Saúde
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Por Bernardo Yoneshigue e Giulia Vidale

A confirmação da febre maculosa como causa da morte de três pessoas após visita a uma fazenda em Campinas, São Paulo, tem chamado atenção para a doença. Um dos pontos de destaque é a alta letalidade, que chegou a cerca de 70% dos casos registrados no estado em 2022.

A repercussão também tem provocado uma série de dúvidas, como o que é a doença, como ela é transmitida e qual é a diferença entre a febre maculosa e a febre normal. Abaixo, confira em perguntas e respostas tudo o que você precisa saber sobre o diagnóstico.

O que é a febre maculosa?

A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por duas espécies de bactérias do gênero Rickettsia: a Rickettsia rickettsii, que provoca os quadros mais graves, e a Rickettsia parkeri, associada a sintomas mais leves. Desde 2020, a doença tem notificação compulsória às autoridades de saúde no Brasil.

Como é a transmissão da febre maculosa?

A infecção é transmitida pela picada do carrapato da espécie Amblyomma cajennense, popularmente conhecido como carrapato-estrela. Esse parasita costuma ter como hospedeiros cavalos, bois e capivaras. Ele também pode ser encontrado em cães, porém a espécie de carrapato mais comum nesses animais é o carrapato-vermelho-do-cão, que não transmite a febre maculosa.

A doença, portanto, não é disseminada de pessoa para pessoa, nem pelo contato com os animais, apenas por meio da picada do carrapato.

Quais são os sintomas da febre maculosa?

As vítimas em São Paulo foram internadas com picadas de inseto, febre, dores de cabeça e manchas avermelhadas no corpo. A médica Elba Lemos, pesquisadora do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), explica que a febre maculosa começa com um quadro parecido com o de gripe, com muita dor de cabeça e febre.

— Não existe febre maculosa sem febre — afirma a especialista.

Em seguida, há progressão para manchas no corpo, parecidas com as de sarampo e rubéola. Mas uma característica importante da doença é que essas manchas aparecem nas extremidades, como palma das mãos e sola dos pés. Outros sintomas incluem:

  • Tonteira;
  • Cansaço;
  • Náuseas;
  • Vômitos;
  • Falta de apetite;
  • Diarreia;
  • Dor abdominal;
  • Dor muscular constante;
  • Inchaço;
  • Gangrena (morte de um tecido) nos dedos e orelhas;
  • Pneumonia.

Em casos graves, a infecção pode causar inflamação do cérebro, insuficiência renal e paralisia dos membros, com início nas pernas, e pulmões, causando parada respiratória.

Febre maculosa: videográfico explica o que você precisa saber sobre a doença

Febre maculosa: videográfico explica o que você precisa saber sobre a doença

Quanto tempo demora para os sintomas da febre maculosa aparecerem?

O período de incubação, tempo entre a infecção e o surgimento de sintomas, da febre maculosa é de, em média, 7 dias. Mas esse período pode variar de 2 a 14 dias.

No caso das mortes em São Paulo, as vítimas visitaram o local onde acredita-se ter ocorrido a contaminação no dia 27 de maio. Elas morreram no dia 8 de junho, cinco dias após os primeiros sintomas. Logo, os sinais surgiram no dia 3, uma semana após o evento.

Febre maculosa é a mesma coisa que febre?

Não. A febre maculosa é uma doença infecciosa, que recebeu esse nome justamente por ter como um dos principais sintomas a temperatura corporal elevada. Já a febre normal é apenas uma reação do corpo humano a algum processo indesejado, como uma contaminação por um vírus ou uma bactéria ou alguma outra doença.

Febre maculosa é grave?

Sim. De acordo com o médico infectologista Julio Croda, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a febre maculosa é uma doença grave com alta letalidade.

— Proporcionalmente, a febre maculosa mata muito mais do que dengue. De cada 100 pessoas com dengue, 2 a 3 vão evoluir para o óbito. Na febre maculosa a letalidade pode chegar a 40% e até 60% porque não foi feito o diagnóstico e tratamento precoce — completa Lemos.

Em São Paulo, estado que concentra a maior parte dos casos e óbitos da doença no país, a taxa chegou a ultrapassar 70% dos infectados nos últimos anos, ou seja, mais de 7 a cada 10 pacientes morreram. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, no ano passado, foram 190 casos e 70 mortes, uma letalidade geral de 36,8%, bem abaixo da observada em São Paulo.

