandemia seria responsável por 62,3 mil mortes.

Os cânceres que mais tiveram aumento de diagnóstico avançado nesse período são: próstata, mama, intestino e outros tumores do trato gastrointestinal, colo de útero e pulmão.

— Os cânceres que mais notadamente tiveram um aumento foram aqueles que eram rastreáveis e deixaram de ser porque as pessoas pararam de ir aos serviços de saúde devido às restrições da pandemia. Vimos aumento em todas as idades, mas ele é mais importante em pacientes mais velhos porque é nessa faixa etária que os tumores são mais frequentes — diz o oncologista Fernando Maluf, fundador do Instituto Vencer o Câncer e médico da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e do Hospital Israelita Albert Einstein.

No caso do câncer de mama, por exemplo, o rastreio é feito por meio da mamografia. Esse exame é recomendado pelo Ministério da Saúde para mulheres a partir dos 50 anos de idade, a cada dois anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomendam a mamografia anual a partir dos 40 anos de idade, visando ao diagnóstico precoce e a redução da mortalidade.

Durante a pandemia, a realização desse exame chegou a cair 40%, segundo dados de um estudo publicado na revista científica International Journal Public Health. Isso teve consequências: um aumento de cerca de 26% nos casos graves da doença no país.

Quanto ao câncer de próstata, não há indicação oficial no país para o rastreamento do tumor por parte do Ministério da Saúde. A pasta recomenda que os exames para detecção da doença, como o exame de toque retal e o PSA livre sejam feitos apenas mediante o aparecimento de sintomas. Já a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda o rastreio a partir de 50 anos.

Para o câncer de pulmão, a detecção é feita através de uma tomografia computadorizada, indicada anualmente para pessoas de 50 a 80 anos, que ainda fumam ou que pararam de fumar há menos de 15 anos, e que tenham fumado pelo menos um maço de cigarros por dia, por pelo menos 20 anos.

O câncer colorretal é identificado pela colonoscopia. Também pode ser indicado o teste de sangue oculto nas fezes. A triagem deve começar aos 45 anos e repetida a cada década. É importante ressaltar que essa recomendação é válida para pessoas de baixo risco para a doença. Aquelas com alto risco, devem realizar o exame com mais frequência e, em alguns casos, até mesmo mais precocemente.

Já o rastreamento do câncer de colo do útero é feito pelo papanicolau, a partir dos 25 anos de idade. A periodicidade pode ser anual ou a cada três anos, a depender dos resultados.

A realização desses exames na periodicidade correta é fundamental para a detecção precoce do câncer, quando o tumor está localizado e há maior possibilidade de cura. A boa notícia é que extintas as restrições e passado o medo da C ovid-19, a população parece estar voltando à realização dos exames preventivos, o que deve contribuir para a redução do diagnóstico desses tumores em estágio avançado.

— Acho que teremos isso normalizado em ano ou dois anos porque notamos uma volta muito rápida do cidadão aos serviços de saúde — afirma Hoff.

Covid pode causar câncer?

Ninguém tem dúvida sobre o papel indireto da pandemia no aumento no número de cânceres avançados. No entanto, outra possibilidade é ventilada entre alguns pesquisadores: o SARS-CoV-2 ser um catalisador do câncer.

— Não tem nada sólido, neste momento, em relação ao coronavírus causador da Covid. Também nunca houve relação causal conhecida dos coronavírus que já existiam antes com câncer. Então, acho improvável — pontua Hoff.

Embora essa hipótese não esteja confirmada, ela é investigada por grupos de médicos nos Estados Unidos, que observaram o surgimento de cânceres incomuns após a pandemia. Como pacientes com 40 anos com colangiocarcinoma, um câncer raro e letal dos ductos biliares que normalmente atinge pessoas na faixa dos 70 e 80 anos.

De acordo com pesquisadores que estudam o tema, como Kashyap Patel, CEO do Carolina Blood and Cancer Care e membro da Community Oncology Alliance, um grupo de especialistas independentes em câncer nos EUA que realiza estudos para tentar desvendar o quebra-cabeças da infecção por coronavírus e Covid-longa e sua possível associação com o câncer, existem vários mecanismos pelos quais uma infecção pelo novo coronavírus poderia levar ao câncer.

Por exemplo, a resposta inflamatória exacerbada que resulta na temida tempestade de citocinas, danos teciduais extensos, inflamação crônica, baixos níveis de oxigênio nos tecidos, estresse oxidativo, e respostas deficientes das células T.

A possibilidade de um vírus causar câncer está longe de ser inédita. De acordo com Patel, cerca de 20 a 25% de todos os casos de câncer no mundo podem ser atribuídos aos vírus.

— Existem vários mecanismos que podem aumentar o risco de inflamação que, por sua vez, pode levar à regulação positiva dos fatores oncogênicos — diz Patel.

O vírus da hepatite B, por exemplo, pode se integrar diretamente no genoma e impactar as vias de sinalização no fígado, promovendo a atividade cancerosa. Já o da hepatite C não se integra, mas ao de décadas no organismo pode ativar vias que levam à inflamação, fibrose e câncer. Outros, como o HIV, não causam câncer diretamente, mas podem enfraquecer o sistema imunológico, permitindo potencialmente o crescimento de células tumorais. No entanto, o papel desses vírus no desenvolvimento do câncer ocorre no longo prazo.

— Se você é infectado por um vírus, o câncer aparece depois de muitos e muitos anos, de modo geral. Se fosse alguma coisa relacionada ao coronavírus, veríamos casos de câncer muito tempo depois, não seria algo imediato — avalia Maluf.

O que alguns especialistas, como Patel, acreditam é que o Sars-CoV-2 possa ter um efeito oncogênico mais agudo.

— Realmente, para outros vírus que causam câncer, a doença geralmente se desenvolve anos depois. No entanto, a tempestade de citocinas é exclusiva da infecção aguda pelo Sars-CoV-2 e pode ser diferente. A maioria dos outros vírus oncogênicos não causa tempestade aguda de citocinas, o que pode explicar a diferença no período de desenvolvimento do câncer.

Um artigo publicado na revista Frontiers in Oncology ainda em discutiu a possibilidade de que a Covid-19 poderia despertar células cancerígenas adormecidas e causar uma recaída, mas que o mecanismo preciso de inflamação nas células cancerígenas “ainda não tinha sido elucidado”. Uma revisão subsequente, publicada na Frontiers in Molecular Biosciences, em 2022 sugere uma possível associação entre a Covid-19, inflamação e o despertar de células cancerígenas adormecidas e recidiva metastática.

Todas essas hipóteses existem e estão sendo investigadas, mas provavelmente demorará muitos anos até que o mundo tenha respostas conclusivas sobre se o coronavírus é causa direta do aumento de casos de câncer.

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