Mais de duas semanas após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, o Conselho Federal de Medicina (CFM) abriu um processo administrativo para apurar a conduta da segunda vice-presidente da entidade, Rosylane Rocha, que comemorou a invasão bolsonarista às sedes dos Três Poderes. A informação consta em documento ao qual o GLOBO teve acesso.
Rosylane Rocha manifestou apoio às investidas violentas por meio das redes sociais. Em dois posts no Instagram, ela escreveu frases como “Agora vai” e “STF vergonha nacional”, com imagens do quebra-quebra ao fundo. Numa outra publicação, veiculou a imagem da estátua da Justiça em frente ao prédio do STF vandalizada com os dizeres "Perdeu, mané", em referência à frase dita pelo ministro Luís Roberto Barroso ao ser abordado por um bolsonarista em Nova York.
O posicionamento da segunda vice-presidente do CFM gerou uma reação da categoria. Um abaixo-assinado pedindo o desligamento de Rosylane Rocha já contava com 6.700 adesões até as primeiras horas desta quarta-feira. O movimento deu origem à apuração interna a que ela responderá.
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Integrantes do CFM ouvidos pelo GLOBO avaliam que Rosylane deixou a classe médica em uma situação desconfortável, tendo em vista que em breve haverá discussões com o atual governo acerca de temas como o Mais Médicos.
– Ela extrapolou, externando uma opinião relacionada a questões antidemocráticas e inadequadas do ponto de vista político. Na categoria, o caso está sendo tratado como quebra de decoro. Muitos colegas estão insatisfeitos e querendo que ela seja afastada – comenta o médico no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ e ex-reitor da universidade, Alexandre Cardoso.
Uma eventual punição por parte do CFM, entretanto, dependerá da unidade do Conselho o Distrito Federal, ao qual ela é vinculada. O seccional da capital já foi notificada pela esfera nacional, que aguarda as "medidas pertinentes", diz ofício assinado pelo presidente José Hiran Gallo.
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Uma fonte próxima da cúpula do CRM-DF diz, na condição de anonimato, não enxergar disposição da entidade em aplicar punições à medicam, sobretudo as mais duras, como a exoneração. Rosylane chegou a participar de um almoço institucional com a diretoria do CRM-DF na quarta-feira passada, de onde saiu afirmando sofrer perseguição.
Nas últimas semanas, ela ficou à frente do CFM. Dois superiores, o presidente, José Hiran Gallo, e vice-presidente Jeancarlo Cavalcante encontravam-se fora do Brasil.
O GLOBO procurou a médica do trabalho Rosylane Nascimento das Mercês Rocha, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.
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Em nota pública no dia 9 sobre os atos de depredação, o CFM divulgou texto em que “manifesta publicamente seu repúdio aos atos violentos praticados no dia 8 de janeiro”. "Neste momento, o CFM reitera a necessidade de que todos, população e as autoridades, observem as determinações legais, contribuindo com a construção de um ambiente favorável ao Estado Democrático de Direito", destaca o texto.
Elogios na rede
No dia 8 de janeiro, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo. Durante os atos golpistas, Rosylane publicou em sua conta pessoal imagens dos golpistas na rampa do Congresso Nacional com a legenda "Agora vai".
Ela também veiculou uma reportagem sobre os policiais militares do DF que abandonaram a barreira na Esplanada para comprar água de coco na hora da invasão. Na legenda, ela defendeu que "polícia é para prender bandido e não pessoas de bem" e comemorou: "alguém tem que ter coragem! Viva a PM do DF".
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