Como é o diagnóstico da febre maculosa?

O diagnóstico da doença é um dos grandes desafios, pois ele é fundamentalmente clínico e os sintomas da febre maculosa são semelhantes ao de outras doenças mais frequentes, como dengue, leptospirose e malária. No entanto, esse é um passo fundamental para o início do tratamento.

Neste caso, o histórico do paciente, por exemplo, se esteve em uma região endêmica, frequentou áreas com mata, florestas, fazendas, trilhas ecológicas e se foi picado por um carrapato, são fundamentais.

Existem exames laboratoriais disponíveis, mas os especialistas são enfáticos em dizer que eles servem apenas para confirmação e não devem ser usados como critério para início do tratamento.

— Em caso de suspeita da doença, o médico não deve esperar diagnóstico laboratorial para iniciar o tratamento — ressalta Croda.

Como é o tratamento da febre maculosa?

O tratamento é feito com antibióticos que devem ser iniciados imediatamente após a suspeita. A administração pode ser via oral ou venosa, a depender do estágio da doença. Em geral, o tratamento tem duração de sete dias. A demora para iniciar a terapia, ou a não utilização dos medicamentos, aumenta o risco de óbito.

— Na maioria das vezes, após 5 a 7 dias do início dos sintomas, as lesões causadas pela bactéria passam a ser irreversíveis. Por isso é importante a precocidade —afirma Lemos.

Como se proteger da febre maculosa?

A prevenção da febre maculosa é feita ao evitar-se o contato com o carrapato transmissor da doença. Para isso, o Ministério da Saúde orienta algumas medidas que podem ajudar em locais onde há maior exposição, como fazendas e trilhas.

São elas:

  • Usar roupas claras para ajudar a identificar o carrapato;
  • Usar calças, botas e blusas com mangas compridas;
  • Evitar locais com grama ou vegetação altas;
  • Usar repelente para insetos;

Verificar sempre o corpo e os animais de estimação para a presença de carrapatos após o retorno desses locais e removê-los o mais rápido possível. Eles gostam de se alojar em locais “escondidos”, como atrás da orelha, no pescoço, na região da virilha e embaixo da mama.

O que fazer se encontrar um carrapato?

Quanto mais tempo o carrapato permanecer no corpo, maior o risco de transmissão da doença. No entanto, é preciso cuidado ao removê-lo. O Ministério da Saúde orienta nunca esmagá-lo ou apertá-lo, pois isso pode liberar as bactérias caso ele esteja infectado. Pode-se utilizar uma pinça, uma gaze ou um algodão para auxiliar na tarefa. Em seguida, é indicado lavar a área da mordida com álcool ou água e sabão. Por fim, colocar todas as peças de roupas utilizadas em água fervente para eliminar o risco de contaminação.

É importante também monitorar o surgimento de sintomas por até duas semanas após a picada. Caso surjam sintomas como febre alta, dor de cabeça intensa, náuseas e vômitos, deve-se buscar imediatamente o atendimento médico e relatar o contato prévio com o carrapato.

Febre maculosa é comum?

O monitoramento do Ministério da Saúde mostra que, desde 2007, o ano em que o Brasil registrou mais casos de febre maculosa foi 2018, quando identificou 314 infecções e 96 óbitos. É, portanto, uma doença rara, mas importante devido ao alto impacto na saúde. Além disso, é mais comum em áreas rurais e para pessoas que tenham contato com os animais hospedeiros do carrapato.

Os diagnósticos ocorrem principalmente nas regiões Sudeste e Sul, sendo extremamente raros os registros nos demais estados. Já os óbitos são praticamente todos concentrados em SP, ES, RJ e MG – nos últimos cinco anos, não foram registradas mortes nas demais regiões.

Os três casos que morreram em São Paulo recentemente estiveram em um mesmo evento no mesmo local: Fazenda Santa Margarida, interior de Campinas. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde da cidade afirmou que a região é endêmica para a doença.

Por isso, os responsáveis pelo local foram notificados sobre a importância da sinalização de risco da doença. “Essa informação é imprescindível para que a pessoa adote comportamentos seguros ao frequentar estes espaços”. Nos próximos dias, o Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas (Devisa) fará uma inspeção no espaço.

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