Saúde
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Por Bernardo Yoneshigue — Rio de Janeiro

O Ministério da Saúde avalia a substituição completa da vacina em gotas contra a pólio pela versão injetável. Desde 2016, o esquema no Programa Nacional de Imunizações (PNI) já é feito com três doses iniciais da vacina injetável, seguidas por duas de reforço com a famosa gotinha. A mudança para tornar todas as aplicações injetáveis alinharia o país às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

A alteração no regime deverá ter início gradualmente a partir do ano que vem. O tema depende ainda de avaliação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização do ministério (CTAI), que pode debater sobre em breve. A figura do Zé Gotinha como símbolo da vacinação, porém, será mantida. As informações são do jornal Folha de São Paulo, confirmadas pelo GLOBO.

“As estratégias de vacinação adotadas no Brasil, assim como os imunizantes indicados para cada público, levam em conta o avanço tecnológico do setor e novas evidências científicas, sempre discutidos no âmbito da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações (CTAI). A substituição da vacina oral contra a poliomielite por uma versão mais aprimorada do imunizante deve ocorrer gradualmente a partir do próximo ano e após avaliação da CTAI”, diz a pasta em nota.

A substituição não é nova, e é pautada no Brasil desde 2011. Ela é preconizada pela OMS e já foi instaurada em diversos países, como nos Estados Unidos e em nações europeias. A orientação, porém, só é possível devido aos avanços na erradicação do vírus que causa a paralisia infantil, possível graças à gotinha.

No Brasil, o último caso de pólio selvagem foi registrado em 1989. No mundo, o patógeno continua endêmico no Paquistão e no Afeganistão. A meta de erradicar a doença em todo o planeta é considerada hoje uma emergência internacional de saúde pública pela OMS.

Por que trocar vacina de gotinha por injeção?

A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, é uma doença causada pelo poliovírus, altamente contagiosa. O patógeno é transmitido pelo contato entre pessoas, com fezes e secreções de indivíduos infectados ou por alimentos contaminados. O vírus multiplica-se no intestino e pode invadir o sistema nervoso, onde causa os quadros mais graves de paralisia.

A vacina mais utilizada contra o poliovírus foi a Vacina Oral Poliomielite (VOP), a gotinha, também chamada de Sabin por ter sido desenvolvida pelo microbiologista Albert Sabin na década de 1950. Pela facilidade de aplicação, o imunizante conseguiu atingir altas coberturas pelo mundo, eliminando o vírus de diversos países.

No entanto, a vacina é feita com um vírus atenuado, ou seja, enfraquecido, que após a administração é eliminado nas fezes da criança. Ela é segura e eficaz para proteger o indivíduo, mas esse patógeno atenuado pode sofrer alterações antes de ser expelido, o que oferece um risco àqueles que não foram imunizados.

“Em raras ocasiões, quando se replicam no intestino humano, as estirpes da VOP sofrem mutações genéticas e podem propagar-se nas comunidades que não estejam totalmente vacinadas contra a pólio, especialmente nas zonas onde não haja uma boa higiene, onde o saneamento seja deficiente ou onde exista sobrepovoamento (excesso populacional)”, explica relatório da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI, da sigla em inglês).

Além disso, outras mutações podem ocorrer à medida que esses vírus enfraquecidos se propagam entre as pessoas. Embora esses patógenos, chamados de "derivados da vacina" não sejam tão graves quanto o pólio selvagem, nem ofereçam riscos aos imunizados, o temor é que essas alterações o levem a recuperar de forma significativa a capacidade de causar paralisia entre aqueles que não receberam a proteção.

— Falta muito pouco para erradicarmos a pólio no mundo. De 1988 para cá, tivemos uma redução de mais de 99,9% dos casos. Mas com a vacinal oral, o vírus vacinal continua circulando e é exatamente isso que precisamos acabar. Somente dessa forma teremos um mundo livre da pólio — diz o infectologista Leonardo Weissmann, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e membro da Comissão Nacional do Rotary pela Erradicação da Poliomielite, um dos grupos que fazem parte da GPEI.

Já a Vacina Inativada Poliomielite (VIP), aplicada por meio da injeção e desenvolvida pelo cientista Jonas Salk na mesma época do outro imunizante, utiliza um vírus inativado, ou seja, morto. Com isso, não há o risco de ele sofrer mutações e se disseminar.

Essa substituição entre os imunizantes, porém, não é tão simples, uma vez que a gotinha, pela facilidade de manuseio e menor custo, consegue alcançar mais públicos. Por isso, ainda costuma ser privilegiada em cenários de baixa cobertura vacinal para ampliá-la. Além disso, a troca pela versão injetável é orientada pela OMS apenas a países como o Brasil, que não registram casos de pólio selvagem há anos.

Ainda assim, a atual queda na cobertura vacinal entre as crianças brasileiras é um empecilho que deverá influenciar a avaliação dos especialistas da CTAI. Segundo o Vacinômetro do Ministério da Saúde, apenas 75% das crianças com 4 anos – idade em que é indicado atualmente o segundo reforço com a gotinha – receberam a vacina em 2022, longe da meta de 95%.

Ao mesmo tempo que a gotinha pode ajudar a ampliar essa cobertura, a sua continuidade pode oferecer mais riscos às crianças não vacinadas enquanto as metas não são alcançadas, explica Weissman.

— Embora a vacina oral tenha sido de fundamental importância no país durante muito tempo na eliminação da pólio, ela é feita de vírus enfraquecidos. O vírus vacinal sofre mutações e, principalmente nos locais onde a cobertura é mais baixa, como no Brasil atualmente, eles podem levar à paralisia e impedem a erradicação da pólio no mundo — afirma o especialista.

